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PL das Fake News | Pesquisadores defendem órgão autônomo de fiscalização

Por| Editado por Douglas Ciriaco | 08 de Maio de 2023 às 11h01

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Rawpixel/Envato
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O Projeto de Lei 2.630/2020, conhecido como PL das Fake News, estabelece a fiscalização do cumprimento das normas por um órgão regulador específico. Pesquisadores da área de comunicação defenderam que essa autarquia especial deveria ser totalmente independente do governo.

Essa foi a conclusão encontrada em um debate organizado pela Rede Nacional de Combate à Desinformação e pela Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós). “Não há como escapar da discussão sobre o ente regulador”, ressalta o professor e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB) Murilo Cesar Ramos.

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Ramos acredita que o PL deve definir a criação de um órgão similar à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) ou Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Isso chegou a estar presente na proposta, mas acabou retirado para posterior regulamentação. No ordenamento jurídico brasileiro, essas entidades atuam em uma área onde ministérios não vão: regulamentação, fiscalização e autuação em caso de descumprimento das leis.

Quem fiscalizará o PL das Fake News?

No PL das Fake News, o dispositivo que trata das punições estabelece multas que podem chegar a R$ 1 milhão por hora de manutenção de conteúdo indevido. Em casos mais graves, pode haver a suspensão parcial ou total dos serviços no país.

Segundo os pesquisadores, tanto poder não pode ser concentrado nas mãos de políticos partidários, porque isso poderia transformar a entidade em um órgão de perseguição e censura. "Se estamos pedindo regulação, temos que nos perguntar: quem vai regular? Precisamos de uma instância reguladora que seja autônoma", defende o professor da UnB.

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Murilo Ramos lembra a atuação da Anvisa durante a pandemia da covid-19. Na ocasião, o órgão não se submeteu às medidas impostas pelo Ministério da Saúde, como a recomendação da cloroquina para tratamento precoce, e decidiu pela defesa da vacina. O diretor-presidente da Anvisa tem mandato fixo e não pode ser demitido por autoridades sem o devido processo legal.

A principal posição defendida pelos parlamentares hoje é que a Anatel assuma o papel de entidade fiscalizadora, o que dispensaria a elevação de gastos com a criação de um órgão novo. "Se o PL for aprovado, isso vai existir. Ou pode ser algo que já exista, por exemplo, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), a Anatel, ou uma junção das duas. Fato é que vai existir. Porque se não existir um ente regulador será o pior dos mundos. A regulação passa a ser exercida pelo Poder Executivo diretamente ou pelo Poder Judiciário. E isso é um risco", complementa o especialista.

Anatel teria isenção para isso?

Já a pesquisadora da Universidade Federal do Ceará (UFC) Helena Martins defende a criação de um órgão totalmente novo, com mecanismos de participação social e sem interferência do setor privado. Segundo ela, a Anatel costuma tomar decisões favoráveis às empresas de telecomunicações em “momentos polêmicos".

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“Isso aconteceu, por exemplo, em discussões sobre regime público e privado, a neutralidade da rede, sobre radiodifusão comunitária. É possível transformar a Anatel em outra coisa? É possível. Mas colocar a Anatel como ela é hoje nesse lugar é entregar a regulação das plataformas para um setor que tem outros interesses. Vão prevalecer os interesses das empresas de telecomunicação em questões centrais. Seria um equívoco", analisa Martins.

Helena também ressalta a tentativa das empresas de mídias sociais de direcionar o debate público para questões secundárias porque medidas previstas no PL podem afetar economicamente as plataformas. Ela cita como exemplo regras envolvendo a transparência do algoritmo, o sistema de recomendação e o poder de escolha do usuário de ser ou não afetado por conteúdos de terceiros.

"É um modelo de negócio que não é defensável à luz do dia. É baseado em disputa de atenção, em captura de atenção, para converter os usuários em audiência para a publicidade. Não há nenhum compromisso com o interesse público", garante ela.

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Regulamentação x Censura

A pesquisadora cearense ressalta a diferença entre regulamentação e censura. Ela cita que interesses privados nos anos de 1990 impediram um amplo debate sobre o ato de regulamentar a comunicação no Brasil, tentando associar isso à falta de liberdade de expressão.

"Muitos acreditavam que a tecnologia fosse resolver problemas que são eminentemente sociais. E isso fez com que a internet fosse vista como um espaço não regulado: porque é transnacional, porque impediria a inovação. Mas o fato é que não haver regulação pública e democrática também é uma forma de regulação, porque essas atribuições são assumidas pelo setor privado", ressalta.

Curiosamente, Helena ressalta que desta vez as empresas que tradicionalmente são contrárias a qualquer tipo de regulação no setor apoiam o PL das Fake News. Tais empresas de rádio, TV e jornais podem ser beneficiadas economicamente, porque um artigo da proposta exige a remuneração de veículos midiáticos por conteúdos jornalísticos compartilhados nas redes sociais.

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“Elas podem ser beneficiadas economicamente pelo projeto, pois um dos artigos prevê que as plataformas devem remunerar veículos midiáticos que produzem conteúdos jornalísticos e que tem notícias e reportagens compartilhadas nas redes sociais”, conclui Helena.

O Projeto de Lei 2.630/2020 foi retirado de pauta na semana passada e segue sem data definida para votação em Plenário. Novos debates públicos devem ser realizados com representantes das redes sociais, parlamentares, entidades da sociedade civil e especialistas para tratar do assunto.

Fonte: Agência Brasil