Dispositivo simula funcionamento de órgãos e doenças em conjunto
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Pesquisadores criaram um sistema para simular qualquer doença humana, capaz de mostrar a progressão em múltiplos órgãos e onde é possível testar a eficácia de tratamentos novos. É um dispositivo com microfluidos, uma forma de evolução natural das culturas celulares in vitro (ou seja, fora do corpo humano), já que envolve várias culturas em um ambiente compartilhado.
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O nome do novo aparelho é Lattice, e ele contém oito placas com células cultivadas que representam órgãos diferentes. Canais e bombas levam sangue até cada setor para alimentar as culturas, sendo possível controlar quando flui e para onde. Isso permite a análise de quais órgãos estão originando a doença e quais são afetados por conta do problema, bem como a eficácia de remédios para parar esse avanço.
Simulação em favor da medicina
A nova tecnologia é um avanço considerável na maneira de entender o funcionamento do corpo humano e sua reação a doenças e remédios. Quando algo acontece no corpo, segundo os cientistas, é difícil saber qual órgão conversa com outro em cada situação específica — atualmente, as placas para cultivo celular só suportam um ou dois tipos de célula, limitando a pesquisa. Com o Lattice, é possível imitar muito melhor o que ocorre no organismo, simulando vários órgãos simultaneamente.
Além de permitir cultivar até oito tecidos orgânicos ao mesmo tempo, o dispositivo também os mantém vivos por longos períodos, ajudando a refletir melhor o tempo de reação e interação entre órgãos. Como as culturas comuns não duram por muito tempo, era difícil testar a progressão longa de certas doenças. Com o bombeamento de sangue simulado pelo aparelho, a duração dos estudos foi bastante prolongada.
Para testar o Lattice, os cientistas começaram a estudar a síndrome dos ovários policísticos, na qual o órgão é impactado por desequilíbrios hormonais. Não se sabe exatamente o que causa a doença e o quanto ela impacta outros órgãos, e é aí que o aparelho brilha.
É possível controlar qual cultura celular “gera” a doença — em um dos experimentos, seria possível ver como a síndrome afeta o fígado, ou o rim, ou os músculos. Outra análise poderá ver se a alta insulina relacionada à patologia é o que afeta os outros órgãos.
Segundo os pesquisadores, esse é um intermediário inédito nos métodos de testar medicamentos, que, antes, ficavam entre o teste em animais e em humanos. Agora, será possível testar fármacos aprovados em animais no Lattice antes de chegar aos humanos, ou mesmo abandonar testes em animais — algumas vezes, o teste clínico final acaba falhando quando o remédio é aplicado em nosso organismo. Com a tecnologia, temos mais uma “checagem de segurança” antes de receber medicamentos no corpo.
Fonte: Lab on a Chip, EurekAlert!