El Niño pode vir com força em 2023. Saiba como ele pode afetar o Brasil
Por Rodilei Morais • Editado por Patricia Gnipper | •
A ONU acaba de divulgar que as chances de o fenômeno El Niño acontecer já nos próximos meses aumentaram, chegando a 60% no período de maio a julho, e crescendo ainda mais até o final do ano. Entre julho e setembro, a probabilidade atinge 80%.
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Por meio da Organização Meteorológica Mundial (World Meteorological Organization – WMO), sua agência especializada para assuntos relacionados ao clima, a ONU informou que os países devem se preparar para temperaturas recorde com a chegada do novo El Niño. Ao longo dos últimos três anos, a Terra passou pelo fenômeno oposto — o La Niña, responsável pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico. Apesar de seu efeito de abaixar a temperatura global, La Niña não impediu o planeta de registrar alguns dos anos mais quentes da história.
Agora, o mundo se encontra em um estado neutro — sem El Niño ou La Niña acontecendo no Pacífico —, mas, se com La Niña o calor dos últimos anos já bateu recordes, a iminência de seu fenômeno "irmão" preocupa cientistas e autoridades. Petteri Taalas, secretário-geral da WMO, declarou que “o desenvolvimento de um El Niño deve levar a um novo pico de aquecimento global e aumentar as chances de recordes de temperatura serem quebrados.”
Um grande El Niño?
O aquecimento nas águas do Pacífico causado pelo El Niño é algo natural e periódico, tendo acontecido pela última vez entre 2018 e 2019. O fenômeno tem implicações para o clima ao redor de todo o globo, tipicamente aumentando as temperaturas médias, mas também causando secas intensas em algumas regiões enquanto leva fortes tempestades a outras.
O último El Niño registrado foi considerado fraco, mas o anterior a ele, entre 2014 e 2016, teve alta intensidade. Seu último ano foi também o ano em que a Terra teve sua maior temperatura média desde que a humanidade tem registros. Para este ano, especialistas da Universidade de Columbia, em Nova York, projetam uma anomalia de 1,54 ºC nas águas do Pacífico — o que colocaria o fenômeno em uma classificação de moderado a forte. Em alguns modelos climáticos, porém, projetam um aumento entre 2,5 e 3 ºC, faixa que meteorologistas chamam de Super El Niño.
O boletim da WMO diz, por outro lado, que ainda é cedo para prever com precisão a duração e a intensidade do próximo El Niño. Pelo menos durante o primeiro semestre de 2023, as previsões tendem ainda a ser mais imprecisas, já que o prazo até a ocorrência do evento climático é maior. De qualquer forma, Taalas afirma que “o mundo precisa estar preparado.”
Como o El Niño afeta o Brasil?
De modo geral, o Brasil apresenta temperaturas mais quentes em todo seu território durante um El Niño. Além disso, o padrão climático se reflete nas chuvas, levando mais precipitação ao sul do país enquanto no Norte e Nordeste elas diminuem.
Além das consequências diretas destes fenômenos — como inundações e alagamentos decorrentes das chuvas e escassez de água oriunda da seca —, o El Niño pode ter impactos econômicos ao afetar diferentes culturas agrícolas no solo nacional. Entre elas, o café apresenta uma baixa devido aos invernos mais quentes, e a alta umidade no Centro-Sul pode prejudicar o ritmo da safra e a moagem de cana-de-açúcar, impactando a produção de etanol.
Por outro lado, a produção de milho e a área de pastagem do gado brasileiro podem ser beneficiadas pelas condições climáticas. Quanto à soja, a tendência é que a produção acompanhe a distribuição das chuvas — maior safra no sul, onde as chuvas aumentam, e safras menores em direção ao norte.
Fonte: World Meteorological Organization; MetSul; BBC