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20 anos de Kingdom Hearts: a união improvável que deu certo

Por| 28 de Março de 2022 às 20h37

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Divulgação/Square Enix
Divulgação/Square Enix
Tudo sobre Square Enix

Há exatos 20 anos, nascia uma das franquias de JRPGs mais amadas da história dos videogames. Kingdom Hearts pode não ser o maior ou melhor nome de seu gênero, mas o amor que os fãs nutrem pela saga é incontestável, seja pelo drama que cerca a narrativa confusa, pelo gameplay dinâmico e viciante ou pela presença de personagens icônicos da Disney.

O que há de tão incrível nesta improvável união de universos? Muito aconteceu em 20 anos — boa parte dos fãs, assim como eu, jogaram o primeiro Kingdom Hearts quando ainda eram crianças ou pré-adolescentes e, portanto, nós crescemos com Sora, Donald, Pateta e companhia. Anos se passaram, mas a franquia continua ocupando um lugar especial em nossos corações.

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A criação de Kingdom Hearts: uma aposta ousada da Disney

JRPGs estavam em alta nos anos finais da década de 1990, com a Square (antes da fusão) sendo uma grande força mundial dentro do gênero. Com sucessos como Final Fantasy, Parasite Eve e Chrono Trigger nas mãos, a empresa japonesa conseguiu uma parceria improvável com a Disney enquanto estava no processo de fusão com a Enix.

Tetsuya Nomura, que havia acabado de lançar Final Fantasy VII, estava pronto para criar uma nova franquia, bem como Shinji Hashimoto. Super Mario 64, lançado em 1996, ainda inspirava os desenvolvedores. A dupla da Square queria apostar em um game no mesmo estilo que o clássico da Nintendo, mas sabiam que seria impossível criar um protagonista inédito para competir com Mario. Quem poderia ser maior ou tão importante quanto o encanador bigodudo? Um rato falante de shorts vermelho chamado Mickey Mouse.

A Square não demorou para puxar uma conversinha com a Disney sobre este novo projeto (na época, os escritórios de ambas empresas estavam no mesmo prédio). O que a grande empresa de entretenimento ganharia com isso, além de dinheiro, é claro? Talvez conquistar mais destaque no Japão para seus personagens já mundialmente conhecidos. De qualquer maneira, investir em um projeto inédito e externo certamente não era uma aposta totalmente segura, mas aconteceu.

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Nomura estreou como diretor, enquanto Hashimoto assumiu a produção de Kingdom Hearts. O primeiro jogo chegou ao Japão em 28 de março de 2002, trazendo um universo inédito para a Square Enix que une forças com histórias das animações da Disney. Sora, o protagonista, está acompanhado por Pato Donald e Pateta, duas figuras já conhecidas globalmente. Juntos, eles conhecem e exploram diferentes mundos da Disney, enquanto ajudam personagens icônicos e enfrentam a treva. Veja bem, resumimos a sinopse do jeito mais simples possível, mas a história vai muito, muito além disso.

A casa do Mickey deu liberdade para a Square aproveitar as animações do estúdio na história, mas o uso do mascote roedor era extremamente limitado — tanto que a participação dele no primeiro jogo é bastante discreta. A Disney queria ver se a empreitada daria certo antes de arriscar a imagem do precioso Mickey. Como já sabemos, com o passar dos anos e dos lançamentos, o animal antropomórfico conquistou um papel importante e fundamental para a história de Kingdom Hearts.

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A união de universos deu mais do que certo. É óbvio que colocar Donald, Pateta, Tarzan, Hércules, Ariel e Aladdin seria um apelo supremo. Qual criança não se encantaria ao ver a capa de Kingdom Hearts? Poucas entenderiam a história, é fato (e muitas cresceram sem entender, o que é totalmente compreensível). Lembro até hoje qual foi a minha impressão ao segurá-la pela primeira vez. Como alguém que assistia aos filmes da Disney diariamente, fiquei interessada pelo game no segundo em que vi os personagens que tanto amava.

Como se não bastasse a parceria com a dona do Mickey, a Square ainda resolveu usar alguns personagens de Final Fantasy no jogo. Apesar de não serem extremamente importantes para a trama, a ideia de vê-los foi um atrativo para os fãs da franquia. Realmente, eles apostaram todas as fichas possíveis.

Não demorou muito para a jornada de Sora e companhia ganhar mais dois jogos: Kingdom Hearts: Chain of Memories (2004) e Kingdom Hearts II (2005). Depois do sucesso do primeiro game, a Disney liberou o uso de Mickey, que hoje aparece com destaque.

