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Quais estrelas do nosso céu podem já estar mortas?

Por| Editado por Patricia Gnipper | 05 de Dezembro de 2020 às 17h00

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Reprodução/Jacub Gomez/Pixabay
Reprodução/Jacub Gomez/Pixabay

Você já deve ter ouvido alguém dizer que as estrelas que vemos no céu já estão mortas, certo? De fato, observar o céu noturno — e o universo — é uma forma de olhar para o passado, uma vez que a luz desses objetos demora muito tempo para chegar até nós. Ou seja: o que vemos no céu no momento presente, é a luz que partiu de sua origem há milhares e milhares de anos. Entretanto, isso não significa, necessariamente, que os pontos de luz observamos a olho nu são emitidos por objetos que já encerraram suas vidas, apenas que a luz que vemos fez uma longa viagem até nos alcançar.

Ao observar o céu sem outras fontes de luz, podemos ver cerca de 9 mil estrelas, cuja luz viajou a 300 mil quilômetros por segundo até chegar aqui. Claro que existe uma infinidade de outras delas, já que estas 9 mil são as que estão mais próximas da Terra: a mais brilhante é o sistema binário Sirius, a apenas 8,6 anos-luz de distância de nós. Já a estrela Daneb, na constelação de Cygnus, o Cisne, está a 3 mil anos-luz de nós — a luz dessa estrela partiu em sua jornada em nossa direção quando Roma antiga ainda era formada por pequenos vilarejos!

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Na verdade, 3 mil anos pode parecer um longo tempo, mas é um período relativamente insignificante perto da vida das estrelas comuns, que pode chegar aos bilhões de anos. Tudo começa quando as nebulosas, os "berçários" compostos por nuvens de gás e poeira, formam regiões de alta densidade. Ali, existe massa o suficiente para que o gás e a poeira comecem a colapsar devido à ação da gravidade e, conforme isso acontece, a pressão vai aquecendo o material no centro, formando uma protoestrela. Algum dia, esse jovem núcleo vai ficar tão quente que vai iniciar fusão nuclear e, ali, nascerá uma estrela.

Este é um processo em que uma estrela do tamanho do Sol, por exemplo, levaria por volta de 50 milhões de anos para passar pelo início do colapso até a vida adulta. Assim, ao longo da vida, elas são alimentadas pela fusão nuclear do hidrogênio, que forma hélio em seu interior. Este fluxo de energia da região central fornece a pressão necessária para evitar que a estrela sofra colapso sobre seu próprio peso. As estrelas de sequência principal recebem essa classificação quando mantêm temperatura e luminosidade estáveis, e elas aparecem em diversas cores e luminosidades. Nisso, as menores são as anãs vermelhas, que podem ter cerca de 10% da massa do Sol e são as mais comuns no universo. Enquanto isso, existem as hipergigantes, que podem ser mais de 100 vezes mais massivas que o Sol.

Isso pode significar uma vida breve: geralmente, quanto maior a estrela, menor sua vida — embora todas elas, exceto as mais massivas, vivam por bilhões de anos. É que, depois que não há mais hidrogênio para a fusão, as reações nucleares são encerradas. Sem a produção de energia, o núcleo inicia um colapso sobre si mesmo e fica muito mais quente, de modo que as camadas externas da estrela são empurradas e se expandem, originando uma gigante vermelha. Já mais para o final da vida de estrelas de massa média, como o Sol, o que resta é uma pequena e quente anã branca. No caso das estrelas com mais de oito vezes a massa solar, elas morrem em supernovas, explosões poderosíssimas, ou como supernovas planetárias.

As estrelas supergigantes, por sua vez, não chegam aos 10 milhões de anos, porque consomem seu combustível "rápido demais" e não conseguem evitar o colapso. Entretanto, se o núcleo da estrela tiver algo entre oito e dez massas solares, seu colapso poderá dar origem a um buraco negro, um objeto infinitamente denso com gravidade tão forte que nem a luz consegue escapar de sua ação. Então, no fim das contas, não é que não existam estrelas mortas quando olhamos para o céu, mas sim que a maior parte delas pertence à sequência principal e está perfeitamente ativa — e pode ficar tranquilo, porque elas vão continuar assim por mais um bom tempo.

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É claro que, ao observar as profundezas do universo com telescópios de grandes observatórios, é possível obter imagens de lugares a bilhões de anos-luz de distância no espaço. Nesse caso, é bastante possível que boa parte das estrelas nas galáxias mais distantes estudadas já tenham morrido há um bom tempo. Além disso, vale lembrar que nada disso significa que estamos ficando sem estrelas, já que muitas outras delas já nasceram, só que sua luz ainda não nos alcançou para que possamos vê-las.

