Toshiba vende divisão de chips para consórcio formado por Apple, Dell e outros
Por Felipe Demartini | 28 de Setembro de 2017 às 09h44
A Toshiba anunciou nesta quinta-feira (28) a venda de sua divisão de chips para um grupo de empresas formado por nomes como Apple, Dell, Seagate e outras. O consórcio, liderado pela firma de investimentos Bain Capital, deve liderar negociações no valor de US$ 17,7 bilhões, com data prevista de conclusão até março do ano que vem.
Como parte do acordo, a Toshiba permanece com o controle de 40,2% das cotas da unidade, enquanto a Bain Capital adquire a maioria delas, 49,9%, um montante que será dividido entre as companhias participantes do consórcio. Os 9,9% restantes ficam nas mãos da Hoya Corp, uma empresa japonesa do ramo dos produtos ópticos que fabrica filtros fotográficos, lentes e lasers.
Os detalhes sobre a divisão das ações entre as empresas participantes, entretanto, não foram divulgados, mas o quanto cada uma contribuirá para a compra já pode servir como uma indicação. A SK Hynix, também fabricante de componentes, entra com o maior montante, US$ 3,5 bilhões, enquanto a Bain Capital contribuirá com US$ 1,8 bilhão. As companhias participantes do consórcio também contribuirão com uma parceria de US$ 3,68 bilhões enquanto a própria Toshiba retém um valor de US$ 3,1 bilhões, de forma a manter sua parcela de propriedade sobre a divisão.
De acordo com rumores ainda não confirmados, a empresa de Cupertino estaria entre uma das maiores favorecidas pelo negócio – logo, também devendo ser uma das companhias com maior investimento no negócio. De acordo com as informações divulgadas anteriormente, a Apple ficaria com 20% das cotas vendidas à Bain, enquanto a Foxconn reteria outros 25%.
Neste cenário, entretanto, falava-se de um valor de venda muito maior do que os mais de US$ 17 bilhões anunciados nesta quinta. Provavelmente para fazer um agrado às autoridades regulatórias do Japão, que podem colocar grandes obstáculos à venda, a Toshiba acabou ficando com uma boa quantidade de cotas.
O que é de casa, fica em casa
A ideia é que o governo da Terra do Sol Nascente não via com bons olhos a possível passagem dos negócios de uma das empresas mais tradicionais do país para o capital estrangeiro – e a ideia seria ainda pior quando se percebe o envolvimento de companhias chinesas. Manter uma boa parcela da própria divisão de chips seria uma forma de a Toshiba acalmar legisladores e garantir que investimentos, empregos e tecnologia não deixarão o Japão.
A companhia, entretanto, não entrou nesse mérito, assim como não falou sobre os potenciais desafios legais que podem ser colocados pela Western Digital, que já está em uma batalha judicial para dificultar a venda da divisão de chips. Como parte de um acordo feito em 2000, devido à venda da SanDisk, a empresa americana teria direito e poder de barganha para votar sobre novos negócios relacionados às divisões de chips de memória da Toshiba.
No início da semana, antes mesmo de o negócio com a Bain Capital ser anunciado, a Western Digital já havia revelado que trabalharia para impedir a venda. A companhia afirma não apenas não ter sido consultado sobre a venda, mas também ter visto sua proposta, de valor e condições equivalentes, solenemente ignorada pelos japoneses em prol da concorrência.
Além disso, existem outros interesses relacionados a concorrência em jogo aqui e esse, inclusive, é um dos motivos por trás do interesse de Apple e Foxconn na Toshiba. As empresas desejam reduzir a dependência da Samsung quando o assunto são os chips de memória para iPhones e iPads, ficando livres para fabricar de seus próprios dispositivos e deixando de contar, nos bastidores, com uma de suas principais rivais na frente de mercado.
Tensão energética
O dinheiro oriundo da venda da divisão de chips da Toshiba será destinado, quase que exclusivamente, para esforços de recuperação financeira. A cobertura do prejuízo está relacionada, principalmente, à compra da usina nuclear Westinghouse Electronic, nos Estados Unidos.
Considerado um dos negócios mais atrapalhados feitos por uma empresa de tecnologia nos últimos tempos, a Toshiba se viu com um elefante branco nas mãos quando os custos de fabricação de reatores e produção dos existentes começava a ficar alto demais, na medida em que se reduzia a dependência de eletricidade gerada por usinas nucleares e aumentava o escrutínio de reguladores quanto a questões trabalhistas e de segurança.
O resultado disso tudo foi a abertura de falência pela usina de Westinghouse após 11 anos de operação pelas mãos da Toshiba. As perdas seriam de mais de US$ 9 bilhões, um prejuízo que bateu tão forte nas contas da empresa japonesa que pode levá-la a perder o direito de negociar suas ações na Bolsa de Tóquio caso a situação não seja regularizada em breve. Daí a pressa para fechar o acordo de venda da divisão de chips até março do ano que vem.
Fonte: The Wall Street Journal