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Ondas de calor marcam o clima de 2022: quanto do clima quente o corpo aguenta?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 01 de Agosto de 2022 às 19h40

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Sandsun/Envato Elements
Sandsun/Envato Elements

Ondas de calor extremo têm se tornado um padrão no clima do planeta neste ano: elas são causadas, entre outros motivos, pelo efeito estufa e seu impacto no aquecimento global. Em Portugal e na Espanha, mais de 2.000 pessoas morreram de calor extremo ou incêndios causados por ele, e vários países quebraram recordes de temperatura, como o Reino Unido e o Japão.

Aliado a esses problemas, ainda há outro dado apontado pela ciência: aparentemente, nossos corpos não suportam tanto calor quanto se pensava. O corpo humano consegue se adaptar a climas diferentes ao longo do tempo, e mudanças de temperatura muito súbitas ou que ocorrem em épocas inesperadas — como ondas de calor no inverno — nos atingem com intensidades diferentes.

Mesmo assim, calores absurdos em 2022 como os 45 °C em Wardha, na Índia, ou 49,5 °C em Nawabshah, no Paquistão, são difíceis de aguentar em qualquer circunstância. Segundo cientistas, a exposição humana ao calor extremo triplicou de 1983 a 2016, especialmente no sul da Ásia.

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Temperaturas altas causam cãibras de calor, exaustão e insolação, que pode ser fatal, e a desidratação pode levar a problemas nos rins e coração: o calor ainda pode aumentar a agressividade e diminuir nosso foco. Além disso, problemas estruturais podem surgir em construções e linhas de trem, por exemplo, caso não estejam preparadas para temperaturas muito elevadas.

Como o corpo resiste ao calor?

Há várias táticas utilizadas pelo nosso corpo para se livrar do excesso de calor e deixar a temperatura ideal para seu funcionamento, 37 °C. O coração bate mais rápido, acelerando o fluxo sanguíneo que leva o calor à pele, que é esfriada pelo ar. O arrefecimento evaporativo, ou suor, é outra dessas táticas. Mas há um limite para o quanto podemos aguentar.

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Temperatura de bulbo úmido

Em 2010, pesquisas mostraram que o limite de estresse térmico suportado pelo corpo seria de uma temperatura de bulbo úmido de 35 °C. Essa temperatura depende de uma combinação de umidade e temperatura do ar seca medida por um termômetro: ela pode ser medida ao embeber um pano em água, colocá-lo sobre um termômetro e registrar a temperatura marcada por ele nessas condições.

A temperatura de bulbo úmido de 35 °C pode ser atingida de várias formas diferentes: uma delas é quando a temperatura do ar está a 35 °C e a umidade a 100%; outra, quando a temperatura do ar está a 46 °C e há 50% de umidade. O arrefecimento por evaporação é o responsável por essa diferença. Ao evaporar da nossa pele ou de outra superfície, a água tira energia através do calor e resfriando o local de onde sai.

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Quanto calor aguentamos?

Não há uma medida universal para o quanto nosso corpo aguenta em termos de temperatura: nenhum organismo funciona a uma eficiência de 100%, e fatores como tamanho, idade, habilidade de suar, aclimatização ambiental e clima regional influenciam na conta. Cientistas, então, resolveram fazer mais testes, que incluíram participantes de 18 a 34 anos, e os colocaram em diversos climas controlados.

Em uma câmara ambiental, a temperatura foi mantida constante, e a umidade, variada: em outros momentos do experimento, a umidade ficou constante e a temperatura variou. Os participantes se exercitaram apenas o suficiente para simular atividade mínima fora de casa, como caminhadas e pedaladas leves em uma bicicleta. Foi 1,5 hora de experimentos com medidas de temperatura tiradas da pele com sondas sem fio e pílulas de telemetria engolidas pelos sujeitos.

Em condições úmidas e quentes, a tolerância ao calor medida pelos cientistas numa temperatura de bulbo úmido foi de 30 °C a 31 °C. Um clima seco e quente mostrou números ainda menores, de 25 °C a 28 °C. Um clima muito seco com 10% de umidade, por exemplo, resultaria em uma temperatura de bulbo úmido de 25 °C apenas quando a temperatura do ar estivesse a 50 °C.

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Os cientistas afirmam que ainda há muito a se entender sobre nossa tolerância ao calor, mas que o estudo de 2010 pode ter encontrado — teoricamente — a temperatura de 35º C como sendo o teto de temperatura, e o novo estudo, publicado em fevereiro no periódico Journal of Applied Physiology, o piso que suportamos, ou seja, a margem de erro menor. Vale lembrar que os números vêm de adultos jovens e saudáveis, realizando atividades físicas mínimas.

Ondas de calor pelo mundo

Embora o achado mostre que sofremos perigos maiores do que se imaginava com o aumento de temperaturas no planeta, até 2020 havia poucos reportes de temperaturas de bulbo úmido chegando a 35 °C, mas algumas simulações mostram o limite sendo extrapolado regularmente em regiões do sul asiático e Oriente Médio até 2050.

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Neste ano, a Europa viu o calor chegar com uma força pouco vista anteriormente. No Reino Unido, um recorde foi batido em 19 de julho, quando os termômetros chegaram a 40,3 °C na vila de Coningsby; na França, o calor causou incêndios e evacuações. Em junho, o Japão viu seu pior calor desde 1875, quando a temperatura começou a ser registrada, com 40,2 °C.

China e os Estados Unidos também sofreram, com temperaturas passando dos 40 °C de Xangai a Chengdu e North Platte chegando a 42 °C, Phoenix, a 45,6 °C. Embora ainda não tenhamos chegado no verão, o Brasil já teve um gostinho das ondas de calor: segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), São Paulo teve o mês de julho mais quente desde 1943. A tendência, até o final do ano, é que tenhamos um calor ainda mais intenso.

O que fazer?

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Uma das medidas apontadas por especialistas e já tomadas por algumas cidades pelo mundo — como Sevilha, na Espanha, e Atenas, na Grécia — é monitorar e nomear ondas de calor extremo, o que pode ajudar na conscientização de cidadãos e governos e incentivar medidas para lidar com a severidade da temperatura.

Em 24 de julho, com uma temperatura de 42 °C, Sevilha foi a primeira cidade do mundo a nomear oficialmente o evento, chamado de Onda de Calor Zoe. À medida que o planeta esquenta, nomeações como essa se tornarão cada vez mais comuns, e os alertas quanto às mudanças climáticas ficarão cada vez mais sérios. Resta pensarmos em quais atitudes tomar para aliviar o aquecimento global.

Fonte: Science News, INMET, Journal of Applied Physiology