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Como o metaverso impacta a saúde hoje?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 19 de Outubro de 2022 às 12h15

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Prostock-studio/Envato
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Entrei no consultório, disse "oi" para o médico e me dirigi para a maca. Como paciente, a minha queixa era uma dor constante no joelho esquerdo. Para examinar a origem do problema, o especialista tocou no lugar e observou a minha reação. Esta cena hipotética — e um tanto quanto banal — poderia ter acontecido no metaverso? Hoje, a tecnologia disponível não permite este tipo de interação, mas, no futuro, poderemos viver essa forma de imersão, dependendo dos caminhos que a inovação seguir.

Para entender de que forma o metaverso impacta a saúde hoje e como esta área poderá ser revolucionada com o avanço das tecnologias nos próximos anos, a equipe do Canaltech esteve presente, na terça-feira (18), no Digital Day, encontro para a imprensa que aconteceu no Instituto Johnson & Johnson, em São Paulo.

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O que é metaverso

Antes de avançarmos, vale pontuar o que entendemos como metaverso. Entre as definições possíveis, vamos considerá-lo como um sistema que pode gerar uma ilusão poderosa, capaz de enganar o nosso cérebro, com imagens exibidas numa velocidade de 120 Hz.

Além disso, formas de cooperação e interações sociais são um item fundamental para a tecnologia, dando um passo além no que é entendido como Realidade Virtual (VR, em inglês). As simulações de VR tendem a ter velocidade de 75 Hz e a possibilidade de causar mal-estar em alguns usuários é maior.

Aplicações reais do metaverso na área da saúde hoje

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"Hoje, o que limita o uso do metaverso na saúde é o grau de imersão possível" entre pacientes, médicos e cirurgiões, explica Fabricio Campolina, presidente da Johnson & Johnson MedTech Brasil. Pensando no atual uso (2022-2023) e em quais funções a tecnologia está mais preparada, é possível pensar em quatro principais aplicações reais na saúde, como veremos a seguir.

1. Educação de médicos

Muito provavelmente, a principal aplicação do metaverso é a educação de médicos, abrangendo tanto cirurgiões em início de carreira quanto profissionais que devem se atualizar com as novas tecnologias. Para isso, as duas principais tecnologias são: VR para o ensino de técnicas cirúrgicas e telementoria.

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O método padrão para o ensino de um novo procedimento cirúrgico envolve um texto com figuras, descrevendo os passos do procedimento, e sessões de observação de cirurgias feitas em tempo real. Com a tecnologia do metaverso focada no ensino, o médico entra no ambiente virtual e recebe as instruções, enquanto realiza a simulação. É a teoria na prática, mas sem colocar em risco vidas humanas.

Há um grau de realismo e de precisão satisfatórios na experiência. Além disso, "a qualidade do aprendizado é muito melhor e mais rápida" do que em um livro, explica Gildo Matuoka, diretor de educação médica digital na J&J MedTech Brasil. Para o treinamento, já existe uma biblioteca com procedimentos cirúrgicos disponíveis.

O Canaltech experimentou! Durante o encontro, testamos os headsets da J&J na simulação de uma cirurgia por alguns minutos. Na imersão, somos "teletransportados" para um centro cirúrgico e temos à nossa frente o paciente e uma bancada com todos os instrumentos necessários. Era possível se comunicar com a equipe — composta por um médico e dois enfermeiros.

Como a proposta do teste era educativa, os instrumentos cirúrgicos necessários, como o bisturi, eram destacados por cores no metaverso, quando deveríamos utilizá-los. O local da incisão e o movimento correto também eram indicados. Quando pegávamos um novo instrumento, uma leve vibração era sentida, através do controle sem fio, e o item poderia ser passado para outro membro.

Não era possível controlar a precisão e nem a intensidade de cada movimento. Pessoalmente, tive dificuldades em manusear os equipamentos, conforme indicava o aplicativo. Ajeitá-los na mão não é tão fácil quanto pode parecer. Por outro lado, não causou nenhuma sensação de enjoo ou mal-estar.

Para entender o que acabamos de descrever, veja como funciona o treinamento para uma ablação e uma artroplastia de joelho:

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A outra vertente do ensino de práticas médicas é o uso da telementoria, mas que não mergulha os cirurgiões no metaverso — isso porque a experiência ainda é mediada por telas. A proposta é conectar cirurgiões de diferentes localidades, expandido o acesso às práticas e técnicas desenvolvidas em ilhas de excelência. Atualmente, o método que permite o acompanhamento e compartilhamento de orientações cirúrgicas é adotado pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Aqui, estamos falando de um equipamento do tamanho de uma maleta de bordo, que pode ser facilmente transportado. Para compartilhar as imagens em tempo real de uma cirurgia, é usado um modem portátil com 5G, ou seja, não há dependência da estabilidade da rede do centro médico. Duas câmeras são usadas, sendo que uma dá a visão do médico-cirurgião (em movimento) e a outra foca no geral da cirurgia (estática).

