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Crítica | Um Brinde ao Natal: muito tempo e pouco desenvolvimento

Por| 22 de Dezembro de 2020 às 21h30

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O final do ano é aquela época em que todo mundo fica super sentimental e resolve abrir o coração para os amigos e familiares, planejando diversos discursos de gratidão, desculpas ou um simples desejo de um ano novo melhor. Esse emocionalismo típico acaba dando uma boa margem para os estúdios usarem e abusarem dos mais exagerados clichês nas comédias românticas, dando um leve toque natalino e voilá: mais um filme para a lista de maratona de Natal dos fãs do gênero.

Com todo mundo em casa, a Netflix não economizou nos títulos do tema. Em novembro, a plataforma de streaming já se despedia do catálogo de Halloween e abriu espaço nas prateleiras do catálogo para o romance embaixo do visco, as belas paisagens na neve e os beijos desesperados para quando o relógio marcar meia-noite no dia 31 de dezembro. Entre erros (Amor com Data Marcada e Sintonizados no Amor) e acertos (Dash & Lily e Uma Invenção de Natal) a empresa disponibilizou recentemente um filme que se não se encaixa nem no bom e nem no ruim, ocupando uma posição medíocre no catálogo: Um Brinde ao Natal.Surpreendentemente, o filme permanece no Top 10 da Netflix de filmes mais vistos do Brasil há pelo menos uma semana.

Atenção! A partir daqui esse texto contém spoilers do filme Um Brinde ao Natal. Leia por sua conta e risco.

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Com um enredo que parece ter sido tirado diretamente de uma fanfic, Um Brinde ao Natal é aquele tipo de filme que não tem absolutamente nada de novo para mostrar, e o sucesso talvez seja justificado por conta da trama que, por mais batida que seja, funciona com os fãs de clichê. A história marca a estreia de Shaun Paul Piccinino (que possui um currículo enorme como dublê) e acompanha o playboy Joseph (Josh Swickard) que é a própria personificação daquele cara que nunca trabalhou na vida porque, de fato, nunca precisou. Com um rostinho bonito, físico padrão, dinheiro no bolso e todos os luxos da vida sendo lhe dado de mão beijada, o protagonista possui zero desenvolvimento nas primeiras cenas, mas a verdade é que não é necessário: o filme realmente quer que o espectador leve o famoso ditado "a primeira impressão é a que fica" como parte da experiência.

Joseph é herdeiro (piadas à parte) de uma grande empresa familiar, que logo nos primeiros dez minutos do filme exige do mocinho o cumprimento de uma grande tarefa corporativa: ele precisa convencer Callie (Lauren Swickard, que também assina o roteiro), atual dona de uma enorme fazenda afundada em dívidas na Califórnia, a vender as terras da família por uma altíssima quantia de dinheiro. A missão, que parece ser fácil, possui alguns obstáculos, afinal a jovem não quer desfazer do local em que viveu durante sua infância inteira, mas vive no impasse de não conseguir pagar as contas.

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Logo no primeiro encontro do casal protagonista, Joseph possui a brilhante ideia de fingir ser o ajudante da fazenda que Callie contratou recentemente. Desse modo, segundo o plano bolado em menos de dez segundos, ele pode criar uma certa intimidade com ela a ponto de convencê-la a vender a fazenda para a empresa de sua família, sem revelar sua identidade. É claro que na cabeça dele não há a menor condição dele se apaixonar pela fazendeira, afinal ele possui um coração de pedra em que a hipótese de se envolver emocionalmente com qualquer outra mulher é fora de cogitação.

É claro que essa situação, se bem desenvolvida, funciona. Um dos clássicos de romance Um Amor Para Recordar (2002) parte exatamente dessa premissa de juntar o Bad Boy com a Princesinha e de repente a protagonista age como uma clínica de reabilitação para homens desvirtuados e a mais breve convivência de ambos transforma o rapaz em outra pessoa, diferente da qual ele foi durante toda a sua vida. Esse tipo de enredo, além de já ter sido reaproveitado de diversas maneiras ainda reforça o estereótipo de que mulheres "consertam" homens errados, criando uma enorme ilusão para meninas adolescentes cuja educação emocional ainda está sob desenvolvimento.

Não demora muito para Joseph e Callie começarem a se conhecer melhor e criarem uma proximidade, afinal, passam muito tempo juntos trabalhando na fazenda. O romance logo passa a tomar conta da tela rendendo diversas cenas com inúmeros beijos apaixonados e até muito mais íntimos entre o casal, que inclusive, também formam um par romântico fora das telas graças ao filme Roped (2020), que também estrelaram juntos. A química real até ajuda um pouco os personagens principais na troca de olhares e emoção nítida de um namoro recentemente iniciado, mas não sustenta as quase duas horas de filme que vêm pela frente.

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Os personagens coadjuvantes servem muito mais como uma escada para o fechamento do arco do casal protagonista, com qualquer ação, fala ou o menor do desenvolvimento sempre girando em órbita de ambos os personagens. Callie possui uma mãe com câncer, mas a relação entre as duas é pouco explorada e o assunto acaba vindo à tona quando é conveniente para a evolução do relacionamento com Joseph. O mesmo acontece com sua irmã mais nova e um ex-namorado problemático que faz poucas, mas pontuais aparições no filme.

Além disso, Um Brinde ao Natal não é necessariamente um filme de Natal; e isso não tem nada a ver com o clima quente ou a ausência da neve, afinal, esses elementos não afetaram outros longas da Netflix, como Tudo Bem No Natal Que Vem e Missão Presente de Natal. O enredo não depende e nem gira em torno do feriado uma única vez, tornando-o praticamente dispensável, mas dando a mensagem errada ao incluí-lo no título tanto em português quanto o original (A California Christmas, de acordo com a distribuição oficial).

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Além disso, o filme não se preocupa uma vez sequer em apresentar o território em que a fazenda, que acaba tornando-se o cenário principal da trama, acontece. Wine Country é localizada no norte da Califórnia e carrega uma fama global em ser uma região vinícola de primeira categoria, mas o roteiro e a direção lembram dessa característica apenas nos quinze minutos finais da produção, em que o vinho produzido pela fazenda acaba tornando-se o salvador de todos os problemas de dívidas e até do romance de Callie e Joseph, deixando o espectador com a impressão de que não prestou atenção em algo no filme inteiro.

Um Brinde ao Natal não entrega nada de novo e pode se tornar cansativo devido ao pouco desenvolvimento e longa duração. Dispensável da maratona de filmes natalinos, o título está disponível na Netflix.