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O uso das animações do estúdio também não ficou limitado aos filmes da década de 1990, com Kingdom Hearts 3 aproveitando de produções mais recentes como Enrolados, Operação Big Hero e Frozen para, talvez, ter o mesmo apelo que O Rei Leão, Aladdin e Hércules teve no passado: conquistar a atenção das crianças. Se este objetivo foi cumprido mais uma vez, não sabemos, mas pode ter certeza de que alegrou e aqueceu o coração de vários adultos por aí.

A história de milhões (de perguntas)

Aos 13 anos, eu estava pouco me importando com a história de Kingdom Hearts. Afinal, eu não era fluente em inglês e nem sempre entendia o que estava acontecendo com a narrativa original. Pra mim, já era o suficiente saber o contexto dos mundos da Disney, já que eles, basicamente, reproduzem as tramas originais (e estas eu conhecia muito bem) com pequenas adaptações.

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Eu também estava muito ocupada e interessada pelo gameplay, que oferece um estilo de combate divertido, dinâmico e extremamente desafiador quando necessário. Lembro que tentei derrotar Dark Riku dezenas de vezes do final do primeiro jogo, até finalmente conseguir e comemorar muito com a minha vó, que assistiu às minhas derrotas por várias horas. Só depois de alguns anos que passei a “entender” melhor a história, o que mudou consideravelmente a minha relação com a franquia e tornou-a muito mais especial.

Note a palavra entre aspas porque entender Kingdom Hearts nunca foi e nunca será uma tarefa fácil. Mesmo após reler resumos e rever diversos vídeos explicativos, ainda sou incapaz de explicar como a história funciona nos mínimos detalhes. A narrativa da franquia é (com razão) motivo de piada no mercado de videogames, seja entre fãs ou não. Nomura conseguiu elevar a comum luta de Luz contra Treva para um outro nível de complexidade, com muitos conceitos complicados e o uso de viagem no tempo (e, mais recentemente, a confirmação de que há realidades alternativas). Os furos de roteiro e o fato de que revelações importantes sobre a trama acontecem em spin-offs e jogos para celulares não ajudam em nada.

Não dá para rasgar vários elogios à história de Kingdom Hearts. Mas, apesar da execução do roteiro e da cronologia ser questionável, há uma camada de originalidade que impressiona — todo o conceito de Heartless e Nobodies é excelente, por exemplo. Até os momentos idiotas e inusitados fazem toda a diferença e são especiais, cada um do seu próprio jeito (Pateta tomando a pedrada na cabeça, eu te amo. Por favor, assistam ao vídeo acima). E ainda há algo que nos encanta e que vai além da amizade boba e igualmente fofa entre Sora, Donald e Pateta. É uma história cheia de relações puras e sinceras que representam diferentes faces do amor, da vingança e do perdão. Como não se emocionar com os inúmeros sacrifícios que diversos personagens enfrentaram pelos seus amigos? Rapaz, quer me ver chorar largada no chão? É só colocar a música tema de Xion ou qualquer cena triste da Aqua (perfeita, maravilhosa e sem defeitos).

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O fato de termos crescido enquanto acompanhamos as jornadas destes personagens (que também cresceram) tem um impacto significativo neste apego emocional. Queremos vê-los bem e tendo o descanso que tanto merecem. São nestes laços inquebráveis, tanto entre os próprios personagens e ainda entre nós e eles, que acabamos encontrando conforto, principalmente se a nossa realidade não nos agrada tanto. Ver Aqua reencontrando seus amigos após muito sofrimento é quase como aquele abraço apertado que tanto nos ajuda em momentos difíceis. E embora o discurso sobre amizade seja clichê em alguns momentos, a franquia mais acertou do que errou na hora de criar e desenvolver heróis e vilões carismáticos, todos com seus defeitos e qualidades igualmente reconhecidos e valorizados.

20 anos de altos e baixos: got it memorized?

Duas décadas de história renderam a Kingdom Hearts muitos produtos licenciados, quartos temáticos em um hotel no Japão, a participação histórica de Sora em Super Smash Bros. e, claro, 13 games, entre spin-offs, títulos para consoles portáteis e os recentes jogos para celulares. Alguns deles são tão problemáticos que sequer valem a menção, enquanto outros serviram para aprofundar a história ainda mais, como é o caso do amado Birth by Sleep (2010). Diria que, em alguns momentos, a história entre Aqua, Terra e Ventus é muito mais impactante do que a de Sora, Kairi e Riku, inclusive.

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Por apostar tanto em narrativas paralelas e jogos secundários, a saga principal de Kingdom Hearts ficou sem uma continuação direta por muitos anos — há um intervalo de 14 anos (!!!) entre KH2 e KH3. E o que falar dos subtítulos malucos cheios de termos e números quebrados que se tornaram marca registrada da franquia? Kingdom Hearts 0.2: Birth by Sleep – A fragmentary passage é o ganhador neste quesito. Qual outro irá superá-lo?

