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Análise | Super Mario 3D All-Stars revive clássicos, mas quase não os celebra

Por| 29 de Setembro de 2020 às 09h41

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Divulgação/Nintendo
Divulgação/Nintendo

A cada geração de vídeo games, e principalmente nas antigas, em que éramos mais jovens e descompromissados, são incontáveis os títulos que alcançam o patamar de clássico, seja por sua qualidade ou por inovar em conceitos. Poucos, entretanto, podem ser citados como jogos que mudaram as coisas, estabelecendo paradigmas para tudo o que viria depois e iniciando efetivas novas eras na indústria. Nesse quesito, a Nintendo tem algumas disrupções para chamar de suas.

Plataformas mudam, controles também, e nem sempre é possível carregar na bagagem os títulos clássicos. Sendo assim, em tom de comemoração e com uma clara intenção de tornar best-sellers, novamente, aqueles títulos que já tiveram esse caráter em seus lançamentos originais, a Nintendo anunciou a Super Mario 3D All-Stars, coletânea que traz três dos maiores games recentes do encanador mais famoso do mundo, sem tirar nem pôr, algo que acabou se tornando, ao mesmo tempo, a beleza e também a maldição deste pacote.

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O nome da clássica coleção que, nos idos do Super Nintendo, refez e trouxe de volta os primeiros jogos do protagonista para Nintendo, é praticamente a única coisa que associa o pacote passado e este. Não temos um remake dos jogos passados e, em alguns casos, nem mesmo uma remasterização, no máximo uma atualização gráfica e de controles. De um lado, está a ideia da produtora em preservar os aspectos que tornaram estes jogos clássicos absolutos, de outro, a noção de que a companhia investiu pouco no kit. Quando se joga, percebemos que os dois lados possuem um bocado de razão.

Pequenos retoques (ou nem tanto)

Super Mario 3D All-Stars reúne os três maiores títulos do protagonista na era tridimensional: Super Mario 64, de 1996, é o carro-chefe e, também, o criador de paradigmas que citamos no início; sua sequência, Super Mario Sunshine, de 2002, veio para adicionar um mundo maior e mais fluidez a controles e jogabilidade; enquanto Super Mario Galaxy, de 2007, é, na opinião deste que vos escreve, o ápice da empreitada 3D do encanador e, também, um dos jogos mais divertidos e belos de todos os tempos. Eles estão aqui com o máximo de sua essência preservada, tirando, claro, as adaptações necessárias para que rodem no Switch.

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Isso se traduz, logicamente, em mudanças no controle, que são sentidas, principalmente, no último. Os sensores de movimento do Switch não são iguais aos do Wii, enquanto o console atual, por si só, tem um caráter diferente devido a seu elemento portátil. Adaptações, então, foram necessárias, com o jogador arrastando o dedo pela tela para coletar estrelas ou, caso esteja usando o Pro Controller, tendo de usar de forma um tanto incômoda a tecnologia de motion do acessório. Quando se usa os Joy-Cons separados, um em cada mão, porém, a experiência é a mais próxima possível da original.

Nos outros dois, as mudanças são ainda menores, com títulos que usam tecnologias tradicionais de jogabilidade. E em todos, temos uma melhoria gráfica perceptível, principalmente em Sunshine e Galaxy, mas que também é aplicada a Super Mario 64, de forma que os serrilhados e arestas cortantes sempre disponíveis em jogos retrocompatíveis não deem as caras aqui. Até funciona, apesar de o game para Nintendo 64 não apresentar resolução 16:9, resultando em bordas pretas que incomodam de início e desperdiçam espaço precioso na tela.

Além disso, chama a atenção de maneira igualmente incômoda o fato de as cutscenes de Super Mario Sunshine não terem sido remasterizados, com a resolução e aspecto lavado de um arquivo de vídeo de duas gerações para trás contrastando com um título colorido e com um estilo visual peculiar. Galaxy, por outro lado, pode muito bem ser posicionado, nesta nova versão, ao lado de muitos jogos construídos para essa geração, mesmo. Jogar o título no Switch, mesmo quando conectado à televisão, é uma experiência das mais bonitas que a plataforma pode proporcionar, mas aqui, os aplausos são voltados ao game original em si, que só aparece melhorado em seus aspectos básicos. É, basicamente, a ideia daquilo que já era belo no Wii se tornando belíssimo no console atual.

