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Review Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin | Brega ou genial?

Por| 23 de Março de 2022 às 19h45

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Divulgação/Square Enix
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O que uma franquia com quase 35 anos de história precisa fazer para se reinventar? Apostar em novos gêneros? Contar aventuras completamente inéditas? Não há uma resposta definitiva para estas perguntas, ainda mais quando estamos falando de uma série tão amada e importante quanto Final Fantasy.

O jogo mais recente da franquia tenta ser único dentro da saga, embora não faça parte da série principal. Desde o primeiro trailer, Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin chamou a atenção até mesmo de quem não é fã da preciosa marca da Square Enix, mas não porque este parecia ser um game incrível. Os diálogos sem profundidade e os protagonistas genéricos conseguiram cativar o público de uma maneira quase inexplicável.

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Até onde vai a linha tênue entre cafonice e genialidade? Será que este novo Final Fantasy tem o que é necessário para ser lembrado entre tantos outros lançamentos da franquia? É o que tentarei responder neste texto. Por meio de uma cópia digital gentilmente cedida pela Square Enix, joguei Stranger of Paradise e conto a seguir o que achei desta jornada. O game foi desenvolvido pela Team Ninja e Koei Tecmo, em parceria com a Square, e está disponível para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X, Xbox Series S e PC.

O Jack pode ser um pouco duro às vezes...

Sim, a história de Stranger of Paradise é cheia de clichês e diálogos ruins. Nas primeiras horas de jogo, tudo parece extremamente artificial e sem propósito: a amizade instantânea de Jack e seus companheiros; a obsessão absurda do protagonista pela missão de derrotar Chaos. Nenhum ponto da narrativa parece ser complexo, pelo menos a princípio.

Por incrível que pareça, ao longo do jogo, toda a história é expandida e segue caminhos nada convencionais no que diz respeito ao “padrão” da jornada do herói. Pouparei detalhes para não estragar a experiência, mas basta dizer que a superficialidade inicial é intencional. Aos poucos, você entende o que aconteceu com Jack e porque ele age de maneira tão séria e fria.

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A maneira como o game aproveita a história do primeiro Final Fantasy, de 1987, muito provavelmente vai encantar e emocionar os fãs mais dedicados da franquia. Neste quesito, Stranger of Paradise peca muito pouco — até porque, convenhamos, Final Fantasy e clichês andam de mãos dadas há décadas. O que importa é que vários elementos narrativos da franquia estão lá, para fortalecer a origem deste universo que conhecemos há tanto tempo.

Isso não quer dizer que eu adorei a história do jogo. Na verdade, foi muito difícil apreciá-la, já que não sou uma super fã de Final Fantasy. Mas consegui entender e aceitar que Jack não é tão genérico assim, pelo menos quando o assunto é desenvolvimento de personagem (no visual realmente não há como defendê-lo). Ao mesmo tempo, não dá para chamar ele ou qualquer outro personagem de carismático. Esta é uma qualidade que falta para a maioria do elenco, exceto por Astos.

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Os diálogos ruins também me incomodaram com uma certa frequência, mas tentei abraçar a breguice em busca da diversão. Na maioria das vezes, as cenas são apenas péssimas mesmo, com conversas superficiais e muitos gemidos estranhos que servem como reações para os personagens (mas isso não é novidade para os jogos orientais, certo?). Em outros poucos momentos, há o uso de um humor deliciosamente constrangedor que surpreende por apresentar uma situação imprevisível e inusitada. Stranger of Paradise claramente não se leva a sério neste sentido, proporcionando o famoso “é tão ruim que fica bom”.

O maior exemplo disso é justamente a cena que viralizou nas redes sociais antes mesmo do game ser lançado: quando Jack solta um “Bullshit”, dá as costas para Neon e dá play em uma música de rock (que lembra muito Limp Bizkit, mas não é) no celular. Como não achar isso fantástico? Não é o tipo de atitude que costumamos ver por aí.

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Outro momento que arrancou uma gargalhada sincera foi quando, após muitos diálogos manjados sobre esperança, Jack simplesmente mete um soco na barriga de uma personagem indefesa. De novo, não entrarei em muitos detalhes, mas acredite quando eu digo que esta era a última reviravolta que eu esperava para o momento em questão.

A minha conclusão é que Stranger of Paradise não se esforça muito para criar personagens marcantes, cheios de profundidade e originais. Muitos deles, na verdade, são apenas reproduções de dezenas de fiéis companheiros e princesas que já vimos em outras histórias — o Jed é uma cópia ruiva do Prompto! Porém, os momentos inusitados e o caminho nada convencional que a trama segue no final são suficientes para evitar um desastre. O ponto forte do game está na jogabilidade, a qual falaremos sobre a seguir.

Uma pitada de Dark Souls, por favor!

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Stranger of Paradise é um RPG de ação que leva Final Fantasy para um nível de dificuldade que, até então, não havia sido explorado na era moderna da franquia. O game traz um combate que exige mais cautela e menos esmagamento de botões, principalmente contra os chefões que nos esperam no final de cada missão.

