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Análise | Astral Chain não é Bayonetta, mas é um excelente hack n’ slash

Por| 26 de Setembro de 2019 às 09h21

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PlatinumGames
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Quando a PlatinumGames anunciou que estava trabalhando em Astral Chain, um dos pontos de destaque foi: “dos mesmos criadores de Bayonetta”. Isso coloca o novo game do estúdio já em uma faca de dois gumes.

Por um lado, ganha a projeção de ser uma nova proposta de quem criou um dos melhores títulos do gênero de hack n’ slash da história. Por outro, também mostra que Astral Chain não é o maior projeto da empresa no momento.

As duas afirmações se mostram bastante claras ao se ter o controle na mão. Estamos falando de um game que precisa fazer adaptações para caber no orçamento do estúdio (embora tenha sido financiado pela Nintendo), mas que, ainda assim, tem o esmero e o carinho que a Platinum coloca em suas produções.

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Astral Chain é um belo levantamento de anos de estudo e conhecimento em hack n’ slash sendo aplicados de uma vez. A grande novidade aqui mora no Legion, assim chamado o ser que é acorrentado ao protagonista e que acompanha o jogador nas batalhas.

Isso, de saída, já cria uma mudança bastante curiosa que obriga o jogador a controlar os dois personagens ao mesmo tempo nas batalhas. Com um olho em cada um, é preciso ter muita habilidade manual para conseguir fazer todos os golpes, combos e efeitos que o jogo permite.

Contudo, antes de aprofundar no que é Astral Chain, é preciso conhecer um pouco do passado da desenvolvedora. Permitam uma viagem no tempo para visitarmos as fontes das quais este jogo bebe.

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Histórico

A PlatinumGames é um estúdio criado no pós-2000 com um excelente portfólio. O primeiro grande sucesso da empresa foi Bayonetta, título que trouxe uma série de novos ares para o gênero já batido do hack n’ slash.

Foi a personagem-título estilosa que fez a companhia alçar voos altos e ganhar projeção no mercado. Embora o hack n’ slash seja um tipo de jogo com o objetivo de sair dando pancada em todo mundo, a empresa sempre buscou seguir azeitando cada vez mais os movimentos e adicionando novas camadas à gameplay.

Em 2017, a Platinum conseguiu ganhar projeção novamente com Nier: Automata. O título traz uma personagem robô apelidada de 2B e joga uma discussão existencial profunda no enredo. O ponto aqui não era exatamente a pancadaria ou ação, mas entrar no imaginário de um robô questionando o que é ser humano (sem o clichê típico do tema).

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Aliás, Takahisa Taura, diretor de Nier, também é o responsável por Astral Chain. Por esse motivo, muitas das ideias apresentadas no universo de 2B também são vistas no novo jogo.

O desenvolvimento começou em janeiro de 2017, um momento bastante conturbado para a Platinum. Foi nessa época que a companhia foi avisada pela Microsoft sobre o cancelamento de Scalebound, um projeto gigante de RPG em parceria com mãe do Xbox. Tratava-se de uma ideia muito mais ambiciosa do que a companhia já tinha feito, com um universo medieval cheio de dragões.

Depois que Platinum recebeu a notícia de que o projeto não seria levado adiante, foi hora de apostar em algo menor, dentro de um estilo que ela já conhece. Astral Chain começou a ser desenhado há dois anos e meio e aproveitou algumas mecânicas e ideias de Scalebound. Uma delas é exatamente a jogabilidade com dois personagens ao mesmo tempo.

Ao saber de todo esse passado e como aconteceu o desenvolvimento de Astral Chain, fica mais fácil entender as decisões, acertos e erros deste título. Aqui, a empresa não vai nem tanto para o lado da ação, como em Bayonetta, nem aprofunda nas discussões e narrativa que cria, como em Nier.

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Como a própria 2B, o jogo parece não saber exatamente o que é, nem o que quer ser. Isso acaba por fazer Astral Chain um jogo que engrena somente lá pelas três ou quatro horas com o controle na mão.