Mesmo assim, existem algumas que já avançaram tanto em suas etapas de desenvolvimento que, talvez, já não estejam mais por aqui. Conheça algumas estrelas que são possíveis candidatas àquelas já mortas:

Betelgeuse

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Localizada na constelação de Orion, Betelgeuse é uma supergigante vermelha que tem cerca de mil vezes o tamanho do nosso Sol e é uma das estrelas mais brilhantes no céu noturno. Essa estrela é um objeto de grande interesse para cientistas, que vêm acompanhando as variações de seu brilho atentamente — recentemente, seu brilho sofreu redução e este poderia ser um sinal de que ela estava prestes a nos proporcionar uma explosão de supernova ao fim dos seus 10 milhões de anos. Entretanto, novos estudos mostraram que a redução deve ter sido causada, na verdade, por uma nuvem de poeira que a cobriu.

Mesmo assim, considere o seguinte: como Betelgeuse fica a cerca de 725 anos-luz de distância de nós, ela até pode já ter explodido há alguns séculos, só que nós não temos como saber disso ainda porque sua luz levaria pelo menos 725 anos para nos alcançar — as chances disso são de 1 em 4.000. Essa é uma das favoritas quando o assunto são as estrelas à beira da explosão, então, se algum dia observarmos um grande brilho repentino no céu, é possível que o fenômeno tenha ocorrido em algum momento bem distante no passado, mas só agora nos alcançou.

Eta Carinae

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Entre as estrelas que conhecemos na Via Láctea, essa é uma das mais brilhantes delas — ou, melhor dizendo, “essas”, já que Eta Carinae não é uma estrela, mas sim um sistema binário que segue em processo de erupção há algumas décadas, o que resultou na diminuição de sua massa. Localizada na constelação de Carina e catalogada em 1677 por Edmond Halley, Eta Carinae é uma supergigante de 2,5 milhões de anos que brilha com a intensidade de cinco sóis e, por enquanto, não pode ser observada a olho nu durante a noite.

Pode ser que em pouco mais de dez anos, a nuvem de poeira e gás que “esconde” o sistema se dissipe e permita que vejamos seu brilho no céu noturno. Futuramente, quando ela nos proporcionar uma explosão espetacular de supernova, haverá tanta energia liberada que será possível vê-la no céu durante o dia — e, na verdade, como ela está morrendo, isso talvez já tenha acontecido. Entretanto, como a estrela está a 7.500 anos-luz de distância, os efeitos do fim de sua vida podem não ter nos alcançado ainda.

Spica

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Apesar de parecer apenas um ponto de luz brilhante quando observada, Spica (ou Espiga) também é uma estrela bastante brilhante no céu noturno, e foi a escolhida para representar o Pará na bandeira brasileira. Com 12,5 milhões de anos, ela fica na constelação de Virgem a cerca de 260 anos-luz de distância da Terra. Na verdade, essa é uma estrela binária: seu sistema é composto por um par de estrelas, onde uma delas é massiva, com massa equivalente a dez a do Sol, enquanto sua companheira é um pouco menor, e tem cerca de sete vezes a massa do nosso Sol.

A estrela primária do sistema está no meio-termo entre uma subgigante e gigante na escala evolutiva; então, como ela é bastante massiva, Spica A é uma boa candidata a uma das estrelas mais próximas da Terra com massa suficiente para já ter encerrado sua vida em uma explosão de supernova do tipo II.

IK Pegasi

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Esse é um sistema binário de estrelas interessantes, que fica na constelação do Pégaso, a 150 anos-luz de distância daqui. Uma delas, IK Peg A parece ser do tipo A, ou seja, mais massiva, quente e maior que o Sol. Devido à sua massa, é esperado que ela já esteja no fim de sua vida. Ela é acompanhada pela IK Peg B, uma anã branca mais massiva do que se esperava para este tipo de estrela — as anãs brancas são o núcleo que sobra depois que estrelas como o Sol perdem suas camadas mais externas.

IK Peg A seguiu fundindo o hidrogênio em hélio assim como o Sol, mas seu destino envolve se tornar uma gigante vermelha, de modo que o material de IK Peg A vai fluir para sua companheira anã branca. Este processo causa um acúmulo de matéria que, em algum momento, resulta uma supernova bem pouco pacífica, capaz de liberar, em questão de segundos, a mesma quantidade de energia que o Sol vai liberar em toda a sua vida. Como o sistema todo já tem idade bastante avançada, isso pode muito bem já ter acontecido — só que essa luz ainda não chegou até nós.

Fonte: Universe Today, Starts With a Bang, Bad Astronomy, National Geographic, HubbleSite