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Roupas antivirais: entenda como funciona a proteção extra contra a COVID-19

Por| 01 de Setembro de 2020 às 14h20

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Divulgação/Insider
Divulgação/Insider

Por Nathan Vieira e Fidel Forato

Durante a pandemia, toda proteção é necessária. E foi com isso em mente que algumas empresas resolveram colocar em prática o que estivesse ao alcance para fortalecer isso. Ultimamente, a indústria têxtil se dedicou a desenvolver peças antibacterianas e antivirais. No entanto, ao se deparar com esse tipo de vestimenta, algumas questões acabam vindo à tona: quais os materiais responsáveis por essa proteção? Funcionam mesmo? Para trazer as respostas dessas questões, conversamos com as próprias empresas responsáveis por essa inovação, e com especialistas da área.

Tecidos antivirais

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A startup Insider é uma das que têm apostado nessas peças. Em 2020, veio o desafio da pandemia de coronavírus e a Insider foi buscar uma solução para que as roupas pudessem reduzir a chance de contágio. Foram dois meses para desenvolvimento, homologação e certificação das peças. Elas começaram a ser vendidas na segunda quinzena de maio, usando íons de prata, adaptados para agir também como antivirais. As roupas seguem a norma ISO 18184, que regula produtos têxteis antivirais. Com a pandemia da COVID-19, a aplicação dos íons de prata nos tecidos de máscaras e camisetas foi mais intensa e foram necessários mais laudos laboratoriais. O resultado? As peças passaram nos testes realizados pela Unicamp.

“Já trabalhávamos com roupas com tecnologia anti-suor, anti-odor (anti bacterianas) e termorreguladoras. No contexto da pandemia, a maior funcionalidade buscada por qualquer pessoa era ficar segura contra o coronavírus. Por isso, com nosso laboratório de nanotecnologia parceiro, desenvolvemos o tecido antiviral com o qual fabricamos as t-shirts e máscaras antivirais”, conta Yuri Gricheno, sócio da Insider. Ele conta que a equipe participou do processo inteiro, desde a escolha da composição e características do tecido, desenho e modelagem dos produtos, até as tecnologias utilizadas.

Questionado sobre o custo da produção dessas peças, Yuri conta: “Além do custo da tecnologia em si, existe o custo de pesquisa e desenvolvimento, aplicação da tecnologia em tecidos e na certificação e laudos do tecido. Tudo isso exige um alto investimento. No caso das máscaras, por exemplo, a nossa pode ser um pouco mais cara que as de pano, mas ela não precisa ser trocada de 4 em 4 horas. Isso faz com que o cliente não precise adquirir tantas unidades”.

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Yuri reitera que o produto é não citotóxico, por isso não tem contraindicações, nem representa risco à saúde, e que a fixação do produto acontece por meio de uma base vegetal. No entanto, procuramos um dos laboratórios responsáveis por esse material que torna o tecido antiviral: a TNS Nanotecnologia.

O aditivo desenvolvido pela TNS Nanotecnologia permite inativar vírus em superfícies de diversos produtos — o que inclui todo tipo de roupas, filtros e plásticos — dentro de apenas 30 segundos. O produto foi testado e aprovado por estudos conduzidos pela Universidade de São Paulo (USP), pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e pelo Núcleo Vitro.

A solução se baseia na ação de nanopartículas de prata e pode ser usada em larga escala na produção de equipamentos de proteção individual (EPI). Com ação antiviral, bactericida e antifúngica, promete inibir a capacidade reprodutiva dos micro-organismos nocivos a humanos e oferecer também estabilizante orgânico. Os aditivos TNS Nanotecnologia possuem shelf-life de, no mínimo, um ano. Os cuidados de armazenamento são simples como de qualquer outro produto químico não perigoso.

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“Trabalhamos com diferentes soluções voltadas para eliminação de micro-organismos patogênicos. Desde a notícia do potencial da pandemia causada pelo SARS-Cov-2, nosso setor de pesquisa e desenvolvimento, formado por um time multidisciplinar de doutores e mestres, adaptou rapidamente nossas soluções para aplicações contra o vírus”, explica Gabriel Nunes, diretor geral da TNS Nanotecnologia.

Ele afirma que o mecanismo da ação das nanopartículas tem seu princípio baseado no rompimento da camada bilipídica do vírus. Com o DNA/RNA viral exposto ao ambiente, o micro-organismo reduz sua capacidade infecciosa. “Outro possível mecanismo se dá pelo bloqueio da ligação do vírus nas células hospedeiras. A inibição da associação dos receptores entre o vírus e o hospedeiro faz com que não ocorra a adsorção, ou seja, impede a fixação em superfícies. A não-ligação nas células impede que o vírus libere seu material genético (DNA ou RNA) no interior das mesmas, reduzindo sua capacidade danosa”, aponta.

Os testes tiveram início já no mês de março nos laboratórios da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e a validação balizada pelo padrão ISO indica não somente a inativação do coronavírus, como também outros vírus patogênicos, como H1N1, influenza, etc. “Junto ao Instituto de Saúde da USP, recebemos aprovação da tecnologia também para a cepa específica do novo coronavírus”, conclui Gabriel.

