Temperaturas batem recorde no oceano e ameaçam Grande Barreira de Corais
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela | •

Na Austrália, pesquisadores da Universidade de Melbourne descobriram que as águas do entorno da Grande Barreira de Corais atingiram as temperaturas mais altas já observadas nos últimos 400 anos. O aquecimento contribui para o branqueamento dos corais e, possivelmente, a morte futura desse ecossistema marinho tão rico (que pode ser visto do espaço), se nada for feito.
Composta por um labirinto de recifes de corais e centenas de milhares de organismos vivos, a Grande Barreira de Corais se estende por 2 mil km ao longo da costa nordeste da Austrália, cercada pelo Mar de Coral (porção do Oceano Pacífico). Inclusive, é declarada um Patrimônio Mundial pela UNESCO.
No entanto, esse enorme conjunto de corais está ameaçado, como detalham os autores do estudo publicado na revista Nature. Isso porque, neste ano, a temperatura média está 1,73 °C mais quente que a média dos anos anteriores a 1900 (entre 1618 e 1899).
Nesse cenário, o branqueamento dos corais se torna uma reação comum ao estresse provocado pelo calor, que avança conforme as algas (que vivem em simbiose com os corais, fornecendo nutrientes) morrem.
Após um evento do tipo, os corais ainda podem se recuperar, mas ficam mais suscetíveis a doenças. O risco é a temperatura se manter atipicamente elevada por longos períodos, o que poderá causar danos permanentes à Grande Barreira de Corais da Austrália.
Temperaturas recordes no oceano
Para identificar as temperaturas passadas e presentes no oceano, a equipe de pesquisadores australianos usou diferentes recursos, como medições históricas e atuais, além de modelos climáticos.
De forma adicional, analisaram as próprias estruturas (“esqueletos”) de alguns corais para entender como era a temperatura do mar no passado. Assim como as árvores ou os cascos de tartaruga, a observação das camadas dos corais podem indicar características do ambiente na época em que se formou.
Neste caso, a equipe buscou dados associados à temperatura, como a densidade da camada e as quantidades relativas de elementos químicos (como estrôncio).
Assim, foi possível estabelecer uma linha do tempo do clima que vai de 1618 até 1995, durante o pico de calor anual (entre janeiro e março). Como era esperado, as temperaturas estão cada vez maiores, o que está relacionado com a liberação de gases poluentes pelos humanos, como o carbono.
Além do recorde deste ano (1,73 °C mais quente que a média), outros cinco anos recentes também registraram altas temperaturas:
- Em 2016, as temperatura média foi 1,5 °C superior;
- Em 2017, a temperatura média foi 1,54 °C superior;
- Em 2020, a temperatura média foi 1,53 °C superior;
- Em 2022, a temperatura média foi 1,46 °C superior.
Preservação da Grande Barreira de Corais
“É a inevitabilidade dos impactos no recife nos próximos anos que realmente me afeta”, comenta Benjamin Henley, pesquisador da Universidade de Melbourne e principal autor do estudo, em nota.
“Na ausência de uma ação global rápida, coordenada e ambiciosa para combater as mudanças climáticas, provavelmente testemunharemos o fim de uma das maravilhas naturais mais espetaculares da Terra”, acrescenta o cientista.
Com base no novo estudo sobre a Grande Barreira de Corais, a equipe espera que o Comitê do Patrimônio Mundial da UNESCO reavalie a situação deste ecossistema e o classifique como “em perigo”, algo que pode ajudar e estimular medidas de preservação.
Fonte: Nature, Universidade de Melbourne