Brasil está mais perto de começar a produzir hidrogênio verde
Por Wyllian Torres • Editado por Rafael Rigues |
Enquanto o aquecimento global é impulsionado pelo uso de combustíveis fósseis, diversas iniciativas do setor energético se concentram na produção do chamado hidrogênio verde, que não polui o meio ambiente. Os desafios tecnológicos e científicos são muitos, mas o Brasil tem avançado em direção a esta fonte de energia limpa.
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Há algumas décadas, diversos laboratórios do mundo se dedicam a produção do hidrogênio verde, mas, no Brasil, esta é uma área relativamente nova. No entanto, dentro de seis meses, o país iniciará um importante passo neste caminho, por um projeto desenvolvido pela Universidade de São Paulo (USP).
Sob financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e da Shell, o Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa da USP iniciará as atividades com uma máquina produtora de hidrogênio verde a partir do etanol e da água.
O coordenador do centro e cientista referência na área de bioenergia, Marcos Buckeridge, explica que a máquina será instalada na USP, próximo à raia olímpica, onde será conduzida a primeira parte do projeto. Depois, o objetivo é preparar três ônibus do campus universitário que serão abastecidos pelo hidrogênio verde.
Segundo Buckeridge, a grande inovação está no etanol usado como matéria-prima para obtenção do hidrogênio, tornando a tecnologia pioneira em termos mundiais. O projeto almeja zerar as emissões na produção de cana-de-açúcar ou "até torná-la negativa em termos de emissões", acrescenta o cientista.
Só é considerado verde o hidrogênio cuja matéria-prima para sua produção venha de fontes renováveis ou de biomassa, como o etanol. O hidrogênio já usado por muitos veículos no mundo é chamado de “cinza”, pois é produzido a partir de gases naturais.
Ampliando as possibilidades
Até o fim do ano a EDP Brasil, uma das empresas líderes nacionais do setor energético, planeja inaugurar sua primeira planta-piloto de produção de hidrogênio a partir da quebra de moléculas de água na capital do estado do Ceará, Fortaleza. O investimento previsto é de R$ 41,9 milhões.
Este projeto, realizado em parceria com grupos de pesquisa e da iniciativa privada, é apenas um dos 17 projetos cearenses de produção de hidrogênio verde. Em 2023, começará a construção da planta de produção da Cactus Energia Verde, cujo meio para obtenção do hidrogênio verde é um pouco diferente do desenvolvido pela USP.
Na tecnologia da USP, o etanol “entra de um lado e sai hidrogênio do outro”, mas diversas reações precisam ser controladas nesse processo. Além disso, ao final da operação sobra monóxido de carbono — um dos principais gases de efeito estufa (GEE). Buckeridge explica que uma das alternativas para o armazenamento adequado do monóxido de carbono é usar o gás nas hortas da própria universidade, pois os vegetais, através da fotossíntese, absorvem o carbono para crescer.
Outra possibilidade para armazenar o carbono, acrescenta Buckeridge, é enterrá-lo em locais próximos às usinas, a até 4 quilômetros de profundidade. "O carbono, neste caso, vai reagir com outras substâncias e ficar inerte", explica. Este método já é usado por outras iniciativas globais.
Já o projeto do Ceará, será baseado na quebra de moléculas de água. Para tal processo, a energia solar será usada para movimentar os equipamentos necessários, sem gerar nenhum poluente ao final do processo. Os resultados parecem promissores, mas ainda há um longo caminho de desafios tecnológicos a serem superados até que a produção em larga escala de hidrogênio verde seja alcançada.
A Agência Internacional de Energia Renovável diz que até 2050 o hidrogênio verde será responsável por até 12% da necessidade energética global. Se a neutralidade de carbono for atingida em toda a cadeia de produção do novo combustível, o impacto na redução das emissões globais de GEE será de até 20%.
Fonte: Estadão