Publicidade

Água salgada está "apagando" registros do passado de Marte, marcado em minerais

Por  • Editado por  Patricia Gnipper  | 

Compartilhe:
NASA/JPL-Caltech
NASA/JPL-Caltech
Tudo sobre NASA

Já sabemos que Marte foi bem diferente do planeta árido e frio que encontramos hoje. No passado, o Planeta Vermelho teve água em sua superfície, com direito até a sistemas de lagos — inclusive na cratera Gale, onde o rover Curiosity segue explorando desde 2012. Contudo, as mudanças do clima por lá fizeram com que a água líquida desaparecesse. Agora, cientistas da missão do rover descobriram algumas evidências que podem ajudar a entender onde estão os melhores registros geológicos do planeta e, quem sabe, sinais de antigas formas de vida, se tiverem existido.  

A cratera Gale é formada por várias camadas de rochas que nunca foram perturbadas. Como os minerais guardam evidências dos momentos que se formaram, a cratera é um ótimo lugar para a busca de evidências do histórico do nosso planeta vizinho. Assim, com o instrumento CheMin (Chemistry and Mineralogy) do rover Curiosity, os cientistas compararam amostras obtidas de duas áreas a 400 m de uma camada de argila que foi depositada há bilhões de anos no fundo da cratera. Como resultado, tiveram uma surpresa.

Canaltech
O Canaltech está no WhatsApp!Entre no canal e acompanhe notícias e dicas de tecnologia
Continua após a publicidade

Ao analisar as amostras, eles descobriram que metade dos minerais que esperavam encontrar em uma das áreas simplesmente não estava lá — havia somente fragmentos de argila ricos em óxido de ferro, o composto que dá o tom avermelhado característico de Marte. “Pensávamos que, quando essas camadas de argila se formaram no fundo do lago da cratera, elas ficaram imutáveis e preservaram o momento da formação por bilhões de anos”, comentou Tom Bristow, principal investigador do instrumento. 

Os cientistas já sabiam que fragmentos, que apareceram nas duas áreas, deveriam ter a mesma idade, mas o que não ficou claro era o motivo pelo qual os minerais e as evidências deles desapareceram enquanto o Curiosity explorava os depósitos de argila. A explicação pode estar na diagênese, um processo já abordado em estudos anteriores, de modo que é possível que salmouras formadas posteriormente tenham fragmentado a argila e mudado os registros que deveriam haver nas rochas. 

Para entender como isso acontece, precisamos voltar ao passado de Marte. Os lagos da cratera Gale secaram, mas, mesmo assim, ainda havia água na região — só que ela estava sob a superfície. Esta água subterrânea se manteve em movimento, dissolvendo e transportando compostos que, depois, “encontraram” grupos de argila. Esses grupos interagiram com a água, que acabou alterando os minerais presentes neles. Por isso, a diagênese é um processo que pode apagar e até alterar o histórico do solo. 

A equipe comparou os detalhes dos minerais de ambas as amostras e, no fim das contas, concluiu que o fluxo “filtrante” que a salmoura seguiu através das camadas sedimentares sobrepostas foi o responsável pelas mudanças. Além disso, ao contrário da água relativamente doce que havia no lago quando os fragmentos de argila se formaram, a salmoura pode ter vindo de outros lagos, nativos de algum ambiente mais seco. De qualquer forma, os cientistas veem esses resultados como evidências das mudanças climáticas do passado de Marte, além de utilizá-los para guiar com mais precisão os estudos do rover por lá. 

Aliás, os resultados são importantes também para a busca de formas de vida em Marte, porque a diagênese cria um ambiente subterrâneo com excelentes condições para formas de vida microbianas se desenvolveram. “Mesmo que a diagênese apague os sinais de vida no lago original, ela cria os compostos necessários para dar suporte à vida subterrânea”, disse John Grotzinger, co-investigador do instrumento CheMin e co-autor do estudo. Por fim, as descobertas vão ajudar também a equipe do rover Perseverance a escolher as amostras que serão coletadas e trazidas para a Terra

O artigo com os resultados do estudo será publicado na revista Science.

Fonte: NASA