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Indígenas usam sistema de alerta precoce para combater desmatamento na Amazônia

Por| Editado por Patricia Gnipper | 12 de Agosto de 2021 às 13h57

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Unplash/Conscious Design
Unplash/Conscious Design

Além de sua importante biodiversidade, a Floresta Amazônica detém cerca de 123 bilhões de toneladas métricas de carbono. Apesar de todos os esforços das comunidades indígenas, o avanço da destruição desse ecossistema por parte de terceiros compromete cada vez mais este sumidouro natural de CO2. Pensando nisso, pesquisadores desenvolveram um aplicativo para que os membros dessas comunidades detectem precocemente a perda da floresta.

Ao longo dos últimos anos, parte da Amazônia localizada no Peru (cerca de 13% da floresta) tem sofrido com a extração ilegal de madeira, agricultura e o cultivo de coca. De acordo com o novo estudo conduzido pela cientista Tara Slough, da Universidade de Nova York, normalmente, são pessoas de fora das comunidades as responsáveis por esses danos. Slough e sua equipe acreditam que um treinamento da população local para uso de alerta antecipado de desmatamento pode ajudar a reduzir a perda florestal.

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Para desenvolver o programa-piloto da pesquisa, os cientistas acompanharam um total de 76 comunidades indígenas do Peru. Desse total, 36 utilizaram os alertas e o restante funcionou como controle. Três pessoas em cada comunidade foram treinadas para usar o sistema de alerta de desmatamento em um aplicativo de celular, além de patrulhar as florestas e documentar os danos. Durante dois anos, os participantes foram remunerados para atuarem como monitores florestais, recebendo alertas mensais pelo aplicativo quando, eventualmente, dados de satélites acusavam perda da floresta local.

Os monitores florestais, além de investigarem os alertas, também foram os responsáveis por informar suas respectivas comunidades a respeito da perda de floresta. Ao analisarem os mesmos dados de satélites sobre a perda florestal do mesmo período do programa-piloto, os pesquisadores descobriram que o alerta precoce reduziu a perda florestal em 8,4 hectares no primeiro ano — o equivalente a 52% em relação às comunidades de controle. “Essa redução do desmatamento se concentrou nas comunidades que enfrentam a maior ameaça” de perda florestal, acrescentou Slough.

Segundo especialistas, uma abordagem como esta, que combina o monitoramento por integrantes das comunidades com o uso de celulares, parece promissora. Catherine Tucker, pesquisadora da Universidade da Flórida, disse: “Isso funcionaria em todas as comunidades com alto risco de desmatamento? Dados os resultados, vale a pena tentar”, apontando sobre a diversidade de comunidades que existe na região, ou seja, diferentes fatores influenciam o risco de perda e também a capacidade de monitoramento. Além disso, Tucker também destacou que algumas delas podem não ter acesso aos recursos básicos para o programa, como um celular.

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Apesar disso, os esforços de conservação das florestas tropicais em todo o mundo costumam ser caros e demonstram pequenos resultados, disse Krister Andersson, político ambiental da Universidade do Colorado, nos EUA. “Qualquer estudo como este que mostra que algo realmente parece estar funcionando é uma boa notícia”, acrescentou. Andersson também destacou que o estudo poderia ter sido mais útil se tivesse comparado o programa-piloto com outras intervenções políticas de monitoramento florestal.

Francisco Hernandez Cayetano, membro de uma das comunidades envolvidas no programa e presidente da Federação das Comunidades Ticuna e Yaguas do Baixo Amazonas, manifestou o interesse em replicar este esforço em outras comunidades. “Nós, como povos indígenas, pedimos apoio ao mundo”, acrescentou.

Fonte: Scientific American