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O problema é que Super Mario 3D All-Stars para por aí, e com exceção da adição de um player de trilhas sonoras com direito ao primeiro lançamento das músicas de Sunshine e a estreia ocidental das faixas de Galaxy, não há nada de novo aqui, muito menos de homenagem. É quase como se a Nintendo soubesse que os jogos têm força o suficiente para se sustentarem por si só, mesmo décadas depois de seu lançamento original — é verdade, mas também pode soar pobre e descuidado.

Faca de dois gumes

Como dito, analisar os aspectos que envolvem a coletânea é, sempre, falar de uma balança que pende para os dois lados, dependendo daquilo que tem mais peso para cada jogador. Para quem nunca jogou, ou àqueles que experimentaram os títulos em locadoras ou não possuem mais os velhos consoles, ter Super Mario 64, Sunshine e Galaxy ao alcance de um clique, em uma plataforma atual que pode ser levada para qualquer lugar, é motivo o bastante para fazer valer o preço cheio da coletânea.

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É, também, a ideia da Nintendo, que revisita, aqui, boa parte da sua história e a apresenta para novatos e veteranos exatamente como ela se desenrolou no passado já distante. É um nível de preservação e respeito ao passado que a empresa demonstra pouco, enquanto tenta coibir sites de emulação e iniciativas de atualização da parte dos fãs, ao mesmo tempo em que, para esses próprios, mascara a verdadeira intenção da companhia, que seria lucrar sem ter trabalho, novamente, apostando na força destes clássicos.

Ninguém é ingênuo em achar que ganhar dinheiro não é um objetivo, claro, mas os argumentos sobre a falta de carinho não deixam de fazer sentido, principalmente quando olhamos para Super Mario 64. De todos, o mais clássico e, também, o que envelheceu pior e mais necessita de um retrabalho, não em termos de remake ou até mesmo de remasterização, mas de readaptação. A câmera, que não era um problema, passou a ser, e por mais que o título encante, não dá para deixar de notar o subaproveitamento da tela durante toda a experiência, enquanto a adequação da resolução permitiria que víssemos ainda mais desse mundo fantástico.

Outros aspectos menores também não receberam a atenção que deviam, como a precisão do esguicho de água de Super Mario Sunshine, que se tornou meio maluca com os analógicos mais sensíveis do Switch em relação ao GameCube, ou o desafio extra adicionado às corridas com arraias de Galaxy. Os Joy-Cons não são tão precisos e parecem ter certa dificuldade em detectar o giro no pulso do usuário, o que fez com que as fases já notoriamente desafiadoras do original se tornassem ainda mais neste relançamento.

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As críticas quanto à urgência criada por este lançamento limitado, junto com a ideia de que os títulos receberam poucas melhorias reais, sendo apenas tão incríveis quanto sempre foram, procedem, mas não apagam o brilho desta coletânea. Afinal de contas, estamos falando de jogos absolutamente clássicos e, mais do que isso, atemporais, aspectos que falam por si só e tornam Super Mario 3D All-Stars uma aquisição necessária aos fãs do passado e do presente, que podem revisitar a história ou, então, conhece-la finalmente, de maneira acessível e direta, bem como da maneira mais preservada possível.

Por outro lado, estamos falando de uma comemoração dos 35 anos do protagonista e, também, do retorno esperado de três clássicos indiscutíveis. A festa não é das maiores e, por mais que os jogos sejam absolutos, não dá para deixar de lado a sensação de que o trio merecia ser melhor celebrado.

Super Mario 3D All-Stars foi testado em cópia digital gentilmente cedida ao Canaltech pela Nintendo.