Um bebê poderia nascer no espaço? Da radiação cósmica ao parto em microgravidade
Por Lillian Sibila Dala Costa • Editado por Melissa Cruz Cossetti |

À medida que o ser humano se aproxima mais do espaço, com longas missões em órbita, bases planejadas na Lua e viagens para Marte, crescem os questionamentos sobre o funcionamento biológico do nosso corpo fora da Terra. Um dos aspectos mais importantes e misteriosos é a gravidez — como seria a concepção, desenvolvimento e nascimento de um bebê no espaço?
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O cientista Arun Vivian Holden, biólogo computacional da Universidade de Leeds, buscou respostas para essa pergunta em suas pesquisas. Segundo ele, a gravidez passa por uma série de riscos mesmo na Terra, perigos que a maioria das pessoas sequer considera — especialmente porque, quando alguém nasce, isso significa que eles foram superados.
Perigos da gravidez na Terra e no espaço
Holden lembra que a gravidez é uma série de marcos biológicos — cerca de ⅔ dos embriões humanos não vivem o suficiente para nascer, com a maioria das perdas ocorrendo nas primeiras semanas após a fertilização, geralmente sem a pessoa saber que está grávida. Modelos biológicos e pesquisas clínicas revelam à ciência as chances de uma gravidez dar certo na Terra. E no espaço ou em outros planetas? Veja este resumo da BBC abaixo, ativando as legendas em português:
O cientista começa pela microgravidade. Essa quase ausência de peso no espaço deixaria a concepção mais incômoda aos participantes, mas, na gravidez em si, não interferiria muito após a implantação do embrião. O feto já se desenvolve em algo semelhante à microgravidade, flutuando em líquido amniótico neutro dentro do útero. Os treinos para caminhada espacial de astronautas são feitos em tanques de água que simulam ausência de peso, algo que parece o ambiente uterino.
Há outros problemas, no entanto, com um deles sendo a radiação. No espaço, ela é composta pelos raios cósmicos, partículas de alta energia. Elas têm os núcleos atômicos “nus”, sem elétrons, com apenas o núcleo denso de prótons e nêutrons. Viajando pelo espaço em velocidades próximas à da luz, os raios cósmicos podem atingir o corpo humano e causar danos nas células.
Na Terra, a atmosfera e o campo magnético nos protegem da radiação cósmica, mas, no espaço, ficamos bastante expostos. Ao atravessar nosso corpo, um raio cósmico pode atingir átomos aleatórios e remover seus elétrons, colidir com o núcleo e transformá-lo em um elemento diferente, por exemplo. Células individuais podem ser destruídas ou modificadas sem prejuízo ao resto do corpo, mas, se o DNA for atingido, isso pode causar mutações que aumentam o risco de câncer.
Os embriões, nas primeiras semanas da gravidez, ainda estão se dividindo para formar os primeiros tecidos, então precisam continuar viáveis. No primeiro mês, período mais vulnerável, um só impacto de raio cósmico pode ser fatal, mas é muito improvável: o embrião é muito pequeno e os raios cósmicos são raros.
Nos períodos seguintes da gestação, os riscos são outros. No final do primeiro trimestre, a circulação placentária está formada, ou seja, o sistema de fluxo sanguíneo que conecta a mãe e o feto. Crescendo rapidamente, o feto passa a ser um alvo maior para os raios cósmicos, que também podem atingir o músculo uterino e causar contrações e até mesmo um parto prematuro.
O parto é um momento difícil na Terra, e, no espaço, pode ser pior, embora não fatal. Chega o próximo problema — o desenvolvimento do bebê no espaço. Agora a microgravidade pode ser um problema, já que a criança depende de reflexos posturais e coordenação para aprender a se movimentar. Levantar a cabeça, sentar, engatinhar e andar são atos que dependem da gravidade, e, sem um senso de cima e baixo, tais habilidades podem se desenvolver de maneira bem diferente, segundo Holden.
A radiação continua a ser um risco, podendo afetar o cérebro em constante crescimento do bebê e causar danos permanentes na memória, cognição, comportamento e saúde. Um nascimento no espaço é possível, de acordo com o cientista, mas ele considera que não estamos prontos para isso enquanto não tivermos preparo para proteger os bebês da radiação, do nascimento prematuro e dos efeitos desconhecidos da microgravidade.
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Fonte: The Conversation