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28% dos idosos em SP não têm celular e se isolam da tecnologia em plena pandemia

Por| 23 de Abril de 2020 às 14h58

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No Brasil, mais de 70% das vítimas fatais do novo coronavírus (SARS-CoV-2) tinham idade igual ou superior aos 60 anos, segundo dados do Ministério da Saúde. Com alguma variação, esse quadro da COVID-19 tem se repetido em diferentes países e, ao lado de doenças pré-existentes como diabetes e problemas cardíacos, a idade é um dos maiores riscos da infecção. Em grande parcela sozinhos e com pouco acesso às tecnologias, como é possível que os idosos se protejam?

Em números, só a cidade de São Paulo tem mais de 1,8 milhão de moradores idosos. Desse total, 290.771 — cerca de 16% deles — vivem sozinhos em suas casas, sendo que 22.680 deles possuem 90 anos ou mais. Sem uma rede de suporte, mais de 8 mil dessas pessoas, por diversas razões, não têm a quem pedir ajuda caso precisem, segundo dados levantados pelo Estudo Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento (SABE).

“É preciso chamar a atenção para essa realidade, sobretudo neste momento de pandemia. Estamos preocupados com os idosos que vivem em instituições [como asilos] por sua alta vulnerabilidade e pelo grande risco de ocorrência de um contágio em massa. Porém, no geral, a situação também não é muito boa, principalmente se levarmos em conta o número de idosos que estão sozinhos em casa em plena epidemia e sem ninguém para ajudá-los”, comenta a professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do estudo, Yeda Duarte, para a Agência Fapesp.

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Desconectados do smartphone

Em tempos de isolamento social, os idosos não devem sair de casa nem para comprar comida ou itens de primeira necessidade. Uma opção seria, então, contar com a ajuda de aplicativos de entrega ou pedir, via WhatsApp, que amigos tragam algumas coisas, mas muitos deles não contam com um smartphone ou não sabem como utilizar direito, quando têm, os aplicativos.

“Na população idosa que reside sozinha [em São Paulo], mais de 80 mil (28,1%) não tem celular ou habilidade para manusear o aparelho, por exemplo. Isso os obriga a sair à rua e descumprir a quarentena, não por teimosia, mas por necessidade. Esses idosos sempre existiram, porém as políticas públicas não deram conta de olhar para eles. Neste momento, a própria pandemia os coloca em evidência”, afirma a pesquisadora Yeda Duarte.

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Assim, é mais que importante que esses grupos vulneráveis possam contar com a solidariedade de vizinhos, tanto nos prédios quanto nos bairros com maior número de casas. Além dessas necessidades mais básicas, é importante que os idosos recebam atenção, o que diminuí a solidão e o risco da depressão. Se não sabem fazer uma videochamada ou acompanhar os grupos de WhatsApp, familiares distantes deveriam voltar a usar o telefone residencial para conversar com essas pessoas.

Quem tem família?

Entre os 1,8 milhão de idosos da cidade, 48% deles moram em casas na companhia com marido ou esposa, além de outros parentes na mesma casa. De acordo com a pesquisa SABE, a maioria dos idosos mora com os filhos e, entre os que não moram sozinhos, apenas 9,6% não residem com seus filhos.

Desse total de idosos, 12% deles dividem a mesma casa com crianças menores de 11 anos e 10,3% moram com adolescentes de 12 a 18 anos. “Os dados mostram que é preciso pensar também nas medidas de isolamento social, levando em consideração a realidade desse grupo de risco para a doença. Não adianta liberar o jovem para trabalhar e a criança para a escola sem considerar que eles podem, ao serem infectados pelo coronavírus e muitas vezes não apresentarem sintomas da COVID-19, infectar outras pessoas, incluindo os idosos dentro de casa”, orienta a professora da USP.

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Doenças pré-existentes

Outro fator de preocupação extra com os idosos são as doenças consideradas de risco, chamadas de comorbidades para a COVID-19. Entre aqueles que moram sozinhos em São Paulo, 63,1% (183.477) têm duas ou mais doenças crônicas simultâneas. Entre as doenças mais comuns, 67,9% (197.434 idosos) possuem hipertensão, 25,4% (73.856) têm diabetes, 22.9% (66.587) apresentam alguma doença cardíaca e 9,3% (27.042) têm doença pulmonar crônica.

De acordo com o SABE, a maioria — o que representa 75,1% do grupo — desses idosos que vivem sozinhos na capital paulista estão em processo de fragilização. Isso significa que são mais suscetíveis a quedas, hospitalizações, incapacidades e óbito precoce, o que os torna ainda mais vulneráveis nesse momento.

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De onde vêm os dados?

Os dados apresentados sobre a vulnerabilidade em idosos do SABE foram levantados com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Para isso, a pesquisa acompanha 1.236 participantes idosos em São Paulo, o que forma uma amostra representativa de toda essa população e permite chegar aos resultados apresentados.

“Vamos observar qual será o desfecho caso alguém seja infectado pelo novo coronavírus. Os idosos que conseguem lidar bem com a doença certamente têm em seu genoma genes protetores e é isso que pretendemos investigar”, comenta Mayana Zatz.

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Além disso, já há o sequenciamento dos genomas dos participantes desse estudo, o que pode, eventualmente, ajudar na identificação de características genéticas e ambientais que os fazem viver mais e melhor, além de se protegerem da COVID-19.

Fonte: Governo de São Paulo