Como lança cravada em cegonha ensinou a humanidade sobre a migração das aves
Por Lillian Sibila Dala Costa |

Por muitas centenas de anos, a ciência — em especial a ocidental — não sabia para onde as aves iam durante o inverno, que no hemisfério norte, é mais severo do que no hemisfério sul, em geral. Na antiguidade, Aristóteles e os gregos antigos acreditavam que os pássaros hibernavam durante o inverno e que algumas espécies trocavam de cor para o tempo frio, e a crença seguiu por milênios.
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Por mais que pareçam bizarras atualmente, essas ideias não chegam nem perto das mais estranhas — o cientista Charles Morton, que viveu no séc. XVII, teorizou que os pássaros voavam para a Lua, levando 60 dias a 201 km/h para chegar ao satélite natural. Não é de se espantar que ainda não houvesse o método científico moderno para comprovar a bizarrice.
História e descoberta da migração
Uma outra noção vinda dos povos do passado, citada na Ilíada de Homero e mais estabelecida pelo escritor Plínio, o Velho, diz que os grous viajavam anualmente para o sul para continuar sua guerra contra os “pigmeus” após um breve descanso da carnificina.
A parte esquisita é que Plínio descreveu os pigmeus como pessoas que montavam em ovelhas para atacar os grous e comer seus ovos, diminuindo a população, enquanto as aves os atacariam em retaliação.
O mistério continuou, permeado por histórias como essa, até que, em 1822, um acontecimento na Alemanha mudou a história. Na vila alemã de Klütz, uma cegonha-branca foi observada com uma lança de 76 centímetros cravada em seu pescoço.
Após capturada, descobriu-se que a madeira da arma era africana, confirmando uma viagem de 3.200 quilômetros desde a África, onde o pássaro foi passar o inverno. Retornando à Alemanha naquele verão, ela foi morta e empalhada.
Outras cegonhas igualmente alvejadas seguiram aparecendo, ganhando o nome de Pfeilstorch em alemão (“cegonha da flecha”, em tradução livre). Apesar de ser um evento desagradável para as aves, ele mostrou aos cientistas do passado o que acontecia com as aves todos os invernos — e desmentiu as interessantes, porém absurdas teorias do passado.
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Fonte: University of Houston