O que é um filme found footage?
Por Laísa Trojaike • Editado por Jones Oliveira |
Imagine que você está caminhando em alguma trilha e, de repente, encontra uma fita VHS. Sob influência da curiosidade, você recolhe a tal fita e leva para casa. Quando coloca no aparelho (supondo que você tenha um) descobre que é o último registro do desaparecimento de alguma pessoa que foi devorada por zumbis. O found footage nada mais é do que isso, uma gravação (footage) encontrada (found). Mas pra quê serve isso no cinema?
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Se estivermos falando do gênero terror (e formos bastante generosos), podemos entender o found footage como um subgênero. Entretanto, ao falarmos de cinema de maneira mais geral, o found footage passa a ser entendido muito mais como um recurso narrativo, apenas uma forma de contar uma história. Esses filmes criam a ilusão de que estamos assistindo a um material encontrado por acaso, um achado, como é o caso do sempre citado A Bruxa de Blair, que continua sendo o melhor exemplo para entendermos esse formato.
Como assim parece real?
Quando estreou em 1999, grande parte do sucesso de A Bruxa de Blair surgiu como consequência do formato (utilizado com esmero pelos diretores Daniel Myrick e Eduardo Sánchez). O filme mostra um grupo de jovens documentaristas fazendo o trabalho de investigar o mistério que envolve uma floresta e as lendas de que uma bruxa habita o local.
Na época, a câmera de vídeo portátil já era uma alternativa relativamente barata e que possibilitava as pessoas fazerem registros domésticos com uma qualidade razoável. A baixa qualidade das imagens, principalmente se posta ao lado dos padrões atuais, não é exatamente um empecilho para quem está fazendo um suposto documentário e está procurando por um registro visual que não exige resolução 4K, como é o caso dos protagonistas dessa obra.
Assim, com uma equipe minúscula e um orçamento de apenas US$ 60 mil, A Bruxa de Blair se tornou um fenômeno através da simplicidade das gravações, que aproveita a estética crua das imagens amadoras para aumentar a ilusão de veracidade do que estamos vendo. O resultado foi uma tremenda lenda urbana internacional, segundo a qual as imagens do filme eram reais. A comoção tomou proporções tão grandes que a mãe da atriz chegou a receber mensagens de condolências enviadas por fãs que confundiram a personagem com sua filha.
Filmes found footage como este geralmente têm um trabalho de direção que tenta apagar qualquer traço de interferência externa, tentando criar falsas imagens documentais ou, para deixar um pouco confuso, falsas “imagens reais”, o que dá muito conteúdo para os especialistas refletirem sobre o assunto.
Raiz
O primeiro found footage considerado relevante para a história do cinema é o italiano Holocausto Canibal (1980), de Ruggero Deodato. As polêmicas envolvendo o filme vão desde crueldade com animais a acusação de assassinato, com o filme chegando a ser proibido em diversos países. O diretor chegou a ser acusado de assassinato e precisou provar para a corte como as imagens do filme haviam sido construídas e, claro, os atores acabaram aparecendo, provando que estavam vivos.
A produção que consegue enganar o público a ponto de se passar por real muito provavelmente ganha um passe livre para o hall das obras-primas do formato e, claro, não é muito fácil causar esse afeito, apesar de parecer que é apenas “filmado de qualquer jeito”.
Não confundir com…
Snuff — Este é um dos gêneros com mais tabus (e lendas) do cinema e o motivo é bastante simples: qualquer filme snuff é um crime, porque promove mortes reais com fins lucrativos e para entretenimento. Enquanto a maioria (?) defende que uma indústria cinematográfica snuff é uma lenda urbana, muitos filmes usam a ideia como parte da trama, como é também o caso de Pânico 4. Quando o diretor de Holocausto Canibal foi acusado de ter matado os atores, ele consequentemente estava sendo acusado de produzir um filme snuff, o que significa que seu terror foi realmente excelente para a época, com um gore chocante o suficiente para causar tudo isso.
Screen Life — Com a popularização da internet e dos dispositivos móveis ficou cada vez mais difícil encontrar fitas VHS perdidas no mato e, agora, os fantasmas precisam lidar com reuniões virtuais. Quando estamos assistindo ações que acontecem na tela de um computador, é como se estivéssemos espionando o computador de alguém, o que nos distancia da ideia de uma “gravação encontrada”. Se quiser saber um pouco mais sobre este outro formato, temos um artigo que pode ser acessado clicando aqui.