Preview | Elden Ring tem potencial para ser o melhor jogo da FromSoftware
Por Bruna Penilhas |
Desde o anúncio de Elden Ring na E3 2019, fãs da FromSoftware aguardam ansiosamente pelo lançamento da nova franquia do estúdio japonês. Com pouquíssimos trailers divulgados (apenas dois), grande parte das expectativas são baseadas na admirável credibilidade que a desenvolvedora vem construído há anos com os preciosos games Demon’s Souls, Dark Souls, Bloodborne e o mais recente e premiado Sekiro: Shadows Die Twice.
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Afinal, a FromSoftware foi responsável pela criação de um novo gênero, o soulslike, que encantou milhares de jogadores ao redor do mundo. O gameplay com batalhas desafiadoras, que exigem muita prática e determinação para serem dominadas, somado a uma ambientação sombria, formam uma combinação presente em todos os jogos do estúdio.
Claro, a FromSoftware não inventou a categoria “jogos difíceis”, mas aplicou muita originalidade no level design de suas próprias franquias — aliás, esta é uma discussão que precisamos deixar para outra oportunidade. O aclamado estúdio permanece como uma das maiores referências no mercado de games. Mas será que, após tantos sucessos, esta fórmula ainda pode dar certo? Será que a FromSoftware pode conquistar novos fãs? Sim. Acredito que Elden Ring fará tudo isso e muito mais.
Na última quinta-feira (26), durante a Gamescom 2021, o Canaltech pôde conferir uma apresentação virtual para a imprensa do novo jogo da FromSoftware. Assistimos a 16 minutos de gameplay e participamos de uma sessão de perguntas e respostas com a presença de Yasuhiro Kitao, gerente de marketing e comunicações do estúdio. A seguir, reunimos as principais novidades e primeiras impressões (hands-off) do aguardado jogo.
O reino mágico e bizarro de Elden Ring
Como já sabemos, Elden Ring é ambientado em um mundo chamado Lands Between, governado pela Rainha Marika. O nome do jogo representa a fonte de poder da Erdtree, a árvore dourada que aparece nos trailers e que parece dar vida ao reino. O gancho principal da narrativa é que o Elden Ring foi destruído, com semideuses reivindicando os fragmentos do anel e desencadeando uma guerra.
Nós controlamos um herói apelidado de Tarnished, algo como Manchado em tradução livre. O protagonista, exilado de Lands Between, deve retornar ao reino para obter o poder do Elden Ring e se tornar um Elden Lord — e provavelmente restaurar a ordem no mundo.
De acordo com Kitao, a história é contada em partes e vai manter a tradição do estúdio de deixar as interpretações abertas aos jogadores. Ao mesmo tempo, ele promete uma narrativa “complexa e cheia de camadas”. Pessoalmente, não é algo que me empolga muito neste primeiro momento, mas acredito que a mitologia criada para a nova franquia possa fazer a diferença neste caso — falaremos sobre isso mais adiante.
“Frequentemente nos dizem que os nossos jogos possuem histórias que são difíceis de entender, mas dessa vez sentimos que, ao invés de apenas focarmos na trama do mundo, os personagens e os dramas ao redor deles vão traçar uma narrativa mais clara e ajudarão os jogadores a se envolverem com este universo”, explicou Kitao durante a apresentação do jogo.
A fantasia sombria de Elden Ring estava presente em cada segundo do trecho de gameplay que pude assistir. A identidade visual da FromSoftware ainda é muito presente e, embora haja muitas semelhanças com Dark Souls, principalmente no design de personagens e inimigos, também há diferenças bastante notáveis.
O uso da fantasia adiciona mais cor e vida à atmosfera sombria e medieval já presente nos games do estúdio. É como se um belo e antigo reino tivesse sido tomado por criaturas grotescas e monstruosas. Não tinha como a FromSoftware errar nessa mistura lindamente bizarra.
