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Mundo Mistério | Episódio 5 traz a questão: e se os zumbis fossem de verdade?

Por| 12 de Setembro de 2020 às 21h00

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Reprodução/Netflix, Edição/Canaltech
Reprodução/Netflix, Edição/Canaltech
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A Netflix lançou uma série com o Felipe Castanhari, do Canal Nostalgia, chamada Mundo Mistério. Tendo isso em mente, o Canaltechentrevistou o youtuber e agora está fazendo um especial, trazendo à tonas partes mais científicas e tech de cada um dos episódios. No quinto episódio, a série aborda algo que vem conquistando um grande espaço na cultura pop, e protagonizaram filmes, séries, clipes e até mesmo videogames: os zumbis. A premissa é a seguinte: é possível existir zumbis?

Em conversa com a nossa equipe, Castanhari conta um pouquinho sobre os desafios por trás desse episódio específico: "Em termos de edição, o episódio cinco foi bem delicado, porque eu queria ter utilizado de vários trechos de filmes, séries, músicas, videoclipes, jogos... a ideia era fazer um episódio que contemplasse todo esse material, mas infelizmente a gente teve muito problema na hora de conseguir os direitos desses materiais e acabou ficando muito caro a gente conseguir licenciar tudo. Então a gente teve que se virar com o tema da maneira que a gente podia", relembra o youtuber.

No episódio, o zelador Betinho (Bruno Miranda) vê um projeto pra lá de suspeito sendo feito pela cientista Dra. Thay (Lilian Regina), e tem um palpite: acha que ela está tentando criar um zumbi. Isso leva Castanhari a, com a ajuda da inteligência artificial Briggs (Guilherme Briggs), refletir a respeito de como a ciência traz a possibilidade da existência de zumbis na vida real.

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Zumbis da ciência

"A associação que é feita na série com a estratégia ecológica que existe, tanto do parasitismo, quanto do parasitoidismo, é interesse e factível de um determinado ponto. A analogia feita com os zumbis seria relacionada às estratégias que existem na natureza de interações entre espécies, que podem ser entre fungos e invertebrados, mas também entre outros parasitas", aponta Marta Fischer, bióloga e professora do curso de Ciências Biológicas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), dona do blogBioética no Dia a Dia.

A especialista menciona um fungo que é apontado na série como uma dessas formas da ciência chegar o mais próximo possível do que entendemos como zumbi: o entomophthora muscae "É um fungo dentre tantos outros que usam animais para poder se reproduzir. Esse fungo cresce dentro de um animal, que no caso do episódio é mostrada a mosca, mas pode ser qualquer invertebrado, e em um determinado momento da reprodução o fungo vai liberar seus esporos. Isso é muito conhecido pela ciência, tanto que já se usa essa estratégia como controle biológico em lavouras", explica Marta.

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Outro aspecto científico que se aproxima com o processo de "zumbificação" é a estratégia da vespa-jóia que, antes de morrer, precisa depositar os ovos dentro do corpo de outro animal. A tarefa da mãe vespa é procurar um animal que servirá de alimento, colocá-lo em uma toca e depositar o ovo ali dentro. "Essa interação é chamada de parasitoidismo. Para que esse outro animal não se movimente e fique ali até o ovo desenvolver, a larva nasce dentro desse corpo, vai crescendo e se alimentando do animal vivo até estar pronta para eclodir", diz Marta. O episódio mostra o caso em uma barata, mas a professora explica que existem também em aranhas: as vespas podem arrancar as pernas de uma aranha para ela não se movimentar ou paralisar suas patas e deixá-la imóvel.

A professora reitera que cada vez mais os estudos têm observado que o parasita consegue alterar o comportamento de seu hospedeiro para justamente fazer com que ele entre no ciclo. Um exemplo é o do caramujo zumbi, que vive no rio, na água, e é infectado por um nematoide (verme). "Só que para fechar o ciclo, o nematoide precisa entrar no corpo de uma ave, e acaba sendo muito difícil para a ave comer o caramujo que fica escondido na folhagem. O nematoide acaba alterando o cérebro do caramujo fazendo com que ele, em determinado momento, tenha uma vontade gigantesca de subir até o topo da árvore para ficar exposto. A larva sobe até os tentáculos do caramujo e começa a movimentar ele, para chamar atenção da ave, para que se alimente do caramujo e feche o ciclo", explica Marta.

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Parasitas

Outra questão apontada pela professora é a toxoplasmose, que é um parasito naturalmente do felino e do rato, mas traz sérios problemas para o ser humano, principalmente em relação ao comprometimento da visão. Algumas pesquisas têm mostrado que as pessoas que têm toxoplasma parecem que têm menos medo e se expõem mais a situações de risco. O efeito, na prática, é o seguinte: rato normal, por exemplo, tem muito medo de andar entre os lugares e normalmente se esconde e não se expõe, mas os ratos infectados perdem a noção do medo e não reagem ao cheiro da urina do gato, pelo contrário, se coloca em risco para que o gato possa comê-lo.

"Sobre essa questão dos parasitas, há estudos de outras áreas da biologia, como por exemplo, a identificação de animais que se perdem e aparecem em costas marítimas (baleias, pinguins etc) e que estão muito contaminados por parasitas. Nesses casos, é possível que o parasita altere o senso de orientação e façam com que eles acabem se perdendo", explica a bióloga.

A professora acrescenta que se pensar sob essa ótica, esses animais estão em um estágio entre o vivo e o morto motivados por algum agente, que pode ser o fungo ou qualquer outro parasita, que vai fazer com que o animal não tenha um domínio da sua existência como um todo, mas que no caso dos animais, não é preciso infectar o outro ou depender da energia do outro para se manter vivo.

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"Existem semelhanças e diferenças substanciais. O mais incrível da natureza, de animais vivos e mortes, são os animais que têm uma capacidade muito grande de ficarem mortos estando vivo (processo chamado de criptobiose). O animal abaixa o seu metabolismo a um nível mínimo, que qualquer tipo de detecção de vida não detecta, mas se as condições voltarem ao normal, o animal volta a vida", conclui a professora.

Zumbis: uma possibilidade?

O episódio da série se encerra respondendo a questão: zumbis podem existir? Apesar desses aspectos científicos que se aproximam da ideia do que temos de zumbis graças às obras de ficção, a grande prova de que a existência dos zumbis é impossível está na maneira com que eles infectam os humanos, porque os mortos-vivos estão em decomposição e mal conseguem caminhar direito, o que impossibilitaria de chegar até sua presa, e muito menos encontrar tempo e força para mordê-la.

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E mais ainda: os zumbis sequer conseguiriam se mover, porque não possuem tendões, ossos e músculos em bom estado. Outra coisa é que os zumbis dos filmes e das séries gostam de consumir carne humana, mas eles não têm metabolismo, e a carne consumida ficaria apenas apodrecendo em seu interior, sem ser transformada em energia.

A primeira temporada de Mundo Mistério já se encontra disponível no catálogo da Netflix, com direito a oito episódios.