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Detritos espaciais estão causando mais poluição luminosa do que se pensava

Por| Editado por Patricia Gnipper | 03 de Maio de 2021 às 17h30

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Um estudo realizado por pesquisadores da Eslováquia, Espanha e Estados Unidos investigou os impactos que as mais de 9 toneladas de objetos artificiais na órbita da Terra podem ter no céu noturno, e os resultados surpreenderam a equipe. O modelo com que trabalharam mostrou que estes objetos, como satélites e detritos orbitais, estão deixando os céus noturnos mais iluminados do que se pensava até então e, além disso, o efeito luminoso ocorre em áreas amplas.

Miroslav Kocifaj, autor que liderou o estudo, explica que o objetivo primário da equipe era estimar qual seria a possível contribuição que fontes externas, como objetos na órbita da Terra, teriam para o céu noturno. O modelo trouxe resultados bem diferentes do que a equipe esperava: “esperávamos que o aumento do brilho do céu fosse mínimo, isso se existisse, mas nossas primeiras estimativas teóricas se mostraram surpreendentes e nos encorajaram a anunciar os resultados”, disse.

A equipe produziu um modelo para o brilho geral do céu a partir de distribuições já conhecidas dos tamanhos e luminosidade dos objetos inseridos — incluindo satélites em operação, estágios de foguetes, entre outros — e, no fim, eles descobriram que a quantidade de objetos na órbita da Terra é capaz de aumentar o brilho geral do céu noturno para mais de 10% acima dos níveis de luz natural em uma grande parte do planeta. Essa estimativa fica acima do limite estabelecido há 40 anos, que permite classificar um local como fonte de poluição luminosa.

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Isso acontece porque os satélites e o lixo espacial espalham a luz solar refletida, o que produz emissões luminosas que se assemelham a objetos de interesse dos astrônomos. Essas fontes são percebidas de diferentes formas: embora os telescópios e câmeras mostrem os objetos espaciais como pequenos pontos de luz, os detectores de baixa resolução, como o olho humano, traduzem este efeito de forma diferente. Nesse caso, o que vemos é a combinação luminosa desses vários objetos como um aumento no brilho difuso do céu noturno, que prejudica a observação do que há nele, como as nuvens de estrelas da nossa galáxia.

John Barentine, co-autor do estudo, explica que, ao contrário da poluição luminosa causada por fontes de luz no solo, essas luzes artificiais no céu podem ser vistas em grandes áreas na superfície do nosso planeta: “os astrônomos construíram observatórios longe das luzes das cidades para ver os céus escuros, mas essa forma de poluição luminosa tem um alcance geográfico muito maior”, comenta ele. Além disso, os resultados do estudo trazem algumas implicações importantes e proporcionais à quantidade de novos satélites lançados.

Os astrônomos já expressaram preocupação em relação à quantidade crescente de objetos orbitando a Terra, principalmente quando o assunto são os grandes grupos de satélites que formam as chamadas “megaconstelações”. Além de aumentar as fontes de luzes artificiais no céu, eles também aumentam as chances de colisões entre satélites e outros objetos que, se ocorrerem, geram ainda mais detritos em órbita.

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Para reduzir os danos, as empresas que operam estes satélites já investiram em formas de mitigar o brilho das espaçonaves — a SpaceX aplicou revestimentos escuros e visores para reduzir a luz refletida por elas, mas o brilho dos satélites ainda era identificado por telescópios. Mesmo assim, vale lembrar que o efeito coletivo de um aumento expressivo no número de objetos orbitais é capaz de alterar a experiência do céu noturno para pessoas em todo o mundo, e os pesquisadores esperam que o estudo mude o diálogo entre as operadoras de satélites e os astrônomos em relação às melhores formas de gerenciar o espaço orbital. "Nossos resultados implicam que muito mais pessoas além dos astrônomos podem perder o acesso ao prestígio do céu noturno", disse Barentine. "Esse artigo pode realmente mudar a natureza dessa conversa".

O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society: Letters.

Fonte: Royal Astronomical Society, Space.com