Por que a capivara virou um bicho tão querido e popular no mundo todo
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
O maior roedor do mundo tem fama de ser fofo, tranquilo e rechonchudo, mas também causou receio nos últimos anos pela sua associação à febre maculosa — é a capivara, um mamífero único à América do Sul que conquistou fãs não só no Brasil, mas por toda a internet. Curiosamente, elas também são queridinhas dos japoneses, que as importam daqui para seus zoológicos.
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Parentes das pacas, preás, cutias e porquinhos-da-índia, as capivaras levam o nome científico de Hydrochoerus hydrochaeris (que significa “porco d’água”), podem chegar a até 1,3 metro de comprimento quando adultas e têm entre 35 e 66 kgs. O nome popular, no tupi-guarani, significa "comedora de capim". Elas são realmente fofinhas, mas será que só isso já explica sua popularidade?
Nesta matéria, vamos destrinchar algumas características da sensação entre os roedores, desde alguns fatos sobre sua biologia e habitat até curiosidades de sua história e comportamento. Para saber mais, o Canaltech conversou com Fábio Hosoi, veterinário formado pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ USP).
A tranquilidade das capivaras
Grande parte do carisma desses enormes porquinhos-da-índia vem do seu aspecto relaxado e tranquilo — seu olhar de aparente sono constante é um bom exemplo disso. Em termos biológicos, a tranquilidade faz parte de seu modo de vida, já que o animal é silencioso e furtivo, geralmente se movimentando devagar e de maneira calculada.
O comportamento tácito das capivaras acaba deixando várias delas dóceis, embora as "personalidades" variem. Algumas não se importam com a presença de humanos e até mesmo se aproximam, bem como de outros animais, incluindo predadores.
Elas já foram flagradas descansando ao lado de jacarés e passando pela cômica e frustrada tentativa de abocanhamento por um pelicano, agindo com toda a tranquilidade do mundo, impassíveis.
Apesar disso, outros indivíduos são mais ariscos, não gostando muito da presença de humanos e de outros animais. Nem todas são amigas de gatos ou cachorros, mas, dentro da própria espécie, as capivaras são bastante sociáveis, vivendo em grupos que vão de 10 a 40 indivíduos.
As mães cuidam dos filhotes de forma comunal, e todo o grupo os cerca para proteção, dando até caronas nas costas na hora de nadar. Quanto aos humanos, Hosoi conta que, caso o grupo esteja acostumado com a convivência, aproximações são possíveis, mas cuidado: os machos mais fortes do grupo tendem a se colocar entre o bando e possíveis predadores, que podem muito bem serem pessoas.
Levando em conta o peso considerável, o roedor pode ser perigoso, já que morde para se defender e é capaz de matar cães de pequeno porte com certa facilidade.
Onde vivem as capivaras?
Além de serem encontradas por todo o Brasil, as capivaras habitam nativamente quase toda a América do Sul, excetuando apenas o Chile, onde os Andes dificultam sua sobrevivência, impedindo que cheguem à costa do Pacífico. Mesmo assim, muitos países importaram espécimes para zoológicos, tornando sua presença mais global, conta o veterinário.
Curiosamente, as capivaras são uma grande sensação no Japão, onde descobriu-se que os grandes roedores adoram as águas termais de banho conhecidas como “onsen”. Muitos zoológicos do país tornam sua visitação a atração principal, realizando competições de qual indivíduo aguenta ficar mais tempo nas águas termais e qual come melancias mais rápido, por exemplo.
Capivaras são diferentes de pacas?
Apesar de muito parecidas e causarem confusão, capivaras e pacas são animais diferentes, mesmo que estejam todos dentro da classificação dos caviomorfos, na qual se encaixam também preás, cutias, maras, porquinhos-da-índia e pacaranas, por exemplo. Taxonomicamente falando, é como a diferença entre cães e gatos, que compartilham sua posição na ordem dos carnívoros, mas são bem diferentes, segundo Hosoi.
Curiosidades sobre as capivaras
Há bastante capivaras em Blumenau - SC
Apesar de não ser oficialmente o animal símbolo ou mascote de Blumenau, há tantas capivaras na cidade catarinense que o roedor passou a ser considerado um símbolo da região, virando mascote do time de futebol Blumenau Esporte Clube (cujo nome é Bequito), por exemplo. A presença de muitos rios e nascentes e ausência de predadores naturais permitiu uma grande população de capivaras na região.
O roedor é bom de água
As capivaras são exímias nadadoras, conseguindo segurar a respiração por até cinco minutos — quando se sentem ameaçadas, elas mergulham e ficam escondidas sob a água até o perigo passar.
Pelo áspero como uma vassoura
Seu pelo, apesar de aparentar ser fofinho, é, na verdade, consideravelmente áspero, já que evoluiu para secar rapidamente. Passar a mão no roedor é descrito por algumas pessoas como “fazer carinho em uma vassoura”.
Que som fazem as capivaras?
Segundo o especialista da USP, as roedoras produzem dois tipos diferentes de som, conhecidos como assovios e latidos, já que lembram o chiado característico que produzimos e os sons feitos pelos cães, respectivamente.
As capivaras transmitem doenças?
As capivaras, quando não infectadas por nenhum patógeno, são animais inofensivos à saúde humana. Recentemente, surtos de febre maculosa ligados ao roedor causaram receio em relação a elas, no entanto — qual o perigo de se aproximar, então?
A questão é que, de acordo com Hosoi, as capivaras podem ser hospedeiras do carrapato-estrela (Amblyomma cajennense), que pode ser vetor da bactéria Rickettsia rickettsii, responsável pela doença. Outros mamíferos também podem carregar o carrapato, como cavalos e cães, por exemplo, não sendo exclusividade das capivaras.
Ao invés de simplesmente temer as roedoras, é melhor conferir avisos de saúde da sua cidade: se houver aviso sobre casos da doença ou presença do carrapato, é melhor evitar o contato com os animais, mas, no caso da ausência de notificações, não é necessária preocupação.
Vale lembrar, no entanto, que, como outros mamíferos, a capivara também pode ser vetor de raiva, leptospirose, leishmaniose, doença de Lyme e outras condições potencialmente mortais, assim como a própria febre maculosa, presente principalmente nos filhotes, já que, após sobreviver à infecção, elas se tornam imunes.
Na dúvida, é melhor segurar a vontade e não se aproximar de capivaras silvestres — prefira tocá-las quando visitar um zoológico que permita a aproximação.
Fonte: Brasília Ambiental, Biopark Nagasaki