Plutão | A trajetória de um ex-planeta a planeta anão
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Plutão, um planeta anão e o nono maior corpo celeste do Sistema Solar, já foi considerado um planeta — sua história desde a descoberta, há quase 100 anos, revirou o mundo científico inúmeras vezes. Alvo de polêmicas e de estudos, ele possui inúmeras curiosidades, desde sua composição à sua trajetória pelo espaço.
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- Há 12 anos, Plutão deixou de ser considerado um planeta no Sistema Solar
O mais famoso dos planetas anões foi descoberto pelo astrônomo americano Clyde Tombaugh em 1930, a partir do Observatório Lowell, nos Estados Unidos. Ao longo dos anos, suas luas foram sendo descobertas, até que, no século XXI, mais informações sobre elas e sobre a órbita de Plutão levaram ao seu infame “rebaixamento”.
Porque Plutão não é mais um planeta?
Desde a descoberta de Plutão, muitos astrônomos especularam que outros corpos celestes seriam descobertos para além de Netuno, no chamado Cinturão de Kuiper, um anel de asteroides que marca a “fronteira” do Sistema Solar.
O que esquentou especialmente o debate foi a descoberta de Éris, em 2005, agora um planeta anão, cujo tamanho à época se acreditava ser maior do que o de Plutão. Com isso, ou Éris seria o décimo planeta, ou Plutão não seria mais um deles.
A União Astronômica Internacional, então, juntou-se para debater o tema, num longo debate que envolveu 424 astrônomos, em 2006. A pequena quantidade de cientistas, em comparação com o número de astrônomos no mundo, é alvo de polêmicas, mas o fato é que o grupo votou para mudar a definição de planeta e também definir outros objetos celestes.
Agora, um planeta deve:
- Ser esférico, em um formato gerado pela própria gravidade;
- Orbitar o Sol;
- Ser predominante em sua órbita, ou seja, não compartilhá-la com outros objetos significativamente grandes.
Plutão obedece aos dois primeiros critérios, mas não é predominante em sua órbita, já que sua lua Caronte gira em seu entorno e o baricentro de suas órbitas fica no espaço livre entre eles, e não em nenhum dos corpos celestes — isso, inclusive, leva alguns cientistas a considerá-los um sistema binário de planetas anões.
O então definido planeta anão também não possui gravidade o suficiente para “limpar” a órbita de uma série de outros objetos menores, fortalecendo o argumento.
Críticos da ideia, como o astrônomo Alan Stern, afirmam que Terra, Marte, Júpiter e Saturno também deveriam ser planetas anões, então, já que suas órbitas são compartilhadas com inúmeros asteroides. Em alguns lugares, como nos estados americanos do Novo México e Illinois, Plutão ainda é considerado planeta devido a resoluções legislativas.
Características de Plutão
O antigo nono planeta possui o diâmetro de cerca de 2.376,6 km, cerca de 66% do diâmetro da nossa Lua. Ele está, no momento, a 32,9 UA do Sol (unidades astronômicas — cada uma tem a medida da distância da Terra até a estrela central), ou cerca de 5,92 bilhões de quilômetros.
Como sua órbita é elíptica e bastante excêntrica, a distância do Sol pode variar entre 30 e 49 UA, chegando mais perto do que Netuno durante certos períodos. Com isso, a luz solar leva cerca de 9 horas para chegar até Plutão. Seu eixo está inclinado a 120º, o que quer dizer que o planeta anão gira “lateralmente” sobre o plano orbital do Sistema Solar, como uma bola girando no chão, assim como Urano.
Ele também gira de leste para oeste, como o sétimo planeta. Por lá, leva-se 6,39 dias para girar em torno do próprio eixo, completando um dia. Já um ano em Plutão leva 248 anos (tempo gasto para completar uma órbita), o que quer dizer que desde a sua descoberta não se passou um ano no corpo celeste, o que só deve acontecer em 2178.
Sua área de superfície é de 16,65 milhões de km², menos do que a América do Sul, que conseguiria “abraçar” Plutão por completo. A temperatura mínima é de -240 ºC, menor do que a do planeta mais frio do sistema solar, Urano, e fica numa média de -229 ºC. A composição da atmosfera é de nitrogênio, metano e monóxido de carbono. Acredita-se que, no interior, exista 60% de rocha e 40% de gelo.
Quando se afasta do Sol, a atmosfera do planeta anão congela aos poucos e acaba caindo na superfície — quando está perto, o gelo da superfície esquenta e é sublimado, virando gás. Curiosamente, isso gera um efeito anti-estufa, gelando o planeta. A massa de Plutão é de 1,32 × 1022 kg, menos de 0,24% da massa da Terra.
