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Como nosso sangue é descartado após um exame?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 17 de Agosto de 2021 às 21h20

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Em laboratórios de exames, testes e pesquisas, diversas amostras de sangue são coletadas diariamente. Independente do procedimento que será aplicado nessas substâncias, em algum momento elas precisarão ser descartadas.

Mas você já parou para pensar para onde todo aquele sangue vai e como ele é descartado? Para entender mais sobre esse processo de descarte, o Canaltech conversou com Eduardo Castro, diretor de inovação e marketing da empresa Vyttra Diagnósticos. 

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Castro explica que o processo de coleta do sangue até o descarte é longo. O profissional responsável por coletar as amostras precisa verificar a motivação do procedimento e fazer a higienização correta do local de aplicação da agulha, além das próprias mãos. Uma vez coletada a quantidade necessária, os exames são realizados após o sangue ser encaminhado para o processamento em laboratório.

O sangue também pode ser enviado para ser armazenado sob refrigeração, como conta o diretor. Daí em diante, são realizados os testes e, depois, ocorre o descarte. Castro falou também sobre o tempo em que o material pode ser armazenado: "Depende do tipo de material biológico, do meio conservante (para amostras de sangue, esse meio seria o anticoagulante utilizado na coleta da amostra) e tipo de análise, (bioquímica, hematológica, imunológica, entre outras). Recomenda-se seguir as orientações dos fornecedores dos kits para diagnóstico presentes na instrução de uso, com o cuidado de manter garantida sua integridade e estabilidade", explica.

Por que descartar corretamente?

O profissional contou que é importante descartar o sangue dentro das normativas pois as amostras podem ser consideradas potencialmente infectantes. Sendo assim, se descartadas da maneira certa, os profissionais de laboratório protegem os que são responsáveis pela coleta do material infectante — e também o meio-ambiente e a saúde pública, evitando o surgimento de doenças infecciosas provocadas por bactérias e vírus.

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"Se o descarte de amostras biológicas ocorrer em lixo comum ou em pia ou ralos, os profissionais responsáveis pelo seu manuseio, coleta e destinação final correm risco de infecção, bem como o esgoto pode ser contaminado", diz Castro.

Tanto o sangue quanto qualquer outra amostra biológica, como conta Eduardo, são resíduos pertencentes ao Grupo A, que reúnem componentes que podem contar com agentes biológicos de maior virulência e que podem significar risco de infecção. "Sendo assim, o descarte deve ocorrer de acordo com a RDC nº 222 de 28 de março de 2018 (artigo 49 incisos 1 e 2), que regulamenta as boas práticas de gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde", conta. Com base nas normas, o sangue precisa passar por um tratamento antes de chegar ao esgoto.

Veja o artigo na íntegra

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Art. 49 As bolsas de sangue e de hemocomponentes rejeitadas por contaminação, por má conservação, com prazo de validade vencido e oriundas de coleta incompleta; as sobras de amostras de laboratório contendo sangue ou líquidos corpóreos; bem como os recipientes e materiais resultantes do processo de assistência à saúde, contendo sangue ou líquidos corpóreos na forma livre, devem ser tratados antes da disposição final ambientalmente adequada. § 1º As sobras de amostras de laboratório contendo sangue ou líquidos corpóreos podem ser descartadas diretamente no sistema de coleta de esgotos, desde que atendam respectivamente as regras estabelecidas pelos órgãos ambientais e pelos serviços de saneamento competentes. § 2º Caso o tratamento venha a ser realizado fora da unidade geradora ou do serviço, estes RSS devem ser acondicionados em saco vermelho e transportados em recipiente rígido, impermeável, resistente à punctura, ruptura, vazamento, com tampa provida de controle de fechamento e identificado.

Do laboratório à disposição final

Existem empresas de consultoria em gestão de resíduos que servem para auxiliar nos procedimentos e preparação para descarte. Da coleta do sangue até a disposição correta do material biológico, é necessário que a empresa ou unidade de saúde respeite rigorosamente as seguintes etapas:

  • Segregação;
  • Condicionamento;
  • Armazenamento;
  • Coleta;
  • Transporte;
  • Tratamento e disposição final.
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Segundo o PNSB, Fespsp e ANVISA, o destino final pode ser:

  • 56% dos municípios dispõem seus resíduos no solo;
  • 30% deste total correspondem aos lixões;
  • O restante deposita em aterros controlados, rede municipal de esgoto, sanitários e aterros especiais.

No que se refere às formas de tratamento adotadas pelos municípios:

  • 20% queima a céu aberto
  • 11% incineração
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Vale salientar que, de acordo com o site da empresa VGR Resíduos, as tecnologias como autoclave para desinfecção dos resíduos são adotadas somente por 0,8% dos municípios no Brasil.

De acordo com a Fiocruz, o processo de esterilização por autoclavagem não depende de licenciamento ambiental, e deve ter a sua eficácia registrada com base em controles químico, biológico e periódico. A esterilização ou desinfecção deve modificar as características físicas, químicas e biológicas dos resíduos, reduzindo, eliminando ou neutralizando agentes que podem ser prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. 

Já os sistemas de tratamento por incineração devem obedecer o que diz a Resolução do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), de nº 316/2002, que estabelece normas e critérios para licenciamento ambiental, padrões de controle da poluição ambiental. Sendo assim, o tratamento térmico de resíduos pode significar a emissão de poluentes perigosos que trazem riscos não só ao meio ambiente, como à saúde pública.

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Armazenamento

Antes da coleta, os recipientes com resíduos precisam ser armazenados em ambientes externos e exclusivos, sem serem compartilhados com o que tiver outra finalidade, e serem de fácil acesso a quem for coletar o material. 

Coleta

Depois de os resíduos serem armazenados, os coletores devem usar técnicas de remoção que garantam a preservação das condições em que o material foi descartado, assim como a integridade dos trabalhadores, do meio ambiente e da população. Além disso, a coleta precisa estar de acordo com as orientações estabelecidas pelos órgãos de limpeza urbana e com as normas NBR 12.810 e NBR 14652 da ABNT.

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Disposição final das amostras

Por fim, acontece a disposição final dos resíduos no solo, que precisa estar preparado para esse recebimento com licenciamento ambiental de acordo com o CONAMA, cumprindo critérios técnicos de construção e operação.

Fonte: com informações: Fiocruz, VGR Resíduos