Cientistas recriam crises convulsivas usando mini-cérebros feitos em laboratório
Por Natalie Rosa • Editado por Luciana Zaramela |

O avanço da tecnologia trouxe uma grande vantagem para as pesquisas da área da medicina: a criação de organoides artificiais, que a grosso modo se parecem com mini-cérebros. E a técnica, que consiste em culturas celulares que replicam as funções dos órgãos reais, vem ajudando cientistas a pesquisar sobre uma condição genética que provoca convulsões.
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Com os organoides, é possível estudar o desenvolvimento cerebral, doenças e tratamentos, uma vez são feitos inúmeros experimentos que jamais aconteceriam em um cérebro humano com a pessoa viva. Esses órgãos artificiais são gerados a partir de células-tronco pluripotentes, que crescem em uma variedade de órgãos e tecidos humanos.
Neste novo estudo, então, os pesquisadores encontraram padrões de atividade elétrica que se relacionaram com a convulsão de um organoide cerebral, criado com as células-tronco de pacientes com a Síndrome de Rett, condição genética que provoca convulsões.
Bennet Novitch, neurocientista da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) e um dos autores do estudo, diz que o trabalho mostra que é possível criar organoides que se assemelham ao tecido cerebral humano. "Pode ser usado para replicar, com precisão, recursos da função cerebral humana e de doenças", pontua o especialista.
Fazer o experimento no cérebro é ainda mais difícil, segundo os cientistas, por ser um órgão que sempre está com muitas sinapses acontecendo. Então, foi preciso organizar todos os neurônios e recriar as mesmas oscilações neurais que acontecem no cérebro de um humano. Após a recriação, os pesquisadores usaram sondas elétricas e microscópios eletrônicos de varredura para conduzir um eletroencefalograma, capaz de revelar variados tipos de oscilações neurais.
Ao observarem as oscilações anormais relacionadas à síndrome de Rett, os cientistas adicionaram o medicamento experimental Pifithrin-alpha para remover os sinais de convulsão, com os organoides respondendo ao tratamento. Os pesquisadores comemoram a conquista, dizendo ser um dos primeiros experimentos de testes de drogas em organoides cerebrais.
No futuro, o cultivo de organoides poderá ajudar a substituir o uso de animais em testes, além de aumentar a compreensão da biologia do cérebro humano de doenças neurológicas. O estudo está disponível na revista científica Nature.
Fonte: Science Alert