A distância de Plutão do Planeta Terra dificulta seu estudo via telescópios, então muitas informações importantes foram conseguidas apenas com a viagem da sonda New Horizons, que chegou perto do planeta anão em 14 de julho de 2015, o fotografando pela primeira vez e descobrindo muito sobre suas luas — no caminho, a sonda já conseguiu identificar novos satélites naturais.
Satélites de Plutão
A ciência conhece cinco satélites naturais orbitando Plutão — Caronte, Nix, Hidra, Cérbero e Estige. O primeiro foi descoberto em 1978, e, como sua órbita e rotação coincidem com as do planeta anão, há acoplamento de marés, ou seja, ambos os corpos celestes encaram o mesmo lado um do outro eternamente. Com metade do tamanho de Plutão, Caronte é, proporcionalmente, a maior lua do Sistema Solar.
Já as pequenas Nix e Hidra foram descobertas pelo Telescópio Espacial Hubble em 2005 e nomeadas em 2006 — os nomes foram escolhidos para refletir as iniciais da sonda New Horizons. As luas Estige e Cérbero foram descobertas nos anos de 2011 e 2012, respectivamente, sendo também menores do que suas companheiras. Todas seguem o padrão de nomes mitológicos greco-romanos.
Curiosidades sobre Plutão
O planeta anão foi nomeado pelo Observatório Lowell após mais de 1.000 sugestões dadas por pessoas de todo o mundo. Quem venceu foi uma menina britânica de 11 anos, Venetia Burney, entusiasta de astronomia e mitologia clássica, e recebeu cinco libras como recompensa. Outras propostas incluíam Minerva e Cronos.
Plutão é o deus romano do submundo e dos mortos, equivalente à divindade grega Hades. O personagem da Disney Pluto possui esse nome em homenagem ao planeta anão (em inglês, o corpo celeste também chama-se Pluto), e o cientista Glenn Theodore Seaborg nomeou o elemento químico que descobriu em 1941 como plutônio, como também ocorreu com os elementos urânio e netúnio.
A famosa foto da sonda New Horizons revelou um “coração” na superfície de Plutão, uma enorme planície que lembra a forma estilizada de um coração humano. Ela é chamada de Sputnik Planitia e possui dunas de areia, feitas de gelo sólido de metano. Assim como Plutão, Ceres e Éris já foram considerados planetas quando de sua descoberta.
Éris, o segundo maior planeta anão do Sistema Solar, recebeu esse nome porque sua descoberta, em 2005, causou grande discórdia na astronomia e levou ao rebaixamento de Plutão. Na mitologia grega, Éris é a deusa da discórdia (que, inclusive, é o nome romano da deusa). Ela possui apenas um satélite, Disnomia, que, na mitologia, é filha de Éris e representa a ilegalidade.
Caso Plutão estivesse tão distante do Sol quanto a Terra, o planeta anão desenvolveria uma cauda, como um cometa, já que os ventos solares assopram sua superfície para o espaço gradualmente.
Imagens históricas de Plutão
A imagem histórica mais importante de Plutão não pode deixar de ser a fotografia da sonda New Horizons, tirada em 14 de julho de 2015, a 450 mil km do planeta anão. Foi ela que revelou a planície do coração e diversos outros aspectos importantes dele e de suas luas.
A sonda também registrou a atmosfera de Plutão nos entornos do planeta quando de sua passagem, mostrando o metano sublimado criando uma aura azulada. O aspecto de crescente foi tomado a 200.00 km de distância. Foi o Observatório Aéreo de Kuiper que descobriu a primeira evidência de sua atmosfera, em 1985.
Outra imagem histórica tomada pela New Horizons — sonda que levou uma porção das cinzas de Clyde Tombaugh até Plutão — mostra o planeta anão junto a sua maior lua, Caronte, demonstrando o tamanho de ambos e sua órbita compartilhada.
Idade média | 4,5 bilhões de anos |
Distância da Terra | entre 4,4 bi e 7,4 bi km |
Satélites | 5 |
Composição | nitrogênio, metano, monóxido de carbono |
Temperatura média | -229 ºC |
Área da superfície | 16.650.00 km² |
Duração do dia | 6,39 dias |
Período orbital | 248 anos |
Gravidade | 0,658 m/s² |
Massa | 1,32 × 10²² kg, menos de 0,24% da massa da Terra |
Raio | 1.188,3 km |