Ao longo da demonstração exibida no evento, observei planícies cheias de ruínas, uma floresta com árvores cheias de folhas amareladas, trechos cobertos por vegetação e lindas flores, um desfiladeiro cheio de névoa e muitas, mas muitas regiões montanhosas.
Alguns cenários parecem mais acolhedores do que os outros, mas todos são igualmente belos. E não se engane: o estúdio promete que Lands Between esconde muitos perigos e mistérios, então a nossa jornada por este reino mágico certamente não será um passeio no parque.
No meio de lindas paisagens, também observei criaturas grotescas. Os inimigos menos ameaçadores são apenas soldados com suas belas armaduras. Mas os chefões usam e abusam da criatividade bizarra que está no DNA da FromSoftware.
O último mostrado na demonstração, por exemplo, é gigantesco, possui vários braços e carrega dois lábris (machados de lâmina dupla). Outro tinha um porte bem menor, mas carregava uma foice e era capaz de usar magia contra o jogador.
Conclusão: os designs dos inimigos continuam impressionantes, assustadores e cheios de detalhes. A clara inspiração no mundo criado pelo mangaká Kentaro Miura em Berserk permanece firme e forte, inclusive em alguns equipamentos do protagonista, diga-se de passagem.
A contribuição de George R.R. Martin
Outro motivo pelo qual Elden Ring é muito aguardado, é o envolvimento do escritor George R.R. Martin, criador da saga literária As Crônicas de Gelo e Fogo, que resultou na série de TV Game of Thrones.
Na apresentação, Kitao explicou brevemente qual foi o papel de Martin no jogo. Foi ele quem criou a mitologia de Elden Ring, que serviu como base para o desenvolvimento da história, dos personagens, ambientação, inimigos e muitos outros detalhes do game. É claro que tudo isso também saiu da mente de Hidetaka Miyazaki, criador de Darks Souls e diretor e roteirista de Elden Ring.
“Martin escreveu a mitologia do jogo, ele criou o que aconteceu há muitos e muitos anos no passado. Estamos usando isso para criar os eventos da cronologia atual do game”, disse Kitao. “Há heróis e semideuses da mitologia que existem nos eventos atuais do jogo, mas há também novas ideias e personagens que foram criados por Miyazaki que são baseados nestes mitos.”
Fãs das obras de Martin sabem como a trama de Game of Thrones é baseada em conflitos políticos e questões familiares. Segundo Kitao, o autor trouxe um pouco dessa fórmula para Elden Ring e serviu para moldar “as ambições e personalidades” dos personagens do jogo. “Você poderá falar com estes personagens, descobrir detalhes sobre eles e juntar informações para entender o que aconteceu no passado.”
O bom e velho RPG, mas com uma dose generosa de fantasia
A FromSoftware indica que Elden Ring eleva as características de gameplay mais fortes e tradicionais do estúdio, mas afirma que, ao mesmo tempo, “entrega uma experiência RPG inédita” que é diferente dos lançamentos anteriores. A nova franquia também promete proporcionar o maior mundo já desenvolvido pela equipe — e você poderá explorá-lo da maneira que desejar, na ordem que preferir.
O gameplay exibido na apresentação começa mostrando a primeira área aberta do jogo, onde há também o primeiro checkpoint. O ponto de salvamento de Elden Ring é um pequeno santuário mágico. Alguns vão produzir uma luz que funciona como um guia para o protagonista, mas você não será obrigado a segui-la se não quiser.
Os jogadores poderão customizar não apenas a aparência do protagonista, mas também o estilo de jogo. Kitao explica que, “como em um bom e velho RPG”, você poderá se especializar, por exemplo, em um combate de espada, mas também ser um poderoso feiticeiro ou um arqueiro muito habilidoso. Tudo depende de qual caminho você quer seguir.