Por conta destes dois fatores bastante difusos, vamos separar a análise em narrativa e gameplay para entender melhor o que a Platinum faz de melhor aqui.

Universo 

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Descer a porrada freneticamente o tempo todo cansa. Por isso, entre as batalhas, cai muito bem uma boa dose de narrativa para justificar toda essa violência.

Astral Chain se passa no ano de 2078, em um mundo à beira da extinção da raça humana. Como todo game da Platinum, este mais uma vez se trata de uma sociedade pós-apocalíptica.

O que aconteceu é que nosso mundo foi invadido por seres de outra dimensão, chamados de quimeras. Eles pegam as pessoas, as levam para este outro plano astral, corrompendo suas mentes e as transformando também em quimeras ou outros seres monstruosos. Importante é entender que uma quimera ainda é um ser transformado. Guarde esta informação, ela será importante mais adiante.

Para evitar a morte completa da raça humana, um grupo foi levado para uma ilha fictícia chamada The Ark. Lá, eles sobreviveram graças à Neutron, força policial capaz de ver e combater as quimeras.

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Para conseguir se defender, um grupo de cientistas aprisionou algumas destas quimeras para usá-las como arma de combate contra a sua própria espécie. O conjunto de armaduras e coleira para domar essas feras é que é chamado de astral chain (corrente astral, em tradução livre). Quando aprisionado, estes seres ganham o nome de Legions.

Conseguiu acompanhar? Um mundo complexo, convenhamos.

O universo criado em cima disso é bem interessante e cativa pelas histórias das pessoas que sobrevivem aqui. A cidade é um misto de ambiente high tech com regiões subdesenvolvidas que foram atacadas pelas quimeras.

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Você joga com um dos dois irmão gêmeos, filhos do capitão de polícia Hal. O ponto positivo é que esta é a desculpa do jogo para que você possa escolher entre uma personagem feminina ou masculina.

Como a narrativa gira em torno do desenvolvimento dos dois irmãos, também policiais, quando você escolhe um, o outro também tem uma série de funções a desempenhar.

Contudo, Astral Chain escolhe por dar opções de personalização ao jogador, como cor de pele, cabelo, olhos e até a vestimenta de policial. O ponto negativo disso é que seu personagem acaba por se tornar o protagonista mudo, mesmo que ambos personagens tenham vozes gravadas.

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Essa escolha por não dar voz a quem você escolheu também cria uma curiosa situação em que o jogo parece ser mais sobre seu irmão do que sobre o protagonista de fato. Em se tratando de um título com estética de anime em 3D, a voz é parte essencial para dar vida, sentimentos e força para o personagem.

O resultado é que seu irmão ou irmã se torna alguém com muito mais carisma que você.

Desenho

Em se falando de anime, Astral Chain mergulha em uma fonte de inspirações do universo de HQs e mangás. Parte disso se dá por conta de Masakazu Katsura, principal artista do jogo. Ele é mangakai e já trabalhou em estúdios como o de Dragon Ball. Por esse motivo, os personagens têm essa carinha que lembra os traços de Akira Toriyama.

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É possível ver também que muito de Neon Genesis Evangelion foi usado aqui. O cientista chefe da empresa de pesquisas que criou o sistema de aprisionamento das quimeras tem os trejeitos iguais de Gendo Ikari de Evangelion. Até mesmo os nomes e a ideia de um inimigo aprisionado sendo usado como arma parecem ter vindo da série.

Já a ambientação da cidade foi inspirada em Ghost In The Shell, confirma o artista em entrevista.

Astral Chain, como já citado, não é um jogo de grande orçamento, nem de muito tempo de desenvolvimento para um mundo enorme. Por esses motivos, tanto personagens como quimeras podem não ter lá os melhores dos acabamentos. É visível que há arestas a serem aparadas, o que foi transformado em estilo.

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Mesmo assim, ainda é fascinante como há ambientes, cidades e locais com uma direção de arte incrivelmente interessante. Existem setores da Ark, principalmente nas zonas mais ricas, em que há bastante detalhe em regiões que podem ser visitadas.

