O que causa a onda de tempestades, chuvas e enchentes no Brasil?
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
Nos últimos dias, fortes tempestades, chuvas intensas, ventos e enchentes têm afetado diferentes pontos do Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro. Já são milhares de pessoas desalojadas ou desabrigadas (aquelas que tiveram as suas casas destruídas) em consequência dos eventos climáticos extremos.
- Enchentes: quais doenças podem chegar com as chuvas?
- Derretimento das geleiras vai causar mais terremotos e erupções no futuro
A explicação por trás do atual cenário meteorológico do Brasil "envolve duas áreas de baixa pressão atmosférica, uma intensa corrente de jato em baixos níveis intensa com ar quente e o encontro de ar mais frio [vindo do Chile e da Argentina] com uma massa de ar muito quente com formação de uma frente fria (frontogênese)", explica a empresa MetSul, em nota.
Alerta de risco do Inmet
Para evitar ainda mais danos e mortes, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu, nesta quarta-feira (17), alertas de risco vermelho — o que deve ser interpretado como "grande perigo" — de tempestades para a porção norte do Rio Grande do Sul e para toda a costa de Santa Catarina. Outras áreas nestes estados recebem alerta laranja, de "perigo".
Amazonas, Roraima, Pará e Mato Grosso também estão sob alerta laranja devido a tempestades. No entanto, o pior relacionado às chuvas torrenciais parece já ter passado no Rio de Janeiro — não há nenhum alerta do Inmet para a região.
Tragédias enfrentadas no Brasil
Para entender melhor o que está ocorrendo no Sul do país, vale mencionar que uma área de baixa pressão em níveis médios e altos (baixa fria) da atmosfera avançou do Chile para o Oeste e o Centro da Argentina, no começo desta semana, seguindo depois para o Uruguai.
Simultaneamente, uma intensa corrente de vento avançou do Norte da Argentina para o Uruguai e o Rio Grande do Sul com ar muito quente. Isso forneceu a energia necessária para instabilizar a atmosfera no ponto de encontro com a “baixa fria”. Em resposta, há a ocorrência de chuva intensa e excessiva, com fortes temporais, além de rajadas de vento e granizo.
Temporal violento em Porto Alegre
Como consequência direta deste fenômeno, a capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, enfrentou um dos piores temporais de sua história recente na noite passada (13) — a situação pode ser comparada com as ocorrências de tempestades registradas em outubro de 2015 e janeiro de 2016, períodos marcados também pelo El Niño, como aponta a MetSul.
Conforme indica o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), em apenas uma hora, choveu na capital mais da metade do que era previsto para todo o mês de janeiro. A precipitação atingiu 76 milímetros contra os 110 milímetros esperados para todo o período.
As chuvas e os ventos fortes provocaram estragos. Tanto é que o fornecimento de energia elétrica foi interrompido em muitos bairros e cinco das seis estações de tratamento de água foram afetadas, colocando em risco o fornecimento de água para cerca de 1,2 milhão de pessoas. Por isso, a recomendação da prefeitura é para que as pessoas fiquem em casa, se puderem.
A seguir, confira imagens feitas ontem (17) na capital:
Ainda no estado, na cidade de Cachoeirinha, ao menos uma pessoa morreu devido às consequências do temporal. Segundo a Defesa Civil estadual, 25 cidades reportaram danos sofridos nas últimas horas por causa do tempo.
Chuvas e enchentes no Rio de Janeiro
No caso do Rio de Janeiro, a situação mais crítica em relação às fortes chuvas foi registrada no final de semana e, agora, as autoridades precisam lidar com os estragos provocados pelas tragédias — mais de 9 mil pessoas estão desalojadas e outras 300 estão desabrigadas, segundo a Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do estado.
Sete municípios já decretaram situação de emergência, incluindo Rio de Janeiro, Belford Roxo, Nova Iguaçu e outros pontos da baixada fluminense. Só que, no total, 37 cidades foram afetadas pelas chuvas e enchentes. Até o momento, 12 mortes foram confirmadas.
Veja registros gravados após as chuvas:
Como se preparar para a crise climática?
Em decorrência do aquecimento global, independente da presença do El Niño, a tendência é que os eventos climáticos extremos se tornem mais recorrentes, como apontam estudos. A proliferação de determinadas doenças também deve se intensificar e novas doenças podem chegar ao país.
Nesta nova realidade, “os municípios precisam se planejar frente à intensificação das mudanças climáticas, inclusive nos [diversos] cenários [possíveis]”, afirmou João Paulo Capobianco, ministro substituto do Meio Ambiente e Mudança do Clima, durante coletiva de imprensa na terça (16).
“É necessário aplicar as projeções de variação da temperatura e do aumento dos eventos climáticos extremos para verificar onde o problema estará amanhã”, acrescenta. Segundo Capobianco, este planejamento e preparo é apoiado também pelo governo federal, além dos poderes municipais e estaduais.