Pessoalmente, os golpes mágicos foram os que mais chamaram a minha atenção, porque sempre gostei de controlar arcanos/feiticeiros/magos em RPGs. Na demonstração, observei vários momentos em que o protagonista utiliza poderes elementais com um cajado, alternando entre as habilidades e também entre as armas.
O tão amado combate soulslike permanece como um dos principais pilares do jogo. Entender os padrões de ataques dos adversários e saber o momento certo para atacar, defender e driblar ainda serão essenciais para o sucesso em um combate.
O gameplay que assistimos exibiu alguns trechos de uma luta contra um dragão imenso. Aqui, as criaturas voadoras vão interceptar, sem aviso prévio, os jogadores que estiverem explorando as áreas abertas de Elden Ring. O trecho foi bastante épico, com direito a muitas rajadas de fogo e um golpe final sangrento.
Bebendo da fonte de Sekiro, também poderemos contar com elementos de furtividade, que permitirão que os jogadores evitem o encontro com inimigos em determinadas áreas ou realizem ataques surpresa. Há, inclusive, uma flecha especial que coloca os adversários para dormir por tempo limitado.
Conforme já foi revelado anteriormente, poderemos convocar espíritos dos inimigos mortos para receber auxílio durante uma batalha. Nestes trechos, percebi que a presença dos aliados podem distrair inimigos e abrir caminho para ataques. Em áreas com muitos adversários, essa ajuda provavelmente será indispensável. Também já sabemos que será possível jogar Elden Ring cooperativamente, entre até três pessoas.
A demonstração indica que os jogadores poderão usar uma luneta para observar regiões e acampamentos à distância, de forma que possam identificar a localização de tesouros e decidir qual é a melhor abordagem para seguir em frente.
Desta vez, será possível abrir um mapa para conferir terrenos e construções próximas. Mas não será tão fácil ou simples assim porque ele será atualizado conforme o jogador encontra fragmentos do mapa ao redor do mundo. Em adição, será possível aplicar marcadores, de maneira semelhante ao que acontece em The Legend of Zelda: Breath of the Wild, para que você possa revisitar uma região específica em um outro momento.
Muito mais do que uma simples montaria
A montaria de Elden Ring chamou bastante a minha atenção porque ela facilitará a exploração dos jogadores solos, já que ela não estará disponível no modo multiplayer cooperativo. Logo no começo do gameplay, o protagonista convoca um cavalo e simplesmente pula de um penhasco montado nele. Mas antes de aterrissar no solo, ele dá um pulinho bem bonitinho para amortecer a queda.
Aliás, a sua montaria pode ter um pulo duplo, o que é muito bem-vindo para atravessar pequenas rachaduras entre terrenos, por exemplo. Mas o que mais me surpreendeu foram as plataformas de ar, que estão espalhadas nas áreas abertas e impulsionam a montaria para áreas mais altas.
Tudo isso existe porque a FromSoftware quer facilitar a exploração deste vasto mundo, torná-la menos punitiva do que nos games anteriores e oferecer verticalidade. Me pergunto se esses recursos foram pensados desde o começo, ou se foram criados depois que a estrutura do mundo estava pronta, após os devs perceberem que percorrer os desfiladeiros e montanhas de Lands Between seria uma atividade estressante.
Só quem já perdeu um cavalo em Skyrim, enquanto tentava descer uma montanha pelo caminho errado na pressa, sabe o quanto essas mecânicas podem ser úteis. E ah, se você quiser, poderá enfrentar os inimigos nas áreas abertas com a sua montaria. Mas não me pergunte se o seu pocotó corre ou não o risco de morrer em combate, isso é algo que teremos que descobrir sozinhos.
Elden Ring terá botão de pulo
Esta aqui é uma novidade que pode surpreender alguns jogadores veteranos de soulslike: Elden Ring terá um botão de pulo. Convenhamos que este é o esperado de um RPG de ação em mundo aberto, mas não deixa de ser uma adição agradável e que abre novas possibilidades de gameplay.
