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Como seria morrer em outros planetas — e o que fazer com o corpo?

Por| Editado por Patricia Gnipper | 29 de Outubro de 2021 às 22h20

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NASA
NASA

Aqui na Terra, costumamos dizer que “do pó viemos, e ao pó voltaremos”, em referência ao processo de decomposição do corpo humano — e de qualquer outro animal — após a morte. Esse processo está em harmonia com o ambiente de nosso planeta, que aprendeu, ao longo de milhares de anos, a absorver os compostos orgânicos para dar continuidade à vida na Terra. Mas como seria isso em outros planetas, ou mesmo no "vazio" espaço? E o que fazer com os corpos?

Quando morrermos, uma cadeia de eventos resulta no que chamamos de rigor mortis, a rigidez causada por uma mudança bioquímica nos músculos, especificamente o acúmulo descontrolado de cálcio nas fibras musculares. Em seguida, as enzimas quebram as paredes celulares, liberando seu conteúdo, enquanto as bactérias em nosso intestino escapam e se espalham por todo o corpo, devorando os tecidos moles. O rigor mortis só é desfeito quando os músculos são destruídos.

Esses processos de decomposição são fatores intrínsecos, que ocorrem no corpo independente de outras coisas, mas há fatores externos que influenciam esses mecanismos, como a temperatura, atividade das bactérias, a forma de preparar o corpo, ou até mesmo como ele é enterrado, se há presença de fogo ou água, e por aí vai. Na Terra, há muitas possibilidades, mas o resultado geralmente é a decomposição que conhecemos, até que reste apenas o esqueleto.

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A morte em outros mundos ou no espaço, por outro lado, pode resultar em algo bem diferente e, eventualmente, alguém terá que começar a pensar em como a humanidade vai lidar com isso. Se a exploração espacial continuar no rumo atual, será inevitável que humanos comecem a habitar em lugares como a Lua, Marte, ou mesmo passar muito mais tempo dentro de espaçonaves do que os seis meses que um astronauta costuma passar na Estação Espacial Internacional (ISS).

Isso significa que, sim, um dia haverá o primeiro cadáver humano em outro planeta (ou no espaço) e provavelmente haverá outras pessoas para decidir como lidar com isso. Um corpo deveria ser enterrado na Lua? Será que um cemitério lunar alteraria permanentemente a natureza do solo de nosso satélite natural? A resposta rápida seria sim, mas isso depende muito dos processos de decomposição. O solo lunar não “aprendeu” a decompor compostos orgânicos e, talvez, um cadáver fique inalterado no tal cemitério por muito, muito mais tempo do que ficaria na Terra.

Um dos fatores que pode mudar bastante o processo de decomposição é a gravidade — ou a ausência dela. É que a gravidade pode afetar o estágio de livor mortis, estado que vem antes do rigor mortis e representa a mudança de coloração que surge na pele dos cadáveres. Com o sangue estagnado pela ação da gravidade nas partes mais baixas do corpo, dependendo da posição, defini os processos que seguirão. Mas a falta de gravidade significaria que o sangue não se acumularia.

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Outro exemplo é a morte dentro de um traje espacial. O rigor mortis ocorreria por ser resultado da cessação das funções corporais, e as bactérias ainda fariam seu papel, mas elas precisam de oxigênio para sobreviver e executar suas funções vitais, incluindo a alimentação. Privadas de ar, elas morreriam e o processo seria bastante diferente a partir desse ponto. Além disso, os micróbios do solo também ajudam na decomposição em um cemitério, mas eles não estão presentes na Lua e — até onde sabemos — em Marte. Isso poderia resultar em uma preservação dos tecidos moles.

Um cemitério em Marte pode ser algo muito curioso e talvez precise ser muito bem planejado, se os corpos demorarem mais para decompor. Mas também pode acontecer o oposto. Em solos muito ácidos, por exemplo, o componente inorgânico do corpo pode desaparecer primeiro, deixando apenas os tecidos moles. A falta de umidade em todo o ecossistema marciano também pode resultar em tecidos moles secando rápido.

Por fim, como dito antes, a temperatura é um fator importante para a decomposição como a conhecemos. Na Lua, onde as temperaturas são extremas — muito quente no dia e extremamente frio à noite — os corpos podem apresentar sinais de alteração por congelamento, por exemplo. Com todas essas diferenças, talvez tenhamos dificuldades de tratar os mortos de modo prático, então é possível que a cremação se torne bastante comum para os funerais fora de nosso planeta.

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A NASA provavelmente já sabe o que fazer caso um astronauta morra no espaço. Uma das possibilidades é trazer de volta o cadáver para a Terra, o que exigiria manter o corpo o mais frio possível no meio-tempo. A ISS, não por esses motivos, conta com um compartimento gelado onde os astronautas armazenam lixo e restos de alimentos — ali, a ação de bactérias é diminuída. Esse mesmo compartimento mais frio da estação espacial poderia servir para guardar o corpo de um astronauta que faleceu.

Aparentemente, descartar um corpo no espaço próximo à Terra está fora de questão, porque ninguém quer que um cadáver acabe reentrando na nossa atmosfera — principalmente os entes queridos do finado astronauta, cujo corpo seria carbonizado com o atrito atmosférico, não restando absolutamente nada daquilo que um dia foi uma pessoa. Cremar um corpo em uma espaçonave também não é muito viável, então, ao menos no caso de morte em uma missão nas proximidades do nosso planeta, a solução seria mesmo trazer o corpo de volta.

Fonte: The Conversation