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Não, cadáveres de ETs mostrados no Congresso do México não são reais!

Por| Editado por Patricia Gnipper | 14 de Setembro de 2023 às 09h56

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Pete Linforth/Pixabay
Pete Linforth/Pixabay

Um evento realizado na Câmara dos Deputados do México nesta terça-feira (12) contou com uma presença inusitada: um suposto cadáver mumificado do que seria uma criatura alienígena, apresentado por um pesquisador e apresentador de televisão. Mas será que a história é verídica ou se trata de mais uma fraude noticiada com sensacionalismo? É o que vamos explicar nessa matéria.

Jamie Maussan, jornalista, pesquisador e apresentador de programas sobre ufologia, apresentou os supostos restos mortais do que descreveu como “seres não humanos” aos legisladores, durante a primeira audiência pública do país sobre o assunto. Os encontros na Câmara mexicana pegam o embalo das audiências que ocorreram nos Estados Unidos sobre o mesmo tema.

Maussan entrou na casa dos deputados com duas caixas contendo os supostos corpos mumificados de extraterrestres, alegadamente recuperados no Peru em 2017. A anatomia chama a atenção por se tratar de pequenos humanoides — que, aliás, são muito semelhantes às imagens de ETs gravadas no inconsciente coletivo graças a décadas de apresentações como essas e, claro, a filmes de Hollywood.

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Os supostos corpos possuem crânios desproporcionais, três dedos em cada mão e, segundo Maussan, aparentam ter ovos com embriões dentro de si. Essa apresentação bizarra não é inédita na comunidade ufóloga, mas é no mínimo questionável que ocorra dentro do Congresso de um país, seja qual for.

O Congresso do México realizou a conferência não apenas para falar sobre um suposto corpo de alienígena, mas também para discutir se o tema deve ser incluso na Lei de Proteção do Espaço Aéreo. Se aprovado, o México vai ser a primeira nação a reconhecer formalmente a presença de vida alienígena já existente na Terra, segundo a agência de notícias Reuters.

Alienígenas no México?

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Antes de falar sobre o caso, é preciso reforçar que toda declaração sobre um assunto tão sensível deve ser considerada com uma boa dose de ceticismo até que cientistas qualificados apresentem resultados consistentes, obtidos por meio de estudos cuidadosos. Isso inclui testes realizados em vários laboratórios por equipes independentes, repetidas vezes. Também é necessário apresentar os resultados em artigos científicos que descrevam em detalhes os métodos utilizados.

Esses artigos devem, então, ser submetidos a revistas científicas prestigiadas para revisão de pares, garantindo também acesso a qualquer cientista do mundo que deseje fazer sua própria análise. O processo é a base do método científico e, sem ele, não seria possível averiguar a veracidade de qualquer afirmação, seja qual for a descoberta ou alegação. Em assuntos como este, é preciso ainda mais cautela.

Maussan disse que a Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) realizou um teste de datação de carbono-14 e, com isso, determinou que os restos mortais tinham 700 e 1.800 anos. Ele também afirmou que os testes também obtiveram o DNA usando a datação por carbono. Conceitualmente, isso não faz sentido, porque os testes de DNA usam métodos bem diferentes daquele usados na datação.

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Após a circulação das imagens dos supostos corpos extraterrestres, o Instituto de Física da Universidade Autônoma do México publicou um comunicado, declarando que os pesquisadores da instituição não examinaram em momento nenhum os espécimes; na verdade, eles fizeram somente testes com carbono em amostras de pele fornecidas por um cliente. Ainda, acrescentaram que o laboratório da Universidade que executou os testes "se disassocia de qualquer uso, interpretação ou representação incorreta subsequente dos resultados obtidos".

Pode ser que Maussan tenha se confundido, mas este é um grande alerta vermelho sobre a confiança que podemos lhe dar. Por falar em confiança, ele já é figurinha carimbada na comunidade científica que se dedica a desmentir fraudes. Em 2017, o apresentador de TV já havia anunciado ao mundo outro suposto fóssil de alienígena encontrado no Peru, em uma região Inca, entre as cidades de Palpa e Nazca. Na época, sua “descoberta” foi desmascarada como falsa.

Maussan também estava acompanhado por pelo ex-piloto da Marinha dos EUA Ryan Graves, que recentemente apresentou um caso semelhante aos políticos dos EUA em Washington, mas sem apresentar nenhum corpo. No México, ele afirmou que os OVNIs “representam uma prioridade urgente tanto para a segurança aeroespacial quanto para a investigação científica”.

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Apesar do alarde, não há nenhuma evidência conclusiva, e as amostras dos supostos fósseis não foram distribuídas para outros institutos de pesquisa independentes. Esse é um outro grande alerta vermelho, pois uma descoberta desse porte deveria contar com um trabalho conjunto com a comunidade científica, e não ficar apenas nas mãos de um único indivíduo.

Enquanto a mídia declaratória tratar assuntos como esse com sensacionalismo, citando apenas as falas dos que apresentam as evidências suspeitas, acontecimentos como este vão se tornar um prato cheio para oportunistas. Em 2015, Maussan esteve envolvido com outro caso semelhante: ele reportou ao site Gaia.com a existência de uma dessas múmias de Nazca, mas logo as pesquisas descobriram se tratar do corpo de uma criança.

O site Gaia.com possui uma plataforma para divulgação de pseudociências, teorias de conspiração, contato com "anjos", círculos nas plantações, entre outros. A empresa lucra US$ 95,40 por ano de cada assinante.

Quando há suspeitas de fraude, é dever alertar o público informando não apenas o passado questionável do autor, mas também como a ciência trata o assunto. Afinal, combater as farsas também inclui a divulgação de como a ciência séria trabalha ao pesquisar a vida alienígena.

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Fonte: Câmara do MéxicoCBSThe Atlantic, El Pais, CNN, UNAM