O que é um filme screen life?
Por Laísa Trojaike • Editado por Jones Oliveira |
Por muito tempo, fazer um filme significava posicionar uma câmera diante de algo e gravar, com possibilidades que iam do amador ao profissional. A exceção sempre foi a animação, que usa outras técnicas para colocar imagens em movimento. Em seu princípio, lá no finalzinho do século XIX, o cinema não poderia prever que o futuro traria objetos sofisticados, como computadores e celulares, que ajudaram a ampliar as possibilidades de formatos visuais.
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O screen life, assim como o found footage, é um recurso narrativo, um formato escolhido pela equipe criativa de um filme para contar uma história. A escolha do formato também irá determinar nosso acesso à informação, permitindo que o diretor explore outras formas de construir tensão ou revelar um mistério, por exemplo.
Conforme indica o nome em inglês, o recurso mostra a “vida” através da “tela”, ou seja: tudo o que acontece na trama é visto como se estivéssemos diante de um dispositivo (computador, celular, tablet…) ou espionando a vida de alguém, espelhando seu dispositivo em nossas telas. No filme screen life, não vemos quem está acessando o sistema, a não ser que a câmera do aparelho esteja ligada — e mesmo nesses casos temos a visão dos acontecimentos limitada pela qualidade da webcam, pela iluminação, pelo ângulo ou mesmo pelas falhas da internet.
No cinema, temos dois exemplos bastante populares de filme screen life, e claro que um deles é do terror, o gênero mais sedento por recursos de baixo orçamento que podem ser potencializados pela criatividade dos artistas. Amizade Desfeita é o título mais citado quando o assunto é screen life justamente por ter sido o responsável pela popularização do formato, também chamado de computer screen film ou desktop film.
No filme, temos acesso apenas à sala de reunião da chamada de vídeo e, a partir disso, vemos os eventos se desenvolverem, enquanto os amigos se desesperam via internet. O formato foi bastante lembrado no início da pandemia, quando as produtoras viram no screen life a oportunidade de gravar mesmo no distanciamento, com os atores no conforto das suas casas. Embora não seja da franquia Amizade Desfeita, outro terror, Host, colocou essa ideia em prática e imprimiu o isolamento de 2020 na sua história.
É em um suspense dramático, no entanto, que encontramos o melhor exemplar de screen life já feito até o momento. Enquanto o terror aproveita o formato para que os personagens vejam seus amigos morrendo sem poder fazer nada para ajudar, o excelente Buscando... usa o screen life para mostrar um pai-solo tendo que se virar sozinho com as tecnologias e com a internet para encontrar sua filha desaparecida. Como tudo o que vemos é o que acontece na tela, o filme nos incentiva a prestar atenção nos detalhes e a pensar sobre as informações privadas que pensamos em soltar na internet.
O filme todo é como se você estivesse assistindo a um computador ou outro dispositivo semelhante funcionando sozinho? Então você provavelmente está diante de um screen live, o que também pode significar um convite para ocupar o lugar do protagonista, refletindo sobre si mesmo no contexto daquela trama, como acontece em diversas histórias contadas em primeira pessoa.