Google é investigado na Europa por supostas práticas anticompetitivas
Por Alveni Lisboa | Editado por Douglas Ciriaco | 23 de Junho de 2021 às 09h10
A Comissão Europeia abriu uma investigação antitruste sobre o Google para analisar se a companhia favorece a si própria na exibição de anúncios. Também está sob foco das autoridades uma suposta limitação do acesso aos dados de usuários para os concorrentes, no intuito de dificultar a competição justa.
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Segundo a agência de notícia Reuters, o mercado de publicidade online do Google gerou US$ 147 bilhões para a empresa em 2020. Essa é a primeira vez que autoridades europeias decidem se aprofundar no modelo de negócio de publicidade da gigante das buscas. O serviço é conhecido como Google Ads e tem como foco a mediação entre anunciantes e sites no oferecimento de anúncios em páginas da web, aplicativos e nos resultados da busca.
“O Google coleta dados usados para fins de publicidade direcionada, vende espaço publicitário e também atua como intermediário de publicidade online. Portanto, o Google está presente em quase todos os níveis da cadeia de suprimentos de publicidade gráfica on-line”, disse, em comunicado, a chefe de concorrência da Comissão Europeia, Margrethe Vestager.
A preocupação é que a empresa esteja dificultando a vida dos rivais ao oferecer serviços incompletos ou reduzir alcances que usam a sua plataforma. “Também examinaremos as políticas do Google sobre rastreamento de usuários para garantir que estejam de acordo com a concorrência leal”, disse Vestager.
A Comissão Europeia quer saber se a exigência de que os anunciantes usem o gestor de anúncios do Google para exibir publicidade no YouTube, por exemplo, seria uma forma de auto favorecimento. Hoje, só consegue publicar no Google Ads quem usa o sistema da própria companhia, com dados, ferramentas e algoritmos próprios.
FLoC sob suspeita da UE
Outro foco é relacionado aos planos para eliminar os cookies de terceiros no Chrome e substitui-los pelos FLoC (Federated Learning of Cohorts), como parte da estratégia de implantação da chamada “Privacy Sandbox”. Essa ação, segundo o Google, visa reduzir a exposição dos usuários a propagandas direcionadas, já que eles passariam a ser classificados em grupos em vez de individualmente, como ocorre hoje.
Empresas do ramo de navegadores e especialistas em segurança veem a iniciativa de modo cético. Isso porque o sistema supostamente teria brechas que permitiria a identificação individual de cada usuário, uma prática chamada de fingerprinting e extremamente perigosa do ponto de vista da privacidade online.
A Mozilla, criadora do navegador Firefox, é uma das principais opositoras a esse modelo. Na semana passada, o CTO da empresa, Eric Rescorla, afirmou que a maneira como o FLoC age possibilita que anunciantes vejam os detalhes de cada pessoa, mesmo que seus comportamentos e histórico de visitas estejam agrupados dentro de um grande conjunto.
No início da semana, a companhia anunciou que vai atuar em conjunto com o governo da Grã-Bretanha na implantação do FLoC. A medida veio no momento em que autoridades do mundo inteiro começaram a pressionar a empresa a revelar detalhes sobre a sua nova inteligência artificial usada para segmentar usuários em grupos anônimos.
Outras investigações em andamento
Além desse processo, o Google é alvo de outra investigação nos Estados Unidos por razão similar. Desde outubro do ano passado, o Departamento de Justiça norte-americano analisa supostas práticas monopolistas da empresa no mercado de publicidade e no seu mecanismo de busca.
A gigante da tecnologia também já foi acusada por questões envolvendo a sua loja virtual de aplicativos, a Play Store, as políticas implementadas no sistema operacional Android e pelo repasse de verbas no seu serviço AdSense.
O Google já foi multado em mais de 8 bilhões de euros (cerca de R$ 47 bilhões) por violações de leis antitruste. Dessa vez, a companhia informou que vai colaborar ativamente com a Comissão Europeia para sanar todas as dúvidas e esclarecer eventuais problemas.
O Canaltech vai continuar acompanhando os desdobramentos dessa nova ação, que pode ter consequências importantes não só para a publicidade online, mas também para o usuário.
Fonte: Reuters, Comissão Europeia