Bactérias podem armazenar memórias e transmitir por gerações
Por Nathan Vieira • Editado por Luciana Zaramela |
De acordo com uma pesquisa publicada na revista científica PNAS, as bactérias da espécie Escherichia coli possuem um sistema de memória que pode ser passado a várias gerações. Não se trata da mesma memória relacionada à consciência humana, mas sim de informações de experiências passadas que influenciam a tomada de decisões atuais.
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Conforme explicam os pesquisadores, as bactérias não têm cérebro, mas podem coletar informações de seu ambiente e, se encontrarem esse ambiente com frequência, podem armazená-las e acessá-las mais tarde para seu benefício.
Nos testes, os cientistas tentaram ver se as células das bactérias em uma placa de petri se agrupariam em uma massa migratória, um comportamento que geralmente indica que as células estão se unindo para buscar eficientemente um ambiente adequado.
Nas experiências iniciais, os investigadores expuseram as células de E. coli a vários factores ambientais diferentes para ver quais as condições que desencadearam esse comportamento mais rapidamente. A equipe descobriu que níveis baixos de ferro foram associados a um agrupamento mais rápido e eficiente, mas níveis mais elevados levaram a um estilo de vida mais estável.
Memória bacteriana
Para as bactérias da primeira geração, esta parecia ser uma resposta intuitiva. Mas depois de experimentar apenas um evento de agrupamento, as células que experimentaram baixos níveis de ferro mais tarde na vida foram ainda mais rápidas e eficientes do que antes.
Essa memória do ferro foi transmitida a pelo menos quatro gerações sucessivas de células-filhas, formadas a partir da divisão da célula-mãe em duas novas células. Na sétima geração de células-filhas, a memória de ferro foi naturalmente perdida, embora pudesse ser recuperada se os cientistas a reforçassem artificialmente.
Os autores do estudo ainda não identificaram um mecanismo molecular por trás do potencial sistema de memória ou de sua herdabilidade, mas sabem que a epigenética desempenha um papel na passagem de configurações biológicas “lembradas” através de gerações de E. coli.
A equipe acrescenta que o ferro está ligado a múltiplas respostas ao estresse nas bactérias, então a formação de um sistema de memória intergeracional em torno dele faz muito sentido evolutivamente. Além disso, um sistema de memória baseado em ferro pode ajudar a E. coli a se adaptar às más condições ambientais ou aos antibióticos.
Fonte: PNAS