Quando falamos de combates estratégicos em RPGs de ação, a primeira referência que vem a cabeça é Dark Souls. E sim, o novo Final Fantasy aproveita um pouco da fórmula de sucesso alavancada pelos jogos da FromSoftware: aqui, as fogueiras são chamadas de cubos, e servem como o ponto de salvamento para os jogadores. Se você morrer, voltará para o último cubo acessado, que restaura seus pontos de vida e reabastece as poções de cura do protagonista.

Nas batalhas contra inimigos mais poderosos, é necessário analisar o comportamento do adversário, tanto para encontrar as janelas ideais de ataque quanto para se defender. Há um sistema de parry e o botão de esquiva será o seu melhor amigo. Até um grupo de inimigos mais fracos pode ser fatal se você não tiver o cuidado necessário.

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Eu não sou a jogadora mais paciente do mundo e, portanto, souls-like são como um verdadeiro passeio no inferno para mim. Confesso que tento evitá-los sempre que possível, por preferência pessoal. A vida já é estressante demais, sabe? Por isso, comecei Stranger of Paradise com o receio de que não teria habilidade o suficiente para seguir em frente, e que logo seria vítima da minha própria impaciência ao não conseguir derrotar os adversários mais poderosos.

Acontece que Stranger of Paradise é muito menos punitivo do que Dark Souls, ao ponto da comparação quase não fazer mais sentido. Os comandos de esquiva e ataque, por exemplo, não consomem estamina, permitindo que você use-os livremente durante uma luta. Isso, por si só, já faz uma diferença tremenda no fluxo do combate. Você também não vai perder recompensas ou loot preciosos ao morrer e, geralmente, há cubos próximos de chefões, poupando que o jogador tenha que percorrer longas distâncias até alcançar o adversário novamente.

Por todos estes motivos e outros que falarei a seguir, encontrei uma boa dose de satisfação no gameplay de Stranger of Paradise. Isso não quer dizer que não sofri um bocado, mas tive uma experiência muito menos punitiva do que achei que teria. Ainda morri diversas vezes para os chefões, enquanto outros consegui passar de primeira. Também morri com inimigos simples por besteiras, mas aprendi com os meus erros.

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Ao mesmo tempo que não dá para bobear nos confrontos, você também não precisa ser perfeito durante o combate ou seguir uma estratégia exatamente à risca. Tudo bem se você não for bom de parry (eu não sou e usei muito pouco), mas desviar no momento certo é importante. É um gameplay mais casual do que um souls-like da vida, mas que ainda é capaz de oferecer bons desafios.

A variedade de inimigos, por sinal, é ótima e previne uma experiência repetitiva. Os encontros com chefões também são satisfatórios e exigem diferentes tipos de estratégia por parte do jogador. Já o tamanho das fases aumenta gradualmente, conforme você progride no game. Aos poucos, o mundo do jogo passa a proporcionar um level design interessante ao trazer áreas que quase funcionam como labirintos com segredos e caminhos alternativos (temos mais uma pitadinha de Dark Souls aqui).

A presença de aliados nos combates também facilita a situação um bocado. Do mesmo jeito que acontece em Final Fantasy XV, por exemplo, você pode usar os botões direcionais para ativar ataques especiais dos seus companheiros (desde que eles tenham energia suficiente para isso). Contar com o auxílio dos amigos de party me ajudou em momentos críticos, em que a vida do chefão estava chegando ao fim e eu estava sem poções de vida, por exemplo. Claro, eles não vão derrubar um adversário poderoso sem a sua ajuda, mas podem fazer a diferença em situações como esta ou até quando há um grande grupo de inimigos na mesma área.

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E, finalmente, há o sistema de Jobs de Stranger of Paradise, que compõe a base de todo o combate. Os jobs (também podemos chamar de classes) não são novidade para Final Fantasy, mas chegam aqui para proporcionar um combate dinâmico e que pode ser facilmente modificado caso o jogador queira. Naturalmente, cada classe tem sua própria árvore de habilidades e oferece um estilo de combate único. Também há equipamentos e armas que aumentam a afinidade do personagem com um certo Job, mas você não é obrigado a usá-los, já que nenhum deles é exclusivo de uma única classe.

A melhor parte é que você pode selecionar duas classes simultaneamente para Jack, sendo possível alterar de um estilo para o outro com apenas um toque. Isso proporciona uma dinâmica interessante para o combate, permitindo que você tenha mais possibilidades estratégicas durante uma luta difícil e não esteja limitado a um único estilo de jogo por vez. O game encoraja, inclusive, que o jogador explore outras opções e combinações de Jobs ao facilitar o progresso — precisei de poucas horas de jogo para alcançar o nível máximo de uma única classe.

