Europa ou Encélado: qual lua tem mais chances de abrigar vida microbiana?
Por Patricia Gnipper |
De acordo com um artigo publicado na Nature Astronomy, a lua Europa, de Júpiter, pode abrigar evidências de vida microbiana mesmo em suas áreas que são mais expostas à radiação severa, sendo que não seria preciso cavar mais de 20 centímetros da superfície congelada para encontrar tais evidências — considerando que elas existam, claro.
Europa abriga um oceano subterrâneo de água líquida (assim como Encélado, lua de Saturno), e é considerado um dos melhores candidatos do Sistema Solar a abrigar algum tipo de vida, além da Terra. "Nós sabemos há muito tempo que a radiação na superfície de Europa é realmente dominante; seria como sentar-se dentro de um acelerador de partículas", explicou Tom Nordheim, cientista pesquisador do Jet Propulsion Laboratory, da NASA, e principal autor do estudo.
Só que Europa tem "plumas" ativas, como se fossem gêiseres de gelo que pulverizam a água subterrânea, que é então liberada por alguns quilômetros antes de cair de volta na superfície. E essa água pode conter micróbios capazes de sobreviver à radiação por um breve período. Justamente por isso, a equipe autora do estudo acredita que seja possível encontrar evidências de vida em Europa por meio dessas fendas em sua crosta — incentivando a agência espacial a manter em seu cronograma uma missão exploratória para a lua joviana.
A ideia seria, além de coletar amostras da superfície, perfurar a crosta por alguns centímetros em busca de evidências de micróbios que não tenham sido expostos à radiação. Dessa maneira, caso se confirme que há algum tipo de vida microbiana em Europa, os cientistas também terão materiais para comparar esses tipos de vida entre a superfície e o interior de sua crosta.
Em 2022, a NASA pretende lançar a Europa Clipper — nova missão com destino ao sistema de Júpiter, mas específico para estudar a lua Europa. Só que há quem acredite que estudar Encélado primeiro seja uma decisão mais inteligente.
Especialista em Saturno vota por Encélado
Ainda que Europa seja uma forte candidata para proporcionar a descoberta de vida fora da Terra, Encélado também está na jogada — e Carolyn Porco, cientista sênior da NASA, defende que a lua de Saturno deveria ser estudada antes da joviana.
Encélado tem apenas 500 km de extensão, também abrigando um oceano líquido subterrâneo. Para Porco, que foi um dos principais nomes por trás da missão Cassini (que estudou Saturno e suas luas recentemente), simplesmente sabemos mais sobre Encélado do que sobre Europa, e isso já seria argumento suficiente para concentrar esforços em uma missão para a lua de Saturno em primeiro lugar, deixando o satélite natural de Júpiter para depois.
Os gêiseres de Encélado liberam água para a superfície do planeta com uma extensão de 500 km acima de sua crosta, porque há pouca gravidade superficial para trazer os jatos de volta. Sendo assim, os jatos da lua de Saturno fornecem uma quantidade maior de material para ser estudado e, além disso, a sonda Cassini foi capaz de voar por meio desses jatos em diversas ocasiões, já possibilitando um estudo prévio a seu respeito.
Graças à Cassini, os cientistas confirmaram que o oceano subterrâneo de Encélado é similar à profundeza dos oceanos da Terra. Ainda, a NASA confirmou a presença de moléculas orgânicas complexas em Encélado, apontando, ainda mais intensamente, para a possibilidade de vida por lá.
Já quanto às plumas de Europa, a ciência ainda não têm certeza se esses jatos de água se originam do oceano subterrâneo (como acontece em Encélado), e também não se sabe se ali há material orgânico. "Nós simplesmente não sabemos muito sobre Europa. Há muita empolgação, mas é especulação neste momento. Sabemos que Encélado proporciona a maior chance de darmos o próximo grande passo", declarou Porco, com o "grande passo" sendo a confirmação de que a vida floresceu em outro lugar além da Terra.
Vale lembrar que não é somente Europa e Encélado que têm oceanos subterrâneos aguardando serem explorados por nós. Ganimedes (lua de Júpiter) pode abrigar também um oceano abaixo de sua superfície, enquanto Titã (lua de Saturno) também tem um oceano próprio. Mas os recursos da NASA são limitados a ponto de a agência não ter condições de explorar tantos mundos de uma só vez, tendo que priorizar projetos de acordo com as chances de eles darem certo.
E o orçamento é outro argumento de Porco para que a NASA priorize a exploração de Encélado no lugar de Europa: como as plumas de água expelidas pela lua joviana são mais curtas, a missão precisaria contar com duas naves — uma orbital, e outra capaz de pousar na superfície. Já no caso de Encélado, suas plumas se estendem por quilômetros no espaço; portanto, somente uma nave capaz de orbitar a lua de Saturno daria conta do recado.
Fonte: Popular Science, ArsTechnica