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Congelamento de óvulos se torna popular na geração Z; como é o procedimento?

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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ZEISS Microscopy/CC-BY-2.0
ZEISS Microscopy/CC-BY-2.0

Como evidenciado por trends no Tiktok, a geração Z está congelando mais óvulos do que qualquer outra. Um reporte da Autoridade em Fertilização Humana e Embriologia (AFHE) mostrou um aumento de 60% no número de procedimentos do tipo entre 2019 e 2021. Isso é, em partes, por conta da pandemia do coronavírus, mas a tendência de crescimento vem desde que as técnicas melhoraram. Entre 2013 e 2018, o aumento foi de 523%.

Essa melhoria foi refletida em ações como a da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva, que tirou o rótulo de “experimental” do congelamento de óvulos em 2012. Antes disso, a técnica — que surgiu nos anos 1980 — era reservada para casos de condições médicas sérias em mães que gostariam de tentar a maternidade mais tarde.

No Reino Unido, a média de idade para o procedimento é de 37, mas um número alto de jovens abaixo de 25 anos tem optado por congelar os óvulos. No TikTok, muitas mulheres compartilham a decisão, citando entre os motivos “tempo para focar nos objetivos profissionais” e “paz de espírito”. Todos têm algo em comum — tirar o peso do relógio biológico dos ombros, já que, quanto mais velho o ovário, piores as chances de uma fertilização bem-sucedida.

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Certos casos não deixam muita escolha para as pacientes, no entanto, como jovens que acabam descobrindo câncer — nesse caso, como a quimioterapia danifica as reservas de óvulos, podendo deixar a mulher infértil, convém congelar os óvulos antes do procedimento. Há, também, casos de homens trans que decidem congelar os óvulos antes do efeito dos hormônios ou cirurgias de confirmação de gênero gerarem infertilidade.

Como é feito o congelamento dos óvulos?

Para saber mais sobre o procedimento, conversamos com Geraldo Caldeira, ginecologista e obstetra membro da FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) e Médico do Serviço de Reprodução Humana do Hospital e Maternidade Santa Joana. Segundo ele, o procedimento começa com o estímulo da ovulação na paciente através de injeções subcutâneas de hormônio. Elas começam no período menstrual e duram cerca de 10 dias.

Sem as injeções, as pacientes liberam em média um óvulo por mês, por vezes dois, então o estímulo tem o objetivo de aumentar esse número para 10 a 12 óvulos. O procedimento é semelhante ao feito na fertilização in vitro, mas ao invés de coletar e fertilizar diretamente, os óvulos são congelados para a posteridade.

A taxa de sucesso da técnica depende da idade da paciente e da quantidade de óvulos congelados — quando ela é realizada abaixo dos 35 anos e mais de 10 óvulos são preservados, a taxa de sucesso, ou seja, as chances de ter uma gravidez bem-sucedida no futuro é alta, de 60% a 70%. Cada mulher nasce com uma quantidade fixa de óvulos, e, a cada mês, são perdidos cerca de 1.000 em um corpo saudável. Em torno dos 30 anos, 90% deles já se foram de todo o estoque corporal.

Caldeira comenta que, com a pandemia e a conscientização da importância da idade biológica, a explicação para uma maior procura do procedimento é encontrada — e isso é muito positivo, já que uma mulher que decide ser mãe aos 40 ou 50 anos e congelou seus óvulos tem cerca de 3 vezes mais chances de ter uma gravidez bem-sucedida do que uma que faça uma fertilização in vitro.

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Em 2019, cerca de 1 em cada 3 pacientes com óvulos congelados tinha menos de 35 anos, e o número só abaixa. As chances de um óvulo carregar anormalidades cromossômicas é dramaticamente menor durante os 20 anos do que durante os 30, e, em torno dos 40, a maioria terá problemas desse tipo.

Segundo Caldeira, o procedimento é seguro e o índice de complicações é baixo, cerca de 1%. O risco é de haver uma hiperestimulação dos ovários, algo especialmente perigoso nas mais jovens, podendo levar até à depressão.

A hiperestimulação dos ovários também pode acontecer nas fertilizações in vitro — a chance, somada às chances de cada ciclo de congelamento de óvulos, é de 5%. O método, no final das contas, é novidade no cenário da medicina, e ainda não há estudos sobre os efeitos de longo prazo dos medicamentos de fertilidade no corpo da paciente.

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Em alguns lugares, o preço ainda é bastante proibitivo — no Reino Unido, por exemplo, o valor vai de £ 2.720 a £ 3.920 (R$ 17 mil a R$ 25 mil, na cotação atual) para cada ciclo de congelamento, e com o custo de congelar em si ficando em £ 3.350 (R$ 21 mil).

Quanto custa para congelar óvulos no Brasil?

Segundo o Caldeira, no Brasil, algumas empresas oferecem o congelamento como um benefício às funcionárias, com tudo pago ou mediante reembolso. Para congelar do próprio bolso, o preço fica entre R$ 28 mil e R$ 29 mil, com medicações inclusas, e mais R$ 1.000 por ano para deixar o óvulo congelado. Mesmo com o preço alto, a tecnologia tem ajudado jovens e futuras mães — e, com o seu avanço, popularização e desenvolvimento, deverá ajudar essas pessoas cada vez mais.

Fonte: Canadian Medical Association Journal, Human Fertilisation and Embryology Authority 1, 2ONS