Oito perguntas sobre: o site que permite que você publique seu próprio livro
Por Rui Maciel |
Se até pouco tempo o Brasil era considerado um país com baixos indicadores de leitura, o fato é que, nos últimos anos, esse cenário não pareceu mudar muito. Na verdade, até piorou. Na 5º edição da pesquisa "Retratos da Leitura no Brasil" - coordenado pelo Instituto Pró-Livro, desenvolvido em parceria com o Itaú Cultural e executado pelo IBOPE Inteligência - o estudo aponta que o número de leitores no nosso país diminuiu: de 56% para 52% nos últimos cinco anos.
Segundo os parâmetros do estudo, é considerado um leitor aquele que é aquele que leu, inteiro ou em partes, pelo menos 1 livro nos últimos 3 meses. E o "Não leitor" é aquele que declarou não ter lido nenhum livro nos últimos 3 meses, mesmo que tenha lido nos últimos 12 meses. E nessa última categoria, os motivos para não ter consumido uma obra literária foram vários: "falta de tempo" foi a razão dada por 34% dos entrevistados; já "não gostar de ler" ficou em segundo, com 28%; "não tem paciência" levou a medalha de bronze, com 14%. Por fim, "prefere outras atividades" (18%) e "tem dificuldade para ler" (6%), completam a relação.
Outros highlights nada animadores também aparecem na pesquisa: 48% dos brasileiros não leem, um número 4% maior em comparação à última edição de "Retratos da Leitura" (44%); além disso, 22% dos pesquisados afirmam não gostar de ler. Sem contar que a leitura ainda precisa competir com uma série de outras atividades. De acordo com o estudo, a atividade aparece apenas na 11º colocação no ranking do que as pessoas gostam de fazer em seu tempo livre. TV, internet, música, WhatsApp, ver vídeo ou filme, escrever, reunir-se com amigos ou família, redes sociais, ler jornais e revistas e fazer esportes - nessa ordem - estão na frente do hábito de ler um bom livro.
Mas o cenário não está em todo perdido. Ainda segundo o estudo, o brasileiro lê uma média de 4,95 livros por ano, sendo a leitura de 2,55 deles foi finalizada e 0,87 tratou-se de leituras obrigatórias na escola. Esses números são semelhantes ao edição anterior da pesquisa, feita em 2015.
E é pensando nesse público e também em um cenário mais otimista de leitura nos próximos anos que o Clube de Autores aposta. Fundada por Indio Brasileiro Guerra Neto, Ricardo Almeida e Anderson de Andrade, o site afirma ser a maior plataforma de autopublicação da América Latina. Basicamente, ela permite aos autores independentes publicarem suas obras sem tiragem mínima – sob demanda – e sem nenhum custo. Fundada em maio de 2009, a startup nasceu a partir da experiência dos sócios como autores e, hoje, afirma representar cerca de 15% do total de livros publicados no Brasil.
E, em uma primeira olhada no site, o processo parece ser, realmente, simples. No campo "Simule sua publicação", o aspirante a escritor escolhe o tipo de publicação (Ebook e/ou livro impresso), o formato do livro (A5, pocket, quarado ou A4) e outros itens, como número de páginas, tipo de papel, acabamento, etc. Na sequência, ele define quantos exemplares deseja e quanto quer receber por venda. Feito isso, basta clicar em "Simular" e, ao preencher seu nome e e-mail, ele receberá qual será o preço da obra nas livrarias e o custo do exemplar para o autor. Se concordar com as condições, basta clicar em "Publique seu livro gratuitamente" e preencher o cadastro. Tudo feito em poucos cliques.
E é nessa simplicidade proporcionada pela Tecnologia que o CEO do Clube de Autores, Ricardo Almeida, aposta para fazer o empreendimento crescer. Nessa edição do "Oito perguntas sobre", ele fala sobre o mercado de livros no Brasil, a interação os autores com a plataforma e ainda uma razão econômica indiscutível se você reclama que livros são caros demais.
Confira como foi o papo
Canaltech - Historicamente, o Brasil não é um dos países que mais consomem livros no mundo, com títulos vendendo alguns poucos milhares de exemplares já sendo considerados best sellers. Esse cenário está mudando? Quais os desafios que o Clube de Autores enfrenta no atual panorama?
Ricardo Almeida: Nós, às vezes, temos o hábito de nos minimizar como país e como potência. O Brasil tem um mercado editorial extremamente poderoso, com uma média de 5,4 horas semanais dispensada por brasileiro para a leitura. Sim, isso é bem menos que a média de um sueco, que passa 6,9 horas semanais lendo - mas nossa população é 20 vezes maior. O que isso significa? Que o livro é, inclusive economicamente, muito mais importante do que o que costumamos considerar.
E isso tende apenas a melhorar, diga-se de passagem, porque o hábito de leitura está muito maior na população jovem (84% dos brasileiros com 11 a 13 anos se declara leitor, contra 52% da população com 40 a 49 anos).
Nós sentimos esse impacto diretamente aqui no Clube de Autores: nossas vendas crescem de maneira exponencial na mesma medida que mais e mais autores publicam seus livros na plataforma. Apenas para se ter uma ideia, temos hoje cerca de 1.200 novos livros publicados todos os meses aqui - um número bastante considerável e que reflete o apetite do brasileiro por compartilhar histórias.