Quando o assunto é excelência em todos os quesitos, Kingdom Hearts 2 assume, disparado, o posto de melhor da saga. O primeiro já era muito bom, mas a sequência aprimorou o combate e acelerou o ritmo da jogabilidade ao oferecer novas transformações para Sora — ah, a Drive Form, que saudades! Alguns dos melhores mundos da franquia também estão em KH2, bem como várias lutas contra chefes memoráveis. Lembram da surpresa ao encontrar Sephiroth? Não é à toa que este game também aparece nas listas de melhores RPGs.

O uso de personagens da Disney é peça crucial para a existência de Kingdom Hearts. O sucesso da franquia não teria sido o mesmo caso essa parceria não tivesse se concretizado. Ao mesmo tempo, apesar dos altos e baixos, Kingdom Hearts cresceu o suficiente para não se resumir somente a isso. Não é apenas um joguinho qualquer com Mickey Mouse e companhia. Particularmente, estou muito mais interessada em saber o que acontecerá com os personagens principais e quem é Yozora do que descobrir quais serão os novos mundos da Disney.

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Os bons games de Kingdom Hearts alcançaram um espaço importante no gênero de RPG de ação, apesar de não serem tão populares quanto Final Fantasy, mas tenho certeza que a franquia tem potencial para crescer e fazer melhor. Os anos recentes da saga não foram muito bons para os fãs. Kingdom Hearts: Melody of Memory, um jogo rítmico sem muito propósito (mas com uma revelação importante sobre a história principal, é claro), chegou em 2020, sem muito alarde.

Também rolou o decepcionante lançamento da saga no Nintendo Switch via nuvem — método que requer uma excelente conexão à internet e exclui muitos países, incluindo o Brasil, já que não há servidores locais para ter uma jogatina estável. Não era assim que nós imaginávamos a chegada da franquia em um dos consoles mais bem-sucedidos do momento, né? Kingdom Hearts merece mais.

E o futuro?

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Nos últimos meses, a Square Enix fez pequenos anúncios relacionados às comemorações de 20 anos de Kingdom Hearts. É esperado que as revelações e homenagens mais importantes aconteçam em 10 de abril, durante um evento especial em Tóquio, no Japão. Entretanto, não boto fé que veremos o anúncio de um Kingdom Hearts 4 tão cedo.

E ao que tudo indica, Nomura não está pronto para dizer adeus à saga. Na verdade, Kingdom Hearts 3 deixa claro que ainda há conceitos não explorados na franquia, que provavelmente serão expandidos no futuro. Sim, é muito provável que a coisa fique mais complicada e confusa. Nessa altura do campeonato, não dava para esperar algo mais simples, né?

"Em 10 de abril, teremos um evento de aniversário de 20 anos de Kingdom Hearts em Tóquio!
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Vamos iniciar as celebrações do aniversário de 20 anos com um pequeno show, uma conversa de perguntas e respostas com o time de desenvolvimento, uma exibição e muito mais. Um vídeo do evento ficará disponível em outro momento."

Eu tenho as minhas ressalvas quanto a Kingdom Hearts 3 — não acho que o game tenha conseguido superar o quase perfeito Kingdom Hearts 2, tanto no quesito história quanto no gameplay, mas esta é uma conversa para um outro texto. Por isso, fico um pouco apreensiva quando penso no futuro da franquia. Será que Nomura enxergou as falhas e, agora, tentará fazer melhor? Ou ele simplesmente só está preocupado em entregar a continuação mirabolante da história?

Seja qual for o resultado, minha gratidão por todos os momentos (bons ou ruins) que passei com Kingdom Hearts permanecerá firme e forte. Continuarei me arrepiando e chorando com a trilha sonora impecável (Utada Hikaru e Yoko Shimomura, muito obrigada por tanto), especialmente ao ouvir "Dearly Beloved", que automaticamente me transporta para memórias acolhedoras na sala da minha vó, onde jogava por horas a fio, quando a vida era muito mais simples.

É uma franquia com um apelo extremamente nostálgico pra mim e que fez parte da minha formação como fã de videogame, assim como foi para milhares de outros fãs. Apesar das decepções, este elo não é fácil de ser quebrado — e que bom que reconhecemos as falhas de algo que amamos tanto, né? Mal posso esperar para gastar mais alguns neurônios teorizando sobre as ideias de Nomura. Enquanto esperamos para descobrir tudo isso juntos, lembre-se: may your heart be your guiding key ❤️.