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Como saber se a vacina foi aplicada? Pode filmar? Especialistas tiram dúvidas

Por| 25 de Fevereiro de 2021 às 14h14

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CDC/ Unsplash
CDC/ Unsplash

A vacinação contra a COVID-19 teve início em inúmeros países, incluindo o Brasil. Integram o grupo prioritário profissionais da saúde, indígenas e idosos. No entanto, algumas imagens começaram a correr nas redes sociais, mostrando que enfermeiros espetam a agulha no braço da pessoa e retiram sem aplicar o imunizante. A prática antiética acendeu uma onda de receios e questões em torno da vacina. Com isso em mente, o Canaltech procurou especialistas para entender como saber se a dose foi aplicada.

Algumas capitais brasileiras começaram, no final de janeiro, a vacinação de idosos contra a doença. Na época, o país vibrou com o novo passo alcançado na corrida pelas vacinas. No entanto, em meio à campanha, alguns vídeos polêmicos passaram a tomar conta das redes sociais, em que enfermeiros supostamente espetam a agulha no braço de idosos mas não injetam o imunizante.

Os casos tomaram proporções tão grandes, que alguns deles tiveram que ser resolvidos na justiça: o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) passou a investigar a denúncia de aposentada Luciana Jordão, de 57 anos, que filmou o momento da vacinação de sua mãe, Floramy de Oliveira Jordão (88 anos) e questionou a profissional após notar que o líquido continuava na injeção. A enfermeira, na ocasião, chegou a pedir desculpas e então aplicou a dose. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS), a enfermeira foi afastada da campanha de vacinação. Assim como outros casos, o vídeo repercutiu primeiro no Twitter:

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O caso deixou a população desconfiada, e muita gente passou a filmar o ato da vacinação não apenas como uma recordação do momento histórico na luta contra a COVID-19, mas também para certificar-se de que a dose está sendo aplicada de fato. Mas em meio a isso, diversas dúvidas acabam surgindo, e foi por isso que o Canaltech conversou com Lúcia Helena Linheira Bisetto, professora do curso de Enfermagem da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

A profissional recomenda, acima de tudo, que as pessoas peçam para presenciar enquanto o enfermeiro prepara a dose, antes de injetar: "Sugiro que a pessoa solicite ao vacinador que o preparo da dose de vacina na seringa seja realizado na sua presença, para que ela fique atenta durante a vacinação e verifique se a seringa está vazia ao término do procedimento", diz Lúcia. "O paciente deve presenciar todo o processo da vacinação, antes e após a administração da vacina, pois é uma medida que contribui para a sua segurança", completa.

Questionamos também se o profissional precisa usar luva e máscara para aplicar a vacina, porque essa é uma dúvida que muita gente acaba tendo durante a vacinação, ao deparar-se com enfermeiros sem esses itens. "Segundo a Organização Mundial da Saúde, não é obrigatório o uso de luvas para a aplicação de vacinas. Se o profissional optar por usar luva, ela deverá ser trocada a cada paciente vacinado. Na pandemia, como medida de proteção para si e para os outros, todo cidadão deve usar máscara. Assim, durante a vacinação, paciente e profissional devem usar máscara", explica a enfermeira.

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A professora do curso de enfermagem garante, ainda, que todo o material utilizado no Programa de Imunizações do Brasil é descartável, para garantir a segurança do paciente, e que os enfermeiros têm sido orientados a manter as boas práticas da vacinação e segurança do paciente. "Cada serviço de saúde tem seus protocolos de assistência", afirma.

Muitos acham que a seringa precisa estar completa com líquido, mas não é bem assim. "Cada dose das vacinas CoronaVac e Astrazeneca contém 0,5 ml", diz a professora do curso de enfermagem. Além disso, "há seringas de diversas graduações, ou seja, de tamanhos diferentes para serem utilizadas de acordo com a quantidade de líquido a ser injetado".

Por isso, quando a seringa é muito longa, dá a impressão de que está sem líquido, algo que acontece principalmente por causa do espaço morto. "É um espaço residual, entre o canhão da agulha e o bico de encaixe da seringa, onde fica depositado o produto a ser administrado. O líquido nesse espaço permanece após o esvaziamento da seringa", acrescenta Lúcia.

Pode filmar a vacina?

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Questionada se o paciente pode filmar o ato da vacinação, Lúcia garante: "Sim, ele está consumindo um serviço e tem todo o direito de acompanhar o procedimento realizado pelo profissional". De acordo com o advogado e professor da PUC-SP Ricardo Vieira, o paciente não só pode como deve filmar. "Já existem instruções das secretarias estaduais de saúde. Como existe a aplicação em um ambiente público, as pessoas podem sim registrar esse momento. Toda administração pública se deve pautar pela publicidade, então é permitido sim o registro da imagem", afirma.

E caso o enfermeiro não autorize filmar o ato da vacinação, o paciente pode até chamar a polícia. "Se a pessoa se recusar, o paciente pode acionar a polícia militar para fazer valer o direito dela, denunciar na secretaria de Saúde pedindo adoção das providências administrativas contra o funcionário, e também informar o ministério público, porque ele está agindo em desacordo com a determinação da secretaria da saúde", ressalta o especialista. "Em relação à divulgação da imagem nas redes sociais, que extrapola os fins de registro pessoal, tem que tomar cuidado, porque a pessoa que for gravar e divulgar em redes sociais não pode obter lucro com essa divulgação. Por exemplo: se for um YouTuber e monetizar o vídeo", o advogado explica.

Ricardo Vieira alerta, no entanto, que não existe um crime específico por deixar de aplicar a vacina. "Como as pessoas recebem um certificado de vacinação quando tomam o imunizante, em que tem o nome do paciente, o nome do fabricante da vacina, número do lote, é assinado com o nome do enfermeiro e o número do conselho de enfermagem, o enfermeiro que não aplica a vacina, em tese acaba dando uma certidão de vacinação falsa, então responde pelo crime de falsidade ideológica, porque está emitindo um documento que tem uma declaração falsa, já que a pessoa na realidade não tomou a vacina", conclui.