Os jogadores poderão usar o pulo ao seu favor durante o combate, principalmente em ataques aéreos de furtividade, que pegam o inimigo despreparado. Já em outro trecho do gameplay exibido na apresentação, enquanto explora um castelo gigantesco, o protagonista pula livremente entre telhados e parapeitos para alcançar novas áreas.
De acordo com Kitao, o botão de pulo não vai diminuir o desafio que geralmente encontramos nas franquias da FromSoftware já que, segundo ele, o game foi construído levando o comando em consideração.
Duas variações de dungeons: conheça as Legacy Dungeons
Além das áreas abertas, o reino de Elden Ring abriga dungeons “complexas que são perfeitamente conectadas”. Na demonstração, conferi apenas um trecho de gameplay em uma masmorra subterrânea, que funciona como um cemitério abandonado e é cheio de armadilhas mortais. Nas dungeons, os jogadores encontrarão recompensas valiosas e encontrarão chefões desafiadores.
Mas além das masmorras tradicionais e mais simples, Elden Ring contará também com as chamadas Legacy Dungeons, áreas isoladas do mapa que elevam o desafio do game. Basicamente, essa variação é formada por imensos castelos ou construções que abrigam um design muito mais complexo e denso do que as dungeons normais — similar ao que encontramos em Dark Souls. Aqui, também há mais possibilidades de exploração e o clima de tensão é mais elevado.
O gameplay mostrou alguns minutos de uma Legacy Dungeon em um castelo gigantesco. Os jogadores poderão seguir pelo caminho mais difícil ou encontrar uma rota alternativa: caso decida entrar na fortaleza pelo portão principal, o protagonista será atingido por vários disparos à distância.
Já a rota alternativa, indicada por um NPC logo na entrada do castelo, leva o jogador para ruínas e escadas externas que estão conectadas ao interior da construção. O narrador da apresentação garante que explorar locais fechados em Elden Ring vai exigir muita cautela e atenção — neste instante, o protagonista está explorando salas escuras e estreitas, o que limita a visão dos arredores. Ele logo é atacado por um inimigo que estava muito bem escondido.
Em outro momento desta Legacy Dungeon, vemos o protagonista em uma área elevada, observando um gigantesco troll em um corredor abaixo. Se tivesse seguido pelo portão principal na área inicial do castelo, ele teria ficado frente a frente com a criatura. Mas, como a demonstração continuou pela rota alternativa, o personagem conseguiu encontrar uma posição de vantagem.
Neste momento, o protagonista atira uma flecha de sono do troll, que cai duro no chão em sono profundo. Desta maneira, foi possível evitar a batalha e seguir para a última área do castelo, que abriga o chefão de vários braços que mencionei anteriormente. E após alguns trechos desta luta, com direito à uma cutscene que introduz o chefe, a demonstração foi encerrada.
O que esperar?
Ao terminar de assistir à apresentação de Elden Ring, ficou claro para mim que este tem o potencial de ser o melhor game da FromSoftware. Sim, é uma declaração ousada, eu sei, mas acredito que a nova franquia do estúdio conseguirá elevar a fórmula de Soulslike para um patamar ainda maior.
Com a adição de mais elementos de RPG, a liberdade para customizar o seu estilo de combate e a união com George R.R. Martin para criar uma mitologia inédita, penso que Elden Ring tem grandes chances de chamar a atenção de jogadores que, até então, não demonstraram interesse pelos universos feitos previamente pela FromSoftware, mas que apreciam um mundo denso e fantasioso.
Mesmo que não venha a ser considerado o melhor game do estúdio, já vale o reconhecimento por adicionar toda uma nova camada de profundidade e possibilidades à já conhecida fórmula soulslike.
Elden Ring será lançado para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X, Xbox Series S e PC em 21 de janeiro de 2022 — o upgrade para a nova geração de consoles será gratuito. Quais são as suas expectativas para o jogo? Comente abaixo!