Evidências do Planeta 9 podem ser explicadas por gravidade modificada
Por Daniele Cavalcante • Editado por Patricia Gnipper |

As órbitas estranhas de alguns corpos do Sistema Solar levaram pesquisadores a cogitar a existência de um planeta ainda não descoberto, apelidado de Planeta 9. Mas um novo estudo mostra que, no lugar de um mundo desconhecido, essas órbitas podem ser o resultado de uma falha na teoria da gravitação newtoniana.
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O Planeta 9 foi proposto quando os astrônomos perceberam uma órbita estranha em alguns objetos do Cinturão de Kuiper, região povoada por grandes pedras de gelo e cometas. Esses corpos também são conhecidos como transnetunianos extremos (na sigla ETNOs), porque ficam muito além da órbita de Netuno.
Alguns desses ETNOs têm órbitas inclinadas de forma semelhante e com alinhamentos que não podem ser explicados pela teoria da gravidade vigente a menos que exista alguma coisa influenciando seus trajetos — como um planeta, por exemplo.
Por isso, a hipótese de um mundo massivo naquela região foi proposta desde a descoberta da órbita do objeto 90377 Sedna, em 2004. Mais tarde, outros corpos (2012 VP113, 2004 VN112, 2010 GB174, 2000 CR105 e 2010 VZ98) foram descobertos com a mesma anomalia.
A lógica não é muito diferente daquela que levou à descoberta de Netuno em 1846, encontrado devido à sua influência gravitacional sobre outros objetos do Sistema Solar. Na verdade, as hipóteses sobre outro mundo além de Netuno começaram em 1906, quando o apelido do suposto corpo massivo era Planeta X.
Embora as pesquisas sobre o planeta hipotético não tenham obtido nenhum resultado concreto, ainda hoje os pesquisadores tentam encontrá-lo. Agora, o novo estudo sugere outra explicação para as órbitas estranhas: uma teoria gravitacional diferente daquela apresentada por Isaac Newton, chamada Dinâmica Newtoniana Modificada (ou apenas MOND).
A gravidade modificada
O MOND é um modelo de gravitação que altera a teoria de Newton, a mais aceita e comprovada para explicar a gravidade em pequenas escalas; no caso das escalas maiores, a gravitação é descrita na Teoria da Relatividade Geral, de Albert Einstein. Nesse modelo, a física Newtoniana ainda é válida, mas descartada em velocidades abaixo de um determinado limite.
Assim, Harsh Mathur, que é cientista da Case Western Reverse, e a professora de física do Hamilton College Katherine Brown, conduziram o estudo para saber se o MOND seria descartado pelas órbitas estranhas no Cinturão de Kuiper. Os resultados mostraram o contrário: a dinâmica newtoniana modificada se encaixa perfeitamente em todas as evidências do Planeta 9.
Se o MOND estiver correto, as órbitas dos objetos estranhos poderiam ter sido arrastadas gravitacionalmente para se alinharem com o centro da Via Láctea, em vez de estarem alinhadas com o resto do Sistema Solar. Os autores do artigo disseram que “o alinhamento é impressionante”.
Isso não significa que o MOND está correto, nem mesmo que as órbitas dos ETNOs são uma evidência para a gravitação modificada. Para chegar a esse ponto, muitas outras aplicações desse modelo teriam que ser testadas e funcionar sem invalidar as observações — o que não é algo fácil de se fazer.
De qualquer forma, Brown conclui que esses resultados mostram como o nosso Sistema Solar ainda pode ser usado como um “laboratório para testar a gravidade e estudar problemas fundamentais da física”.
O artigo foi publicado no The Astronomical Journal.
Fonte: EurekAlert, The Astronomical Journal