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Cidade Perdida de fontes hidrotermais é um ambiente inédito e ameaçado da Terra

Por| Editado por Luciana Zaramela | 22 de Novembro de 2023 às 14h31

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NOAA Photo Library/Domínio Público
NOAA Photo Library/Domínio Público

Uma “cidade perdida” no fundo do oceano é muito diferente do que qualquer humano esperaria — e não, não é nenhuma estrutura construída pela nossa espécie. Estamos falando de uma cadeia de montanhas submarinas a oeste da Dorsal Mesoatlântica, uma paisagem pontilhada por torres minerais que não tem paralelos em nenhum lugar dos mares já explorados.

As colunas de carbono com textura cremosa ficam com uma coloração azulada fantasmagórica sob as luzes dos veículos operados remotamente (ROV) usados para descobri-las. Seu tamanho varia entre a altura de um cogumelo e monólitos de até 60 metros de altura, e o agrupamento forma o que chamamos de Campo Hidrotermal da Cidade Perdida.

Descoberto nos anos 2000 e ficando a 700 metros da superfície, o ambiente guarda a fumarola mais longeva conhecida, no topo do Maciço Atlantis.

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Cidade Perdida natural

Estima-se que o manto da Terra que formou a paisagem subaquática tenha cerca de 120.000 anos, tendo despontado de camadas inferiores e reagido com a água do mar para jogar hidrogênio, metano e outros gases dissolvidos no ambiente marinho. Nos vãos entre as formações minerais, há hidrocarbonetos que alimentam as comunidades de micróbios do local sem precisar de oxigênio.

As fumarolas locais expelem gases a até 40 ºC, abrigando também espécies de lesmas-do-mar e crustáceos, bem como caranguejos, camarões, ouriços-do-mar e enguias, embora estes últimos sejam mais raros. Outros campos hidrotermais provavelmente existem pelos mares do mundo, mas este é o primeiro — e, por enquanto, o único — que as ROVs conseguiram encontrar.

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Os hidrocarbonetos das fumarolas da Cidade Perdida não foram formados pelo dióxido de carbono da atmosfera ou pela luz do sol, mas sim por reações químicas das profundezas do solo marinho. Hidrocarbonetos, como sabemos, são os “blocos de construção” da vida, então isso quer dizer que a vida na Terra pode ter surgido em um habitat como esse — e não apenas em nosso planeta.

Segundo cientistas, o ecossistema das fumarolas poderia estar ativo em Encélado ou Europa, luas de Saturno e Júpiter, respectivamente, e até mesmo em Marte, durante eras passadas, onde as condições eram diferentes. O ambiente da Cidade Perdida não depende do calor do magma para se manter, diferente de outras candidatas a ambiente originário da vida, as chamadas Fumarolas Negras.

Nelas, são produzidos, em sua maioria, minerais ricos em ferro e enxofre, enquanto a Cidade Perdida produz até 100 vezes mais hidrogênio e metano. Além disso, as fontes hidrotermais de calcita da Cidade Perdida são muito maiores do que as das Fumarolas Negras, também sugerindo que estejam ativas há mais tempo. O maior de seus monólitos se chama Poseidon, por conta do deus grego do mar, chegando a 60 metros de altura.

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Ao nordeste da torre, há uma encosta com pequenos picos de atividade, onde suas fontes, como descrevem os pesquisadores da Universidade de Washington, “choram” fluidos que produzem brotamentos multidirecionais de carbonato (tipo de sal inorgânico), estendendo-se para cima como dedos das mãos.

Em 2018, foi anunciado que a Polônia conseguiu os direitos para minerar as profundezas do mar ao redor da Cidade Perdida. Embora as fontes hidrotermais não tenham minérios de valor para a coleta, destruir os arredores pode ter consequências não intencionais. Detonações ou plumas de fumaça podem acabar varrendo o habitat.

Por isso, cientistas estão pedindo para que a Cidade Perdida seja listada como um Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em busca de protegê-la antes que seja tarde. Ela sobreviveu e trouxe vida para o planeta por milhares de anos — e quem somos nós para destruí-la?

Fonte: Woods Hole Oceanographic Institution, Marine Policy, University of Washington, Smithsonian Magazine