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Para juiza, ganhos da Apple com a App Store são "desproporcionais"

Por| Editado por Douglas Ciriaco | 24 de Maio de 2021 às 14h27

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Zhang Kaiyv/Unsplash
Zhang Kaiyv/Unsplash
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A última sexta-feira (21) foi um dia marcante para a briga nos tribunais entre a Epic Games e a Apple. O CEO da Maçã, Tim Cook, testemunhou pela própria companhia para dar sua visão sobre a estratégia da empresa para o consumidor e, mesmo com um tom otimista sobre o modelo adotado, introduziu peças importantes ao tabuleiro enquanto respondia questões da juíza Yvonne Gonzalez Rogers e de advogados que representam a Epic Games.

Foi a primeira vez que Tim Cook testemunhou em um caso legal à frente da Apple, reiterando a importância desse caso na história da companhia. No começo, para explicar o papel que desempenha como CEO, o executivo disse ser responsável por supervisionar a direção estratégica seguida pela companhia, mas isso implica numa “perspectiva de análise limitada” sobre pontos específicos, como a App Store.

Juíza do Tribunal Distrital dos Estados Unidos para o Distrito Norte da Califórnia, Rogers travou uma discussão com Cook para extrair informações sobre a abordagem de lucro da App Store (a comissão de 30% sobre venda dentro de apps). A magistrada queria entender quais motivos levaram a Apple e restringir o método de pagamento sem nem mesmo oferecer alternativas para consumidores ou desenvolvedores.

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“Precisamos de retorno da nossa IP (propriedade intelectual). Temos 150 mil APIs para criar e manter, numerosas ferramentas de desenvolvimento e custos de operação”, justificou Cook. Segundo informações do chefe de desenvolvimento de negócios da App Store Michael Schmid, o lucro obtido de Fortnite, por exemplo, extrapola os US$ 100 milhões.

Para a juíza, o ganho é desproporcional

Rogers acredita que o modelo de negócios adotado pela Apple não foi uma necessidade da companhia, mas sim uma decisão estratégica. A juíza pontuou que aplicativos de serviços financeiros não contribuem com a comissão para a App Store e as vendas feitas em jogos ou serviços estariam subsidiando a plataforma destes apps. Cook, por sua vez, justifica essa diferença simplesmente com o fato de gamers utilizarem a plataforma para adquirir produtos e serviços, enquanto outros aplicativos não oferecem a mesma experiência.

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“Estamos criando um grande comércio na loja e fazemos isso focando na ampliação em audiência por lá. Fazemos isso com vários aplicativos gratuitos e isso traz várias peças para a mesa”, respondeu o CEO, quando questionado sobre a perpetuação do lucro sobre vendas feitas em jogos.

A magistrada, no entanto, acredita que o ganho da Apple sobre desenvolvedores de jogos "parece desproporcional". "Entendo essa noção de como a Apple traz o consumidor para a dança. Mas depois dessa ocasião, nessa primeira interação, os desenvolvedores mantêm os consumidores com o jogo. Para mim, a Apple está só se aproveitando disso", alegou Rogers.

Em defesa do próprio modelo, o CEO discordou. "Apenas aqueles que estão realmente lucrando estão pagando 30% de comissão", disse o executivo.

Não teria sido por pura bondade

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Para a juíza, a Apple não pensou em reduzir para 15% a comissão para desenvolvedores pequenos para minimizar o impacto do COVID-19, mas sim porque a companhia estava na mira de órgãos internacionais. Grandes companhias, como Spotify e Netflix, ainda estariam sujeitas ao valor cheio se optassem novamente ao pagamento nos respectivos apps para iGadgets.

Posteriormente, Rogers introduziu à discussão um estudo cuja conclusão mostrou que 39% dos desenvolvedores estão insatisfeitos com a App Store, mas que a Apple continua inerte. “Não parece que vocês têm competição ou se sentem incentivados a trabalhar para os desenvolvedores ou mudar a forma que vocês abordam as reclamações deles”, comentou a juíza.

Em resposta, Tim Cook afirma que a Apple “se desdobra” para atender as demandas de desenvolvedores. Entretanto, posteriormente, o executivo admitiu que não recebe relatórios frequentes sobre como anda a relação entre a loja e os desenvolvedores que distribuem aplicativos por ela.

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Políticas de análise sem igual

Sobre a abordagem única sobre a análise de aplicativos, o executivo justificou que o ineditismo se dá ao considerar o consumidor como prioridade absoluta. “Eles [concorrentes] não são tão motivados quanto a Apple é. Para nós, o consumidor é tudo. Tentamos ofertar uma solução integrada de hardware, software e serviços”, disse Cook.

A App Store não é perfeita nem aos olhos do CEO — que admite que “nota vários erros sendo cometidos” — mas considerando que há 1,8 milhão de aplicativos na loja, ele acredita que estejam fazendo um bom trabalho. Advogados da Epic Games discordam dessa informação e dizem ser “impossível” manter a distribuição de tantos aplicativos avaliando-os um a um.

“Outras empresas poderiam fazer esse trabalho melhor que a Apple? Você não pode ter certeza disso no iPhone, já que nenhuma outra empresa teve a oportunidade”, questionou um dos advogados. Tim Cook confessa que “esse não seria um experimento que gostaria de fazer”; entretanto, para ele, há outras formas de avaliar essa possibilidade além de abrir o ecossistema de apps do iPhone.

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Tim Cook continuou na posição de testemunha por mais de duas horas — variando entre respostas a questionamentos de advogados da Epic Games, da juíza Rogers e pronunciamentos. O que a magistrada extrairá do testemunho ainda não está claro e, logicamente, pode não estar relacionado às próprias perguntas. Os próximos desdobramentos dessa disputa, como sempre, serão noticiados aqui no Canaltech.

Fonte: MacRumors, Gadgets360