O Sistema Solar pode ter recebido menos objetos interestelares do que pensávamos
Por Danielle Cassita | Editado por Patricia Gnipper | 21 de Outubro de 2021 às 13h30
O 1I/ʻOumuamua (ou somente Oumuamua, se preferir) é um objeto vindo de fora do Sistema Solar que foi identificado em 2017 e, quase dois anos depois, foi a vez de o cometa 2I/Borisov ser descoberto passeando por aqui. Embora a visita de ambos os objetos tenha sido rápida, eles renderam questionamentos interessantes. Afinal, quanto do Sistema Solar foi realmente formado por aqui? E quanto do material que originou a nossa vizinhança é, na verdade, parte de objetos de fora dela? Pois são estas as perguntas que pesquisadores da Universidade do Michigan e do Instituto de Tecnologia da Califórnia tentam responder em um novo estudo.
- Com a tecnologia atual, poderíamos coletar amostras de objetos como o Oumuamua?
- Objetos interestelares podem desaparecer antes de chegar perto da Terra
- Com que frequência o Sistema Solar recebe a visita de objetos interestelares?
Quando chegaram ao Sistema Solar, estes objetos alimentaram especulações sobre quantos outros objetos interestelares podem existir galáxia afora — pode haver de centenas a trilhões deles, mas a quantidade exata depende do quão comum é a ejeção de detritos após a formação de sistemas planetários. Por enquanto, objetos extrassolares ainda não foram encontrados orbitando o Sol, o que não significa, necessariamente, que eles não existam. Entretanto, estudar um por vez em busca de algum asteroide ou cometa “estrangeiro” é um processo lento, porque não sabemos exatamente a frequência da ocorrência dessas rochas.
Assim, os autores do estudo sugeriram estimar a quantidade de objetos interestelares observados e monitorar o período em que eles ficam por aqui. Para isso, realizaram uma série de simulações acompanhadas pelo estudo do comportamento de mais de 270 mil objetos vindo para o Sistema Solar em todas as direções e velocidades possíveis. Em seguida, a equipe relacionou a evolução desses objetos simulados às condições do Sistema Solar há 1 bilhão de anos, e descobriram que a maior parte dos visitantes não sobreviveria aqui muito tempo.
Se forem para dentro da órbita de Júpiter, eles seriam engolidos pelo planeta ou expelidos para o restante do sistema. Por outro lado, caso se aproximem de um plano próximo de outros planetas, as influências gravitacionais provavelmente iriam expulsar os objetos. Por isso, a tendência de permanecerem por aqui por milhões de anos se deve mais às órbitas grandes e alongadas, de modo que levaria alguns milhões de anos para descobrirmos se eles vão realmente ficar por aqui a longo prazo.
Entre os mais de 270 mil objetos simulados, apenas 13 ficariam por aqui por mais de 500 milhões de anos, e somente 3 resistiram por um bilhão de anos. Já em relação à estimativa de quantos estão atravessando o Sistema Solar, os pesquisadores concluíram que o Sol pode ter capturado objetos suficientes durante sua juventude para, assim, formar 1/1000 da massa da Terra — isso é o suficiente para formar seis asteroides do tamanho do planeta anão Ceres. Portanto, desde a formação do Sistema Solar, é possível que poucos objetos parecidos com o Oumuamua e o Borisov tenham aparecido por aqui anualmente.
Esse resultado traz algumas implicações importantes. Primeiro, os cientistas não deveriam se preocupar tanto em procurar objetos de fora visitando nosso sistema, porque eles seriam, então, extremamente raros. Segundo, a teoria da panspermia, aquela que propõe que a vida pode ter chegado à Terra “de carona” em algum objeto espacial, não seria tão sustentável porque não haveria material suficiente viajando pela galáxia e entrando em sistemas planetários para isso acontecer.
O artigo com os resultados do estudo foi aceito para publicação na revista The Planetary Science Journal, e pode ser acessado no repositório online arXiv, ainda sem revisão de pares.
Fonte: Space.com