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Por que descobrir mais um asteroide troiano perto da Terra é importante?

Por| Editado por Patricia Gnipper | 09 de Fevereiro de 2022 às 19h30

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NOIRLab/NSF/AURA/J. da Silva/Spa
NOIRLab/NSF/AURA/J. da Silva/Spa

Um novo asteroide troiano terrestre foi descoberto, sendo apenas o segundo conhecido deste tipo. Designada 2020 XL5, a rocha espacial fica no Ponto de Lagrange 4, uma região próxima à Terra que permite a um objeto orbitar o Sol acompanhando a órbita de nosso planeta. A descoberta contou com a participação de pesquisadores que atuam no Brasil — e, entre eles, está Alvaro Alvarez-Candal, astrônomo do Observatório Nacional, que conversou com o Canaltech a respeito.

A confirmação da existência do objeto foi o feliz resultado de uma década de buscas. Os pesquisadores usaram o SOAR (SOuthern Astrophysical Research Telescope), um telescópio com abertura de 4,2 m instalado em Cerro Pachón, uma montanha nos Andes Chilenos. “As observações foram realizadas de maneira remota pelos observadores, junto do apoio fenomenal da equipe do SOAR, Luciano Fraga (do Laboratório Nacional de Astrofísica) e a equipe de operadores”, disse Alvarez-Candal.

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Ele conta que a equipe de observação estava na Espanha, conectada ao SOAR; depois, eles enviavam as informações a Fraga, que comandava as observações no telescópio. O trabalho não foi fácil: geralmente, objetos como este podem ser vistos muito perto do Sol, em breves janelas entre a saída do asteroide no horizonte e o nascer do nosso astro. Por isso, os telescópios precisam ficar apontados bem para baixo no céu.

A posição dos instrumentos implica em piores condições de visualização, que se somaram a outros desafios. “Para complicar as coisas, o 2020 XL5 está próximo da Terra e se movimenta rapidamente, e era difícil detectá-lo em imagens únicas”, contou o astrônomo. “Precisamos somar várias [imagens] para ter dados de qualidade suficientes para sua utilização científica”.

De acordo com a equipe científica que descobriu o asteroide, ele parece ter, aproximadamente, 1 km de extensão; portanto, ele é maior que o asteroide 2010 TK7, o primeiro troiano terrestre identificado. Além disso, o 2020 XL5 está em uma região de estabilidade gravitacional, mas não continuará nela para sempre: os pesquisadores acreditam que ele deverá permanecer por lá durante, no mínimo, 4 mil anos, o que lhe confere o título de “troiano transitório”.

A importância de descobrir um asteroide troiano terrestre

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Asteroides troianos são considerados objetos de grande importância científica, porque podem conter registros únicos das condições presentes durante a formação do Sistema Solar.

No caso do 2020 XL5, mais dados serão necessários para entender o que ele pode nos dizer sobre o passado da nossa vizinhança. “O 2020 XL5 é um objeto com órbita transitória, vindo de algum outro lugar do Sistema Solar, mas a qualidade da órbita que temos ainda não é suficiente para estudarmos a sua dinâmica tão a fundo, e assim poder dizer de onde poderia ter vindo”, conta Alvarez-Candal.

Por outro lado, outro tipo de asteroide também poderia trazer esclarecimentos importantes. “Um troiano que não fosse transitório poderia nos dar muita informação sobre o sistema Terra-Lua, já que ele poderia ter se formado do mesmo material que formou a proto-Terra”, sugeriu o astrônomo. “Ou, aqui estou especulando, do mesmo material que formou a Lua após o evento que a originou”, propôs.

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Devido à alta inclinação de sua órbita em relação à Terra, enviar uma missão espacial com destino ao 2020 XL5 é inviável. “Porém, a algum outro troiano com inclinação próxima à da Terra, aí sim seria interessante: não somente do ponto de vista científico, para sabermos sua composição, sua estrutura interna, o grau de evolução da superfície, mas também porque pode ser uma fonte acessível de recursos”, explicou Alvarez-Candal, ao Canaltech.

Hoje, a equipe já tem missões em andamento no SOAR para tentar observar outro asteroide, que possa se tornar o alvo de uma futura missão espacial. “Estamos interessados em caracterizá-lo muito bem, saber como — e se — suas propriedades mudam com a rotação do objeto, especialmente desde o espectro [da luz] visível até o infravermelho próximo”, concluiu.

Fonte: ON