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Apressar a aprovação de vacina contra COVID-19 pode ser perigoso; entenda

Por| 02 de Setembro de 2020 às 14h24

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Karolina Grabowska/Pexels
Karolina Grabowska/Pexels

Para o controle da pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2), a principal saída parece ser uma vacina segura e eficaz contra a COVID-19. É para isso que pesquisadores trabalham diariamente, entretanto, não parece ser uma boa ideia acelerar esse processo com emissões de autorização de uso emergencial, como fez a Rússia. Pelo menos, é o que mostra o atual cenário norte-americano.

Nos Estados Unidos, profissionais da área médica e pesquisadores alertam o governo federal sobre planos de se apressar uma vacina contra a COVID-19, antes que os estudos clínicos de segurança sejam concluídos com milhares de testes. Nesse cenário, a atuação da agência FDA (Food and Drug Administration) levanta questionamentos sobre a velocidade de aprovação de algumas fórmulas contra o coronavírus.

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Em recente entrevista para o Financial Times, o comissário da agência federal, Steven Hahn, cogitou considerar a hipótese de uma autorização de uso emergencial nos EUA para uma eventual vacina contra a COVID-19, antes que os testes clínicos de estágio final estivessem completos. Isso desde que os dados preliminares, das fases 1 e 2, apresentassem evidências fortes de que o imunizante poderia proteger as pessoas, sem causar efeitos colaterais.

Mesmo que uma autorização emergencial seja bastante diferente de uma aprovação integral de um medicamento, o comentário levantou um alerta. Afinal, os Estados Unidos enfrentam uma severa epidemia do coronavírus, com mais 180 mil óbitos em decorrência da infecção. Dentro desse contexto, seria possível emitir a autorização temporária de uma vacina, alegando falta de outras alternativas mais adequadas. Além da Rússia, a China já aprovou dois imunizantes desta maneira, mas alguns casos apontam que esse pode não ser um bom caminho.

Há mais de 50 anos

No ano de 1955, o governo dos Estados Unidos anunciou a primeira vacina que imunizava contra a poliomielite, uma doença que afeta os nervos e pode levar a diferentes tipos de paralisia. Na época, bastaram poucos dias para que fossem produzidos milhares de lotes desse imunizante. Entretanto, a falta de cuidados e de fiscalização, provavelmente, levaram a contaminação dessas vacinas com o vírus vivo.

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De outra forma, a campanha que deveria ajudar o país a controlar os casos de polio, principalmente entre crianças, causou um agravamento dos casos. No intervalo entre o início das campanhas de vacinação, a descoberta do vírus e o cancelamento do programa, 200 mil crianças foram vacinadas com um produto não seguro. Vale reforçar que isso aconteceu há mais de 65 anos.

"Quarenta mil crianças contraíram poliomielite. Algumas tinham níveis baixos, algumas centenas ficaram com paralisia e cerca de 10 morreram", afirma o pediatra Howard Markel e professor da Universidade de Michigan para o canal CNN.

Mesmo com o aumento da supervisão, nos anos seguintes, um outro problema foi notado na produção da vacina contra a polio. De 1955 e 1963, há uma estimativa de que 10% a 30% das vacinas contra a poliomielite estivessem contaminadas com o vírus símio 40 (SV40).

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"Eles cultivavam o vírus em tecidos de macacos. Esses macacos rhesus foram importados da Índia, dezenas de milhares deles", explica o antropólogo S. Lochlann Jain. Durante o trajeto para a América, alguns morreram na viagem, mas muitos ficaram doentes por contraírem o vírus (símio 40), aponta o pesquisador.

Na época, as autoridades pensaram, de forma equivocada, que as substâncias presentes na vacina inativariam esse vírus, no entanto, ele foi transmitido para milhões de norte-americanos. Segundo o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças), não há evidências de que essa contaminação tenha prejudicado a saúde da população que foi vacinada, porque esse agente infeccioso não se manifestaria no organismo humano. Independente disso, demonstrou falhas no sistema e mais alguns fatos similares se sucederam ao longo dos anos.

Confiança em crise?

Mesmo com algumas falhas no sistema de desenvolvimento das vacinas no passado, grande parcela do país norte-americano estimulava a vacinação de seus filhos contra a polio, por exemplo. Em parte, porque as epidemias da doença chegavam a paralisar entre 13 mil e 20 mil crianças todos os anos, ou seja, a vacinação poderia compensar eventuais riscos. Pelo menos esse era o pensamento enquanto a doença não tinha sido erradicada do país.

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No entanto, esses eventos polêmicos, a erradicação de algumas doenças graves e informações compartilhadas nos últimos anos levantaram maiores questionamentos sobre a necessidade de campanhas de vacinação e até mesmo questionamentos sobre sua efetividade. Diante desses fatos, Markel taxa atitudes para se apressar a conclusão dos testes de uma vacina contra a COVID-19 sendo "colossalmente estúpidas".

"Tudo o que precisamos é um efeito colateral para basicamente arruinar um programa de vacina, do qual precisamos desesperadamente para combater esse vírus. É uma receita para o desastre", argumenta Markel sobre os possíveis estragos que uma vacina ruim poderia causar para a saúde pública do país.

Entre os principais argumentos contrários a essa aprovação precipitada, estão: a vacina pode não ser segura; e se não for segura, a população poderá perder a confiança nas autoridades de saúde. Em um outro cenário hipotético, a vacina pode não oferecer uma proteção eficaz, criando uma falsa sensação de segurança e gerando, consequentemente, um aumento nos casos da COVID-19 pelo país.

Diante dessas questões, a melhor possibilidade é esperar por um imunizante seguro e eficaz, mesmo que isso leve mais alguns (e fundamentais) meses de pesquisa. Em outras palavras, seria como colocar uma nova fechadura na porta de sua casa, sem saber, exatamente, se ela funciona.

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Fonte: CNN