Iniciei a minha aventura com Jack como um Swordsman e Mage, combinação que proporcionou um bom dano com uma espada de duas mãos, somado ao uso de magias elementais que enfraquecem inimigos à distância. Horas depois, resolvi testar a classe Pugilist, que logo se tornou uma das minhas favoritas: com ela, Jack usa os punhos para efetuar uma série de golpes físicos nos inimigos. Por ser um Job muito ágil, quase não sobra abertura para os adversários contra-atacarem. Por isso, passei a usar o Pugilist durante as fases, em encontros com criaturas menos poderosas, para derrotá-las rapidamente. Contra chefões, não consegui me adaptar tão bem quanto como Swordsman.

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Ao subir de nível e progredir nas classes, você liberará Jobs avançados, que desbloqueiam uma nova árvore de habilidades. Um Mage, por exemplo, pode evoluir para um Black Mage ou White Mage, oferecendo poderes que vão além de magias elementares mais básicas. Ainda é possível escolher um Job para cada aliado da party, de forma que você possa criar uma composição equilibrada e complementar. Com tantas opções, não será difícil encontrar um estilo de gameplay que lhe agrade.

E quase esqueci de mencionar um dos melhores recursos do jogo! Sim, há um modo fácil para aqueles que simplesmente querem aproveitar a história ou dar uma treinada no gameplay antes de encarar desafios mais elevados (aqui, chamado de modo casual). Nele, o dano recebido é reduzido consideravelmente, enquanto o dano aplicado nos inimigos é aumentado. Então, fique tranquilo: se você quiser uma experiência totalmente casual, o modo fácil estará lhe esperando e disponível para ser habilitado no menu. Também há opções com uma dificuldade mais elevada do que o padrão para quem busca mais desafios.

Visualmente caótico

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Agora que destaquei os pontos altos do game, resta mencionar outra característica problemática. A mais grave de todas, ao meu ver, é como o jogo é mal otimizado e visualmente aquém do esperado. Jogando no PlayStation 5 no modo performance, a queda na taxa de quadros por segundo foi frequente nos trechos com muitos elementos na tela. Elementos do cenário não são bem definidos, com arestas serrilhadas sendo comuns na ambientação.

Parece que todo o cuidado com texturas, iluminação e nitidez foi limitado aos personagens principais, que são graficamente muito mais “apresentáveis” do que o restante do game. Veja bem: eu não sou uma pessoa exigente por gráficos realistas, mas o que acontece em Stranger of Paradise é simplesmente inaceitável para o ano em que estamos. Há cutscenes que parecem ter saído da era do PlayStation 3, com uma resolução questionável formando cenários sem vida e com cores estranhas — o que causa um incômodo ainda maior quando os personagens aparecem, já que a diferença na qualidade gráfica é gigantesca.

Não há nada bonito em Stranger of Paradise e os ambientes não se esforçam para transparecer criatividade. Não houve um único momento em que me senti deslumbrada por algum ambiente e muito menos por alguma cutscene. Tudo isso é decepcionante porque, além de estarmos falando de um lançamento que ocorreu para a nova geração de consoles, este também é um jogo de uma franquia muito respeitada que não merece regredir. Não precisamos ir tão longe para lembrar de outro Final Fantasy que surpreendeu em todos os quesitos: veja o visual impressionante de FFVII Remake.

Apesar de não compensar estes defeitos visuais, vale mencionar que há designs de chefões que ressoam a mais pura essência do que é Final Fantasy. Ponto positivo pra eles. E, acredite se quiser, também há muitas armaduras estilosas para usar nos personagens — logo você vai esquecer da roupa extremamente básica que o Jack usa no começo do jogo ou do vestido desnecessariamente curto de Neon.

Stranger of Paradise vale a pena?

Entre acertos e erros, é seguro dizer que Stranger of Paradise conseguiu me surpreender — só que, veja bem, as minhas expectativas eram praticamente inexistentes. Não dá para dizer que este é um game ruim, mas também é impossível chamá-lo de excelente. Digamos que ele apenas consegue entregar o que se propôs a fazer: uma história de origem cheia de clichês com um gameplay competente.

A falta de qualidade gráfica e a história manjada desvalorizam, sim, a experiência como um todo. Mas não elimina por completo o mérito de um sistema de combate bem estruturado, prazeroso, variado e que abraça todos os estilos de jogadores, esteja você em busca de um desafio ou não.

Com base em tudo o que falei até aqui, chegou o momento de responder as perguntas que levantei no começo do texto. Stranger of Paradise oscila mais para a cafonice do que para a genialidade, mas isso não é totalmente ruim, desde que você esteja disposto a abraçar o brega. E não, não acredito que o game consiga se destacar perante outros lançamentos da franquia, mas também seria pedir demais de um título spin-off.

Para os fãs hardcore de Final Fantasy, diria que Stranger of Paradise merece a sua atenção em algum momento. Apesar das falhas, acho que você não sairá completamente decepcionado e talvez até derrube algumas lágrimas no final. Já para aqueles que simplesmente buscam um game com um bom combate, a recomendação é que você espere uma promoção ou procure outras opções, simplesmente porque há jogos muito melhores (e também recentes) para você jogar no momento.