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Crítica Resident Evil: Infinite Darkness | A escolha pela galhofa

Por| Editado por Jones Oliveira | 12 de Julho de 2021 às 18h10

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Divulgação/Netflix
Divulgação/Netflix
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Resident Evil não tem o melhor histórico fora dos games. Apesar dos sucessos financeiros de uma hexalogia que ainda gera repulsa em muitos fãs e três filmes animados competentes, mas que servem mais como um extra do que uma entrada relevante para a série, uma parceria com a Netflix parecia prestes a levar a saga a novas alturas. Infinite Darkness, no original em inglês, que estreou no dia 8 de julho, porém, mostrou que essa festa virou um enterro.

Não é como se os fãs realmente pudessem esperar uma trama superprofunda, afinal de contas, com quatro episódios de 25 minutos cada, há pouco tempo para evoluir um enredo. Entretanto, havia a ideia de que a Capcom, ao lado das produtoras Quebico e TMS Entertainment, fossem se aproveitar do formato para entregar algo diferente. Todos estavam errados, com a produção se provando a mais fraca das quatro animações da série, por larga distância.

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Por outro lado, não é como se ela deixasse de abordar temas relevantes ou eventos interessantes. Por incrível que pareça, eles estão lá, com um ataque zumbi à Casa Branca servindo como porta de entrada para um enredo que envolve política, guerra, relações internacionais e até evoluções interessantes para alguns dos personagens que estão no centro de tudo isso. O maior problema é que tudo isso é deixado de lado em prol de cenas de ação sem ritmo e momentos “massa veio” que, na realidade, têm o efeito contrário.

Resident Evil: No Escuro Absoluto traz um Leon Kennedy (Nick Apostolides, o mesmo dublador do personagem no recente remake do segundo game da série) que ainda colhe os louros indesejados da missão em que salvou a filha do presidente dos EUA. Ele é chamado à Casa Branca para investigar uma invasão aos servidores, com os atacantes em busca de dados sensíveis da missão diplomática estadunidense; rapidamente, a questão se torna mais grave quando um ataque zumbi acontece no local.

A ideia de uma infecção viral, com mortos-vivos dentro da residência oficial do presidente do país, já seria, por si só, suficiente para uma temporada inteira. É algo que remete a alguns dos momentos mais impactantes da saga, mas que na série da Netflix serve apenas como aperitivo para um enredo fraco e vazio, renegado aos primeiros minutos de exibição, no primeiro episódio, e citado poucas vezes depois disso.

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O fato de a Casa Branca estar funcionando normalmente já na manhã seguinte, com a ala contaminada isolada apenas por um aviso de “piso molhado”, demonstra a falta de preocupação com profundidade dos roteiristas de Resident Evil: No Escuro Absoluto. Acredite, era um sinal que estava ali desde o começo e que, ao longo dos quatro episódios, só prova onde está o foco dos produtores de um seriado dos mais frustrantes.

Linhas paralelas apagadas

É nessa situação de aparente placidez, sem que absolutamente ninguém saiba do ocorrido, que aparece Claire Redfield (Stephanie Panisello, também do remake de Resident Evil 2). Ela segue dedicando sua vida e trabalho às vítimas de incidentes biológicos como o que ela própria presenciou, na tragédia de Raccoon City. O desenho feito por uma criança que viu de perto os horrores da guerra no Penamistão a leva à Casa Branca durante uma investigação.

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Todos os caminhos levam ao país fictício, já que, ao lado de Leon, para investigar o incidente cibernético, está Jason (Ray Chase, o Noctis de Final Fantasy XV), o chamado “Herói do Penamistão”. Ele é o sobrevivente de uma incursão atrapalhada no país, seis anos antes, e tenta recuperar sua vida e sanidade enquanto segue trabalhando para o governo, que por si só, está se batendo para lidar com a retirada das tropas do local e lidar com a insurgência que ainda insiste em existir por lá.

Quem lê estas palavras acredita que estamos diante de um enredo político raro para a franquia Resident Evil. Existem, sim, algumas relações com o mundo real e eventos internacionais recentes que podem soar como um sopro de ar fresco até o espectador perceber que nada daquilo será abordado ou explorado; em vez disso, temos cenas de ação toscas a bordo de um submarino rumo à China, explosões que acontecem do nada e elementos exagerados que, na cabeça dos roteiristas, devem ter parecido muito legais, mas acabaram soando fracos e toscos na tela.

