Cérebro humano armazena várias cópias de uma mesma memória
Por Nathan Vieira • Editado por Luciana Zaramela |
O cérebro humano armazena várias cópias de uma mesma memória. É o que sugere um estudo da University of Basel (Suíça). As descobertas foram publicadas na revista Science no último dia 16. Segundo o estudo, essas cópias são preservadas durante um tempo específico, modificadas e, às vezes, deletadas ao longo do tempo.
O grupo contou com camundongos para entender como as memórias são armazenadas no cérebro e como elas mudam ao longo da vida. A descoberta foi que, no hipocampo (uma região do cérebro responsável pelo aprendizado), um único evento é armazenado em cópias paralelas de memória entre pelo menos três grupos diferentes de neurônios.
Basicamente, esses neurônios emergem em diferentes estágios durante o desenvolvimento embrionário.
Os primeiros neurônios a chegar durante o desenvolvimento são responsáveis pela persistência de longo prazo de uma memória. Nesse caso, a memória é inicialmente muito fraca para o cérebro acessar, mas se torna mais forte com o passar do tempo.
A cópia da memória do mesmo evento criada pelos neurônios nascidos mais tarde é muito forte no começo, mas desaparece com o tempo.
No meio termo, entre os neurônios que emergem entre os dois extremos durante o desenvolvimento, há uma cópia mais estável.
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Alterações da memória
Conforme apontam os cientistas envolvidos no artigo, as memórias armazenadas por um curto período após a aquisição pelos neurônios nascidos mais tarde podem ser modificadas e reescritas.
Ou seja: lembrar de uma situação logo após ela ter acontecido prepara neurônios nascidos mais tarde para integrar as informações dentro da memória original.
Enquanto isso, lembrar do mesmo evento após um longo período prepara os neurônios nascidos mais cedo para serem reativados para recuperar sua cópia.
Capacidade de memória
“A dinâmica com a qual as memórias são armazenadas no cérebro é uma prova da plasticidade do cérebro, que sustenta sua enorme capacidade de memória”, afirma um dos autores, Vilde Kveim, em comunicado divulgado pela própria University of Basel.
Segundo a equipe, a ativação de cópias específicas podem influenciar a forma como nos lembramos, mudamos e usamos nossas memórias.
“O desafio que o cérebro enfrenta com a memória é bastante impressionante. Por um lado, ele precisa se lembrar do que aconteceu no passado, para nos ajudar a dar sentido ao mundo em que vivemos. Por outro, ele precisa se adaptar às mudanças que acontecem ao nosso redor, e assim também nossas memórias, para nos ajudar a fazer escolhas apropriadas para o nosso futuro”, diz Flavio Donato, pesquisador que também assina o estudo.
O mistério das memórias
O cérebro é o órgão mais misterioso do corpo humano, e não é a toa: com o decorrer de vários estudos, a comunidade científica ainda busca compreender como as memórias funcionam e são armazenadas.
Outro estudo publicado na revista Science já chegou a apontar que a memória é composta por duas seções: passado e futuro.
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Fonte: Science, University of Basel