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Fungos bioluminescentes podem ser a chave para tecnologia de luz natural

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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Ylem/Domínio Público
Ylem/Domínio Público

A bioluminescência é uma característica muito interessante do mundo animal, onde algumas espécies de animais, plantas e fungos brilham por uma série de razões evolutivas. Enquanto alguns desses seres brilhantes só emitam brilho visível sob luz ultravioleta (UV), como os papagaios-do-mar e os arganazes, outros são bastante visíveis aos olhos humanos, como a flor-de-coco (Neonothopanus gardneri), alvo de estudos sobre o assunto. Não confunda o fenômeno com biofluorescência, aliás.

No reino Fungi, a bioluminescência costuma surgir em espécies que vivem em madeira em decomposição ou já podre, e esse fenômeno já é conhecido há milênios. Aristóteles, há mais de dois mil anos, descreveu isso como um “fogo frio” vindo das florestas. A ciência moderna, apesar de toda a tecnologia, ainda não tem certeza sobre as razões desse fenômeno nos fungos, mas um artigo de 2015 jogou alguma luz na questão — polinização.

Fungos luminosos

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Ao estudar o fungo flor-de-coco, pesquisadores descobriram que o processo de bioluminescência da espécie é regulado pelo seu ritmo circadiano, fazendo com que o pico de luminosidade ocorra à noite. Isso permite que mais insetos sejam atraídos, estes que, no escuro, não conseguiriam encontrar o fungo em questão. Para testar isso, a equipe criou cogumelos de LED que imitam exatamente a mesma cor da espécie, além de elaborar cogumelos falsos que não brilhavam, e os posicionaram na natureza.

O resultado mostrou que os insetos eram atraídos para o cogumelo de LED três vezes mais do que aos sem brilho. Essa atração faz com que seja possível dispersar muito mais esporos, o que garante vantagens à flor-de-coco, especialmente em meio à floresta densa, segundo comentou um dos autores, Cassius Stevani, ao The Guardian.

Já o funcionamento da bioluminescência fúngica é um pouco mais conhecido. O brilho é resultado de três substâncias: luciferina, reductase e luciferase, que trabalham em conjunto para produzir a luz. Seus níveis chegam ao máximo durante a noite, coincidindo com o ciclo circadiano dos cogumelos. Cientistas descobriram que um precursor da luciferina está presente nos fungos que não brilham, mas é até 100 vezes mais prevalente nas espécies que acendem à noite.

A luciferina está presente também em outras espécies bioluminescentes, como os dinoflagelados que habitam os mares, mas há diferenças nessa enzima entre o reino Fungi e os outros. A luciferina fúngica, na verdade, não tem relação com outras luciferinas conhecidas, sendo um mecanismo diferente de emissão de luz.

Do ponto de vista da bioquímica, fotoquímica e evolução, isso é muito importante, e ainda abre portas para buscar tipos desconhecidos de luciferase de fungo. Os pesquisadores esperam que, um dia, seja possível criar árvores geneticamente modificadas para emitir luz à noite, agindo, por exemplo, como um tipo de “poste natural” para as ruas. Até lá, teremos de apreciar a luz dos fungos no meio da floresta, assim como fazem os insetos.

Fonte: Current Biology, The University of Chicago, Angewandte com informações de The Guardian