Publicidade

Hibernação em viagens espaciais longas pode acontecer já na próxima década

Por  • Editado por  Patricia Gnipper  |  • 

Compartilhe:
SpaceWorks Enterprises
SpaceWorks Enterprises

Os primeiros estudos de hibernação realizados com seres humanos podem acontecer na próxima década. Ao menos essa é a estimativa de Jennifer Ngo-Anh, pesquisadora de Exploração Humana e Robótica na Agência Espacial Europeia (ESA). Ela participou de um estudo publicado na revista Neuroscience & Biobehavioral Reviews, que descreve a abordagem da ESA quando o assunto são pesquisas em hibernação.

Pode soar como algo digno de filmes de ficção científica, mas na verdade experimentos de hibernação (ou “torpor”, como este estado também é conhecido) com humanos podem abrir o caminho para missões espaciais a destinos distantes. Em uma viagem a Marte, por exemplo, que poderia durar cerca de um ano, os tripulantes não precisariam se alimentar diariamente e ainda consumiriam menos oxigênio para manter seus organismos funcionando em repouso.

Segundo Ngo-Anh, as pesquisas sobre torpor dependem da disponibilidade de orçamento, mas é possível que os primeiros testes com humanos aconteçam durante a década de 2030. “Claro, precisamos refinar tudo antes de aplicarmos a humanos, mas eu diria que 10 anos é um cronograma realista”, disse.

Canaltech
O Canaltech está no WhatsApp!Entre no canal e acompanhe notícias e dicas de tecnologia
Continua após a publicidade

Alguns estudos recentes já mostraram que é possível induzir o torpor em animais que não hibernam, como ratos, e fazê-los acordar em segurança após alguns dias. Assim, surge o questionamento: o torpor induzido será seguro o suficiente para ser administrado em humanos a bordo de pequenas naves espaciais, sem supervisão médica e equipamentos disponíveis aqui na Terra?

Astronautas podem hibernar?

Para Ngo-Anh, a hibernação é a única forma de enviar pessoas em missões espaciais de longa duração. É que, além da disponibilidade de recursos, ela observa também os problemas relacionados ao corpo humano após a exposição prolongada à microgravidade.

“Este é um problema real para os astronautas”, disse, em referência aos tripulantes na Estação Espacial Internacional. Ela destaca que eles precisam de exercícios físicos intensos enquanto estão no laboratório orbital, senão terão problemas graves de saúde física quando retornarem à Terra.

Há estudos que indicam que os efeitos da microgravidade no corpo humano são parecidos com aqueles de repouso prolongado em leitos — mas, curiosamente, animais que acordam da hibernação mostram alto nível de atividade, relembrando rapidamente de seus arredores e de onde deixaram alimentos.

Os pesquisadores acreditam que o segredo dos efeitos protetores no estado de torpor pode estar na fisiologia. A taxa de batimentos cardíacos de um animal em torpor cai para algumas batidas por minuto, e a temperatura corporal é reduzida significativamente. Portanto, é como se a vida dele estivesse em uma pausa — e o “botão” para entrar neste estado pode ser o segredo para missões espaciais de longa duração.

Continua após a publicidade

Se um astronauta partir em uma missão a Marte em estado de hibernação, ele poderia acordar sem sofrer os efeitos negativos do repouso prolongado e da microgravidade. Ainda, estas propriedades são promissoras também para a medicina. “Após você deixar a Unidade de Tratamento Intensivo, se ficar lá muito tempo, você é como um esqueleto por causa da degradação do metabolismo que se instaura”, disse Alexander Choukèr, professor de medicina na Universidade Ludwig Maximilians, na Alemanha. “Poder apertar um botão de 'pausa' mudaria tudo”, finalizou, prevendo que investir na hibernação espacial também deve trazer vantagens à medicina aqui na superfície, beneficiando as pessoas em geral.

Fonte: Neuroscience & Biobehavioral Reviews, Space.com

Seu resumo inteligente do mundo tech!Assine a newsletter do Canaltech e receba notícias e reviews sobre tecnologia em primeira mão.
*E-mail
*