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Satélites ameaçam a relação milenar de povos australianos com o céu noturno

Por| Editado por Rafael Rigues | 26 de Abril de 2022 às 10h00

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Reprodução/den-belitsky/Envato
Reprodução/den-belitsky/Envato

As megaconstelações de satélites tem ameaçado não apenas as observações astronômicas, mas também a relação milenar dos povos indígenas da Austrália com o céu noturno.

Há milhares de anos os povos indígenas de diferentes partes do mundo têm uma relação profunda e contínua com o céu noturno ao longo do ano. Seus conhecimentos sobre a natureza não encaram céu e terra como partes separadas, mas complementares uma à outra.

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Para os aborígenes australianos, o surgimento da constelação da Ema no hemisfério celestial sul, no início do ano, é um momento de celebração. No entanto, essa constelação não é formada apenas por estrelas, mas, em sua maioria, por uma nebulosa escura. A luz dos satélites perturba esse arranjo, prejudicando a observação.

Com o número crescente de satélites lançados à órbita nos últimos anos, esse tipo de conhecimento ancestral fica cada vez mais ameaçado. Desde 2018 a Starlink, da SpaceX, já colocou mais de 2 mil satélites de sua constelação no espaço próximo à Terra e planeja enviar mais 30 mil.

Enquanto isso, a OneWeb já instalou 150 satélites em órbita, mas sua meta é lançar mais 6 mil. Jà a Amazon, através do Projeto Kuiper, almeja uma constelação de até 3 mil satélites. Todos eles prometem cobertura global de internet via satélite, mas a que custo?

Céu perturbado

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Desde que os satélites Starlink começaram a orbitar a Terra, relatos de “luzes estranhas” no céu noturno se tornaram frequentes. A astronomia já está acostumada com eventuais interferências em suas observações, mas as megaconstelações significam um céu noturno constantemente perturbado.

Quando os satélites atravessam o céu durante uma observação astronômica, eles produzem faixas luminosas nas imagens, o que pode comprometer uma boa parte dos dados científicos. A luz do Sol refletida pelos satélites também aumenta a poluição luminosa do céu noturno.

Pesquisadores consideram esse efeito um novo tipo de “skyglow”, um fenômeno no qual o brilho do céu é maior devido à poluição luminosa criada pelo ser humano. Em comparação ao brilho natural do céu noturno desde a década de 1960, esse “brilho extra” contribuiu para um céu 10% mais brilhante.

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A astrônoma Karlie Noon, da Astralian National University, explica que muitas culturas nativas do Estreito de Torres, no extremo norte da Austrália, não possuem um conceito de “espaço sideral” com o qual estamos acostumados. Eles têm “uma realidade contínua onde a convivência com todas as coisas é primordial”.

Enquanto isso, os povos Gamilaraay e Wiradjuri, presentes em Nova Gales do Sul, na costa leste australiana, usam a constelação da Ema para saber quando é o momento de caçar ovos de ema e quando parar. Com o aumento da poluição luminosa, como fica esse saber milenar?

A poluição luminosa também traz graves consequências para a fauna nativa da Austrália: espécies como o canguru Tamar, mariposas e tartarugas marinhas têm experimentado uma redução em suas populações e qualidade de vida.

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Há soluções?

Algumas empresas têm trabalhado para, ao menos, reduzir a luz do Sol refletida por seus satélites. A OneWeb, por exemplo, propôs instalar seus modelos a uma altitude mais baixa. Já a SpaceX, tentou reduzir a luminosidade de seus satélites com um revestimento antirreflexo.

Tal material só reduziu 50% da luz refletida. No entanto, isso se refere apenas à luz visível, mas observatórios astronômicos também trabalham com outros tipos de ondas.

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Vale destacar que frequentemente satélites de constelações distintas quase colidem em órbita, o que pode aumentar a grande quantidade de lixos espacial que já poluei o espaço próximo à Terra — estima-se pelo menos 20 mil detritos ao redor do planeta. Se nada for feito desde já, esse cenário só tende a piorar.

Fonte: Via The Conversation