Rússia afirma que irá abandonar a ISS a partir de 2024
Por Rafael Rigues |
O novo diretor da agência espacial russa (Roscosmos), Yuri Borisov, afirmou em encontro com o presidente Vladimir Putin que o país irá mesmo abandonar a estação espacial internacional (ISS) a partir de 2024, quando sua atual parceria com a NASA se encerra.
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"A decisão de abandonar a estação após 2024 foi feita", disse Borisov em um encontro com Putin. "Acredito que nesta época começaremos a formar a estação orbital russa", afirmou. O mesmo havia sido dito alguns meses atrás pelo diretor anterior da Roscosmos, o sempre polêmico Dmitry Rogozin.
Entretanto, parece que a Roscosmos ainda não comunicou a decisão à NASA. Segundo Robyn Gatens, diretora da ISS na NASA, "não recebemos nenhuma declaração oficial de nosso parceiro sobre as notícias de hoje", disse durante eventro sobre a ISS nesta terça-feira (26). Questionada se gostaria de encerrar a parceria, ela respondeu: "Não, absolutamente não. Eles têm sido bons parceiros, como todos os nossos parceiros, e queremos manter esta parceria para continuar operando a estação espacial ao longo desta década".
A agência espacial dos EUA espera manter a parceria com a Roscosmos até 2030, quando uma ou mais estações espaciais comerciais estariam prontas para substituir a ISS. Entretanto, uma análise recente sugere que esta pode ser uma previsão otimista demais, o que levaria a uma situação similar à que ocorreu com os ônibus espaciais: uma tecnologia é aposentada, sem que sua substituta esteja pronta para assumir seu papel.
Notem que apesar da aparente "linha dura", existe uma margem de manobra na declaração de Borisov. Ele fala em abandonar a ISS após 2024, não em 2024. Ou seja, tecnicamente os russos poderiam renovar a parceria com a NASA até 2030, e ainda assim estariam cumprindo o prometido a Putin.
Uma estação, dois mundos
A ISS é "dividida" em duas metades, o "lado americano" e o "lado russo", e construída de forma que um lado depende do outro para funcionar. Por exemplo, são os cargueiros russos Progress os responsáveis pelas manobras periódicas de ajuste de altitude que mantém a ISS em órbita ou a desviam de lixo espacial.
Também ficam no lado russo sistemas essenciais de controle de voo e suporte de vida, embora estes últimos sejam duplicados no lado americano. Ou seja, seria muito difícil para os norte-americanos manter a ISS em operação se os russos realmente "fecharem a porta" de seu lado e se despedirem em 2024.
Não é a primeira vez que a Rússia flerta com a ideia de construir sua própria estação espacial. O próprio Yuri Borisov havia mencionado a possibilidade em 2021, mas na época citando um motivo diferente: muitos módulos russos da ISS já cumpriram sua vida útil, e mantê-los em funcionamento fica cada vez mais caro à medida que o tempo passa.
O único empecilho para que a Rússia construa sua própria estação é o velho inimigo de todo mega-projeto: dinheiro. Uma nova estação teria um custo estimado em ao menos US$ 6 bilhões, e o programa espacial russo é notoriamente deficitário em termos de recursos. Isso leva a situações como o ocorrido com o módulo Nauka, que deveria ter sido lançado em 2007 mas só ficou pronto em 2021.
Além disso, as sanções impostas pelos EUA à Rússia devido à invasão da Ucrânia tornarão difícil para os russos conseguir muitos dos componentes tecnológicos necessários para a execução do projeto.
Enquanto EUA e Rússia discutem, China assiste
Enquanto isso, quem assiste a todo esse drama literalmente "de camarote" são os chineses. No último domingo eles enviaram ao espaço o Wentian, segundo módulo de sua estação espacial Tiangong.
Com ele, será possível dobrar o número de tripulantes em missões de longa duração, de três para seis. A estação também ganha um novo laboratório e uma nova escotilha que servirá de ponto de partida para caminhadas espaciais.
O terceiro e último módulo da Tiangong, chamado Mengtian, será enviado ao espaço em outubro, concluindo a construção da estação apenas um ano e meio após o início da montagem.
Fonte: The New York Times