Por dentro da química antiviral

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Para entender como as nanopartículas de prata agem contra o coronavírus e de que forma esses materiais são investigados pela ciência, o Canaltech conversou com o químico Murilo Izidoro, que é doutorando da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), especialista em bioquímica e nanotecnologia aplicada à medicina. 

Antes, é preciso lembrar que um nanomaterial tem a dimensão de um bilionésimo de metro, ou seja, sua ação atntiviral chega ao nível atômico. “Se vamos dividindo um material até a nanopartícula de prata, é preciso entender que ela apresenta propriedades diferentes de um bloco sólido desse mesmo metal, por exemplo. As propriedades são diferentes nessa dimensão, sendo mais reativas e apresentam uma alta energia superficial”, explica Izidoro.

É por essas propriedades químicas diferentes de um material rígido que as nanopartículas têm despertado tanto a atenção durante a pandemia da COVID-19, principalmente em tecnologias médicas e vestíveis. “No caso da COVID-19, sabe-se que o coronavírus não é muito resistente aos métodos comuns de sanitização, como o álcool 70% e a lavagem com detergente e água”, comenta o químico sobre as formas de inativação desse vírus.

Em paralelo, “tanto a prata quanto o ouro são materiais que têm uma ação antimicrobiana já muito bem documentada e são utilizados em matérias cirúrgicos [muito antes da COVID-19]. Com o tempo, pequenas quantidades de materiais, na forma de íons, podem ser eliminadas pelo próprio material — e elas por si só têm uma atividade antiviral”, explica Murilo sobre a capacidade que é ampliada em uma reação atômica, como no caso de tecidos antivirais.    

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Isso significa que as nanopartículas, nesse caso formadas de átomos de prata, reagem e conseguem inativar o coronavírus através do contato. “Em comparação, uma nanopartícula de cerca de 10 nanômetros teria por volta de 100 átomos de prata”, detalha o pesquisador. “A nanopartícula, em si, tem um potencial reativo, então, pode interagir com os componentes do vírus”, completa Murilo sobre a capacidade desse metal em mudar, de fato, a estrutura do vírus, inativando-o.

“Esse caminho de adicionar essas nanopartículas em tecidos e dispositivos médicos é muito interessante, porque você não coloca o material em contato direto com o organismo e como são materiais razoavelmente resistentes, você pode reaproveitar o tecido várias vezes, sem a preocupação de que essa característica vai se perder durante as lavagens”, lembra o pesquisador. 

Afinal, quando o contato desse material é direto com o corpo humano, as reações nem sempre estão estabelecidas. É o caso da indústria farmacêutica, que testa diferentes nanopartículas em suas composições, inclusive de prata, para novos remédios e estuda de que forma podem afetar os organismos vivos ou agentes infecciosos. Mesmo assim, as nanopartículas apresentam uma série de vantagens tanto no campo de tecidos e composição de máscaras contra a COVID-19 quanto na área de remédios.   

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“Um fármaco [como um remédio para o HIV] tem uma única via de atuação, como um antirretroviral, que é um medicamento que age sobre a etapa de transcrição do genoma viral. Agora, uma nanopartícula tem vias múltiplas de atuação. No caso das nanopartículas, podem agir sobre as proteínas que estão no capsídeo viral, na parte externa do vírus, sobre o DNA viral ou ainda em outras proteínas na parte interna, por exemplo. O interessante está, justamente, em estudar esses materiais, verificando as melhores possibilidades de evitar resistência a determinados fármacos, como algumas bactérias já apresentam”, explica Izidoro sobre o universo de possibilidade para novos estudos na área.

O importante é se proteger

Além desses produtos, a indústria — com foco no têxtil —  investe em inúmeros produtos dotados dessa capacidade antiviral, através de diferentes materiais e formas de atuação. Se os casos do tecido composto por micropartículas de prata da TNS Nanotecnologia e do desenvolvido pela startup Nanox se tornaram mais populares na pandemia, vale dizer que não são os únicos a conseguir inativar o coronavírus. 

Existem outras estratégias para evitar o contágio do novo patógeno, como tecidos com capacidade de repelir a água e alguns líquidos, por exemplo. Nesses caso, pesquisadores da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, desenvolveram um revestimento que repele o sangue e a saliva, além evitar a aderência de diferentes vírus em sua superfície, como o coronavírus. Assim, uma pessoa não conseguiria inalar as gotículas contaminadas vindas de uma tosse ou espirro.

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Há até alguns tipos de plásticos, como o saco de lixo desenvolvido pela Embalixo, que carrega um agente antisséptico na sua composição e elimina o coronavírus, quando entra em contato com o agente infeccioso através da sua superfície. Ou ainda um spray líquido criado pela startup Visto.Bio, o Visto.Bio Antisséptico, que inativa o vírus da COVID-19, quando aplicado em tecidos ou ainda no próprio corpo da pessoa, sem causar reações alérgicas. 

É importante entender que essas diferentes estratégias só são possíveis porque o coronavírus (e os diferentes tipos de vírus) são seres intracelulares, ou seja, dependem de uma célula hospedeira para se reproduzir e se proliferar. Nesse ponto, qualquer tecnologia que inibir sua capacidade de infecção pode, potencialmente, evitar o seu contágio.