CT - Como os autores brasileiros veem o sistema de autopublicação atualmente? Ainda há resistência ao uso desta tecnologia?
R.A.: Havia uma resistência à autopublicação lá no passado, quando começamos, em 2009. Com o tempo, esse tipo de preconceito foi diminuindo até desaparecer.
O motivo mais importante para isso é que os benefícios passaram a ser facilmente percebidos pelo autor: ao se autopublicar aqui no Clube, por exemplo, ele define diretamente cada característica do seu livro, determina quanto quer ganhar de direitos autorais, consegue distribuir sua obra física e digitalmente pelas maiores livrarias do mundo e ainda acompanha suas vendas com total transparência.
Essas características podem parecer óbvias para um leigo no mercado mas, se comparadas com o mundo editorial tradicional, são absolutamente disruptivas.
CT - O sistema de autopublicação oferecido pelo site parece ser bastante intuitivo. Na versão impressa, que formatos, tipo de papel e acabamento são so preferidos pelos autores?
R.A.: Temos um conjunto bem grande de combinações que podem ser escolhidas pelo autor incluindo tamanho (A5, A4, pocket e quadrado), acabamento (brochura, capa dura ou espiral), coloração (preto e branco ou colorido) e tipo de papel (offset, polen e couche, de diferentes gramaturas). A maior parte dos autores, no entanto, optam por um formato que passamos a considerar padrão: tamanho A5, acabamento brochura (capa mole com lombada quadrada), miolo preto e branco e papel offset com 75g.
CT - Na questão da precificação, como funciona a cabeça dos autores? Eles cobram caro demais, cobram barato demais, mudam muito de ideia? Vocês dão algum tipo de aconselhamento nesse sentido?
R.A.: A precificação varia bastante de livro para livro e de autor para autor. Na média, o preço de um livro no Clube de Autores (R$ 38) é menor que o preço médio de livro do Brasil (R$ 40). Sempre recomendamos que o autor tenha esses valores como parâmetro, mas que não cometa o erro de achar que, para vender, seu livro tem que ser extremamente barato.
Se o preço é um fator importante na escolha do consumidor - e não há como negar isso - ele também não é o único. A qualidade da sinopse do livro, a atratividade da capa, a recomendação de outros leitores, enfim: há toda uma série de fatores que convergem para a decisão de compra. Até porque, por mais que se repita insistentemente que o livro é caro no Brasil, a verdade é que ele não é. R$ 40, para ficar no valor médio nacional, é muito menos do que se costuma gastar, por exemplo, com uma ida ao cinema - e um bom livro costuma durar muito, muito mais que as 2 horas de entretenimento na telona).
CT - E em relação aos e-books, ainda há algum tipo de resistência a esse formato? Ou ele já vem sendo mais adotado tanto pelos autores, como pelos leitores?
R.A.:Não vemos resistência a ebooks - mas também não enxergamos mais espaço para aquelas previsões fatalistas que pregavam ferozmente que os ebooks substituiriam o livro impresso por completo. Hoje, no Clube de Autores, ebooks representam pouco menos de 20% das nossas vendas - há uma predileção indiscutível pelo formato impresso (mesmo quando fazemos um corte pelas faixas etárias menores). E não vemos muita mudança nisso. Ao contrário: na medida em que os anos vão passando, o que percebemos inclusive é o crescimento maior de impressos do que de ebooks.
CT - Como o Clube de Autores faz o trabalho de divulgação das obras junto às livrarias e e-commerces?
R.A.: Quem define se quer ou não ter o seu livro distribuído é o autor. Do nosso lado, nós oferecemos uma distribuição gratuita e extremamente ampla, em todos os formatos. Livros impressos, por exemplos, são vendidos em livrarias como Estante Virtual, Amazon, Mercado Livre, Submarino, Livraria Cultura e Americanas, além de outras; livros digitais, em praticamente todos os leitores (Kindle, Apple, Kobo etc.). O processo é inteiramente automatizado e extremamente simples.
CT - Quais são os gêneros mais vendidos / procurados no site? Além da publicação e divulgação, o Clube de Autores oferece outros serviços extras?
R.A.: Com um volume tão grande de livros publicados todos os dias, é difícil determinar um gênero específico. Dependendo do mês, o topo da lista pode ser encabeçado por romances, por obras biográficas, por livros infanto-juvenis ou até poesia. Há espaço para todos os gêneros aqui. Mas a imensa maioria dos livros é de autores brasileiros: ainda são, realmente, poucos os estrangeiros que publicam aqui.
Nós criamos, em 2010, um site focado na prestação de serviços editoriais - o www.profissionaisdolivro.com. br . Por lá, todo autor que quiser pode contratar capa, revisão, diagramação, ilustração e praticamente todo tipo de serviço que ele sentir necessidade para publicar o seu livro.
CT - Existem autores até então desconhecidos do grande público - ou mesmo aspirantes a escritores - que se destacaram a partir da autopublicação no site? Há alguma prática ou estratégia em comum?
R.A.: É comum aparecer, aqui no clube, novos autores que, com o tempo, acabam sendo "descobertos". Praticamente todos os meses aparecem casos de escritores que começam a despontar em vendas e recebem propostas de editoras convencionais. Alguns vão, outros seguem aqui conosco - e nós sempre procuramos deixar a decisão a cargo deles, sem exigir nenhum tempo mínimo de permanência, exclusividade ou nada do gênero.