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2. Terapia cognitiva-comportamental

Por enquanto, o metaverso oferece algumas soluções na área de terapia cognitiva-comportamental por meio da gamificação. Aqui, entram pessoas com autismo, transtorno do pânico (TP) ou que buscam tratar algum tipo específico de trauma ou fobia. Por exemplo, iniciativas disponíveis podem ajudar quem tem medo de andar de avião ou de falar em público a entrar em simulações do tipo, testando os seus limites. Mesmo que de forma virtual, isso pode ajudar a mente a se adaptar com estes cenários.

3. Tratamento humanizado para crianças

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Para crianças, o uso do metaverso e dos óculos de VR podem ser aplicados através da gamificação de procedimentos médicos. A ideia é propor brincadeiras lúdicas, que auxiliam em momentos "sérios", como a picada de uma agulha na hora da coleta de sangue ou durante o tratamento de pequenos com leucemia (quimioterapia). No instante da dor, seria como se ele estivesse recebendo um superpoder no game imersivo.

4. Ações de marketing

Através de avatares personalizados de executivos e médicos, é possível coordenar ações de marketing na área de saúde, gerando oportunidades para o mundo real. Por exemplo, acordos entre empresas podem ser simbolicamente fechados dentro do metaverso.

É hora de comprar um terreno para o hospital no metaverso?

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Com a ascensão da tecnologia, muitas celebridades e especuladores investiram fortunas na compra de terrenos no metaverso — inclusive, um terreno virtual chegou a ser vendido por R$ 13 milhões no mundo online Decentraland.

Para hospitais e os grandes players de saúde, Campolina explica que "não faz sentido nenhum comprar [terrenos virtuais] neste momento, porque o grau de imersão que se tem, hoje em dia, não cria nenhum valor para os pacientes. Alguém que entende de negócios e tecnologia vai saber diferenciar isso". Basicamente, os investimentos giram em torno da especulação.

E as teleconsultas?

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Como brincamos no começo do texto, a atual tecnologia também não deve impactar a forma de funcionamento das teleconsultas. É o que comenta Campolina: “Na minha opinião, a tecnologia atual não vai melhorar em nada teleconsultas. Na verdade, pode ficar pior. É melhor você fazer uma teleconsulta, usando o Zoom, do que ser colocado dentro desse ambiente". Seria apenas uma distração nada funcional para os pacientes.

No entanto, o presidente da J&J Brasil explica que a tecnologia do metaverso tem um grande potencial em melhorar a experiência das consultas médicas remotas, mas isso somente deve ocorrer daqui a 7 ou 8 anos. “Ainda falta a sensação tátil, que é fundamental", comenta.

Futuro do metaverso na saúde

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Pensar no futuro do metaverso na saúde é um grande exercício de futurologia, já que a tecnologia pode tomar rumos diferentes daqueles imaginados hoje. Entre os principais avanços na área, está um dispositivo que envia sinais para a língua e, com isso, gera a sensação de um beijo ou de tomar água. Cientistas também desenvolveram um braço virtual que pode gerar sensações táteis. E dispositivos rudimentares já provocam sensações que variam entre 8 °C e 30 °C em usuários no metaverso.

A partir dessas possibilidades, é possível pensar que, no futuro, cirurgiões irão operar com quatro braços robóticos, e sem nenhum auxiliar na sala de operações. Na prática, a operação hipotética seria controlada pelos dois braços reais do profissional, e auxiliada por outras inovações no campo da robótica e do metaverso. No extremo, o procedimento seria realizado de forma remota.

Sabe-se que determinadas doenças podem ser identificadas por odores específicos, como o câncer. Se existir um receptor olfativo no ponto de entrada no metaverso, capaz de identificar e transmitir os cheiros captados, o médico poderia sinalizar a necessidade do paciente passar por uma triagem oncológica, antes de apresentar qualquer sintoma clínico, por exemplo.

Para ilustrar as possibilidades do metaverso, Campolina brinca com a ideia de que as ferramentas que temos hoje podem ser comparadas com um celular da década de 1990. Em 10 anos, muito provavelmente, chegaremos a uma tecnologia similar a que temos em nossos smartphones, mas o caminho ainda é longo — só que bastante animador.