Para que eles conseguissem criar ambientes tão detalhados assim, foi preciso uma contrapartida. O plano astral é somente um ambiente vermelho repetitivo com rochas que flutuam, algo bem pouco interessante no final das contas.

Ação

Bom, mas vamos ao que a Platinum sabe fazer de melhor: hack n’ slash. Dar porrada em Astral Chain é algo muito satisfatório como é em Nier, Bayonetta e outros games da desenvolvedora.

O ponto de interesse é, claro, o controle do Legion. Quando você chama esse personagem para a luta, ele basicamente começa a atacar sozinho, sendo que é preciso apenas coordenar o posicionamento e defesa.

Uma decisão boa é que o Legion não consegue ficar por muito tempo no nosso plano. Por isso, é preciso ficar de olho em uma barrinha de estamina para que ele não fique fraco. Isso obriga o seu personagem a também entrar nas lutas e não só esperar o Legion resolver tudo.

Outra opção legal é que há várias formas de interagir com ele dentro e fora da luta. Por exemplo, como vocês ficam ligados pela corrente, é possível prender os inimigos caso seu Legion dê uma volta completa neles.

Fora das batalhas, você também conta com essa corrente para acessar lugares, sendo puxado pelo Legion, e tem habilidades especiais para resolver os desafios.

Tudo isso cria um gameplay bastante profundo e complexo, que pode exigir horas e horas até ser realmente compreendido e aprimorado. A contrapartida disso é que Astral Chain não é um jogo para quem não está habituado a videogames.

Veja bem, não que ele seja exatamente difícil (no nível médio, chamado de casual, as batalhas trazem pouco risco), mas há uma lista bastante grande de botões que precisam ser apertados juntos e com tempos específicos. Tudo isso, controlando dois personagens simultaneamente.

Ou seja, se alguém com anos de controle na mão pode se embananar com os botões, um novato certamente vai ficar perdido.

No fim, a realidade é que Astral Chain oferece muito mais ferramentas que você vai querer usar no jogo normal. A verdade é que isso tudo funciona mesmo para quem encara o modo mais difícil.

Aqui, há rankings com notas no final de cada batalha, ao melhor estilo Bayonetta e Devil May Cry, estimulando o jogador a variar golpes e habilidades para conseguir a melhor pontuação possível.

Caso você opte pelo modo normal, talvez vá esmagar o mesmo botão e fazer algumas poucas variações de golpes nas batalhas.

Cadência 

Apesar de muito bem refinado e criado, Astral Chain peca bastante no ritmo da história. A narrativa é dividida em casos de polícia que envolvem o aparecimento de quimeras.

Cada um deles tem uma estrutura fixa de três atos. Primeiro, você precisa ir à cena da ocorrência e investigar pistas. Por exemplo, usar seu Legion para ouvir conversas, ou analisar o ambiente com o sistema chamado de IRIS (o modo de visão ampliada) e levantar dados que podem ajudar a solucionar o problema.

Nesse momento, há uma infinidade de side quests que podem ser feitas e que resultam em informação para o caso. A ideia é que o jogador perca um tempo explorando o ambiente.

Depois de entender tudo, há uma primeira batalha e, geralmente, uma perseguição. É nesse segundo ato que você conhece a quimera que precisa enfrentar.

Por fim, o último ato acontece com o jogador indo para o plano astral. O problema é que esse lugar é muito desinteressante e conta com uma série de áreas com puzzles e pulos em plataforma. Com pequenas variações, todos os casos do jogo seguem esse arco de três atos.

O principal problema de ritmo de Astral Chain, entretanto, são os tutoriais, que fazem o jogo se estender mais do que precisa. O game constantemente explica de novo e de novo a mesma coisa, até quando você já fez os tutoriais.

Em uma determinada parte, já bem avançada na história, surge um popup ensinando um movimento bastante simples que tive de usar para passar uma área anterior. Logo, era bem óbvio que, naquele momento do jogo, eu já deveria saber daquilo.