Claire, inclusive, é a mais atingida por tudo isso, tendo uma presença completamente apagada e irrelevante. A personagem, uma querida dos fãs, serve apenas para que os produtores possam dar play, repetidas vezes, nos mesmos flashbacks, usando um recurso repetitivo em que novos fatos são adicionados às cenas que já vimos antes a cada nova lembrança — acredite, você vai se cansar de ver o helicóptero explodindo. Depois, ela é simplesmente capturada, em uma forma vazia de amarrar a história e reunir os dois protagonistas.

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Enquanto isso, no lado de Leon, temos invasões de ratos contaminados ao melhor estilo A Plague Tale, explosões que vieram do nada e caminham para o mesmo rumo, e muitos momentos em que o personagem mostra o quanto é legal e habilidoso. O protagonista está, claramente, com os treinos de barra em dia, mas, por incrível que pareça, segue boa parte da trama como um agente em meio às circunstâncias, sem efetivamente levar a história para a frente.

Falta ritmo e foco ao enredo de Resident Evil: Infinite Darkness, que muitas vezes se parece mais com um filme, feito de maneira apressada e partido em quatro, do que uma série. Os produtores não utilizam recursos narrativos que, inclusive, já funcionaram bem em títulos episódicos da série de games, preferindo focar em uma ação que sofre com a baixa qualidade da animação dos personagens.

A série da Netflix é, sim, a mais bonita das quatro produções em CGI da franquia, mostrando uma evolução em texturas, fotografia e direção. Entretanto, deixa a desejar em relação às duas anteriores na movimentação dos personagens, que andam como robôs e, muitas vezes, têm movimentos claramente copiados entre dois personagens, que atuam lado a lado. Quem tiver o olho vivo, inclusive, vai localizar diferentes coadjuvantes reaproveitados, que reforçam ainda mais a impressão de um produto pouco cuidadoso.

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Falta expressão para Leon e Jason, que acabam sendo os pontos centrais da trama, enquanto as batalhas onde eles mostrariam sua habilidade se resumem a momentos rápidos e muitos saltos, bem como câmeras e personagens parados. Chega a ser curioso notar como a série dá um passo atrás nesse quesito, tanto diante da captura de movimentos que realmente aconteceu para No Escuro Absoluto, quanto em relação ao produto anterior, Resident Evil: Vendetta, de 2017.

O pior de tudo é que, no fundo, e debaixo de todo o escombro, ácido e ratos, existem desenvolvimentos interessantes, que nos levam a eventos futuros e até carregam protagonistas adiante. Quem acompanha a série conhece a evolução de Leon, de um escoteiro idealista a alguém desacreditado, sob o peso do dever; e aqui, vemos mais um passo nesse caminho — em pouquíssimas linhas de diálogo e minutos de tela, já que, como dito, a preferência da produção é por qualquer outra coisa.

A trama política continua dialogando com o mundo atual como poucos produtos da série Resident Evil, apesar de estarmos falando de países fictícios e monstros gigantes. Existem ganchos que remetem ao passado e ao seu futuro da franquia de jogos, bem como botões importantes dos personagens sendo pressionados. São elementos periféricos e que caminham ao largo das histórias envolvendo bioterrorismo e tiroteio, que os fãs viram apenas em arquivos de texto e meras citações, mas que compõem os bastidores que, no fim das contas, levam às próprias tramas dos games e aos grandes eventos da saga.

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Nada contra as cenas de ação — elas precisam existir em um produto desse tipo —, mas soa incrivelmente frustrante a ideia de que Resident Evil: No Escuro Absoluto, acaba não fazendo nem um, nem outro. Os momentos de combate e tiroteio decepcionam, as novas armas biológicas não são interessantes e a profundidade do enredo acaba sendo deixada de lado em prol destes dois elementos, não entregando um produto satisfatório a fãs nem muito menos instigante para quem está chegando agora.

Novamente, não é como se os filmes anteriores em CGI fossem um primor de enredo, mas, pelo menos ali, havia certo cuidado na retratação dos personagens, além de uma preocupação em utilizar o que uma mídia diferente tem para oferecer. Resident Evil: No Escuro Absoluto é um passo atrás, em todos os sentidos, menos o visual, algo triste de ver naquele que deveria ser o momento de maior foco e qualidade da série.

Resident Evil: Infinite Darkness foi lançado no dia 8 de julho e está disponível exclusivamente na Netflix. Eiichiro Hasumi (Assassination Classroom: Graduation) dirige os quatro episódios e também assina os roteiros; a série tem Nick Apostolides (Resident Evil 2), Stephanie Panisello (Resident Evil 2), Ray Chase (Final Fantasy XV), Jona Xiao (Hightown), Brad Venable (Devil May Cry V) e Joe Thomas (Astral Chain) no elenco principal.