Pela quantidade de ações que o jogador pode fazer, o jogo também peca pelo excesso de momentos de explicação.

O problema mais sério acontece no caso três. Logo após um evento bastante marcante da narrativa, o jogador volta para a delegacia. Em tese, é um momento pesado por conta dos acontecimentos anteriores. Porém, a gameplay obriga você a fazer todos os tutoriais (cerca de 10 deles) de luta e movimentação para seguir. Isso com três horas de jogo.

Nesse momento, uma das policiais resolve que é hora de fazer um tour com você pela delegacia. Assim, você é obrigado a ir sala por sala e ver cenas que explicam o que cada uma daquelas pessoas fazem e podem oferecer ali dentro. É uma péssima quebra no ritmo de jogo para quando você já está tão avançado.

A impressão que dá é de que isso fazia parte dos primeiros minutos de Astral Chain, mas que testes de usuário mostraram que a retenção seria extremamente baixa. Assim, o jogo começa em uma frenética batalha de moto, que já explica comandos, ações e possibilidades que serão revisitados nos tutoriais lá na frente.

Outro exemplo feio disso acontece no caso 5 do game, já com umas 8 horas de gameplay. A narrativa precisa que você tenha alguns conhecimentos que estão em documentos no seu menu. Por isso, obriga você a sentar e passar o olho por 11 arquivos de texto bastante volumosos, sendo que essas informações poderiam estar diluídas em cutscenes ou nos casos, por exemplo.

Tudo isso para uma triste impressão de que o jogo acabou saindo menor do que o esperado. Logo, foi preciso adicionar algumas decisões para prolongar o gameplay. Afinal, se uma pessoa comprou o jogo, ela quer ter motivos para continuar com o controle na mão.

O ponto é que o fator replay não é bem executado aqui. Ele até deixa uma série de atividades que só podem ser completadas se você voltar àquela fase novamente. Contudo, cada caso demora bastante, entre 40 minutos a uma hora, tornando desinteressante passar por tudo isso novamente apenas para melhorar sua pontuação.

Ou seja, ele se espelha em games como Bayonetta e Devil May Cry, mas não vai até a página dois de fazer o hack n’ slash com ferramentas fáceis de se aprimorar.

Elefante branco

É preciso falar de algo importante sobre os Legions em Astral Chain. Lembra que falei que, em tese, eles são pessoas ou seres que foram transformados em monstros pela corrupção das quimeras?

Pois bem, é claro que eles não querem fazer parte daquele trabalho e estão sendo aprisionados em um sistema bastante próximo ao de escravidão. Em todas as oportunidades que têm, os Legions tentam se desgarrar das correntes.

Essa é uma bola que o jogo levanta, mas não corta. Os diretores disseram, em entrevistas, que não havia intenção de discutir, dentro do jogo, a utilização de um personagem como um escravo e arma para o bem maior.

É aí que ele fica aquém de Nier: Automata. Como um game menor, cria uma série de discussões do seu universo, mas não avança a discussão em nenhum deles. Um ponto triste para um mundo tão rico como aquele.

Vale a pena? 

Apesar de todos os deslizes de ritmo e decisões por conta de um jogo menor, Astral Chain é um dos melhores jogos para o Switch do ano. Ele é muito bem-acabado e conta com um zelo bastante interessante da Platinum em vários dos detalhes.

Se você é um amante dos já citados Nier, Devil May Cry e Bayonetta, pode ir sem medo que este será bem-vindo à sua lista de hack n’ slash.

Embora nada muito inovador, o sistema de controle dos dois personagens é bem interessante e cria bastante possibilidades a serem exploradas. Ainda, vale lembrar que é possível fazer um multiplayer cooperativo com os joy-cons. Aqui, um jogador controla o policial e outro o Legion.

Astral Chain foi desenvolvido pela Platinum e lançado exclusivamente para o Nintendo Switch em 30 de agosto. Esta análise foi feita com uma cópia cedida